Uma manifestação realizada na última quinta-feira (03/10) em Viena reuniu cerca de 25.000 pessoas, segundo os organizadores, em protesto contra a possível formação de um governo federal com a participação do partido de extrema direita FPÖ. As informações são do jornal austríaco Die Presse.
A Donnerstagsdemo, como é chamada, começou na Universidade de Viena e terminou em frente ao Parlamento, após percorrer o centro da cidade. O ato retoma a tradição de manifestações de quinta-feira que ocorriam no início dos anos 2000, quando o FPÖ participou de uma coalizão com o conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP), liderado por Sebastian Kurz.
Com cartazes como “Zwickl em vez de Kickl” (em referência a uma cerveja em vez de Herbert Kickl) e “O chanceler do povo é tão 1933”, os manifestantes expressaram preocupação com a crescente influência da extrema direita no cenário político do país.
Durante o ato, diversos discursos foram feitos, destacando o temor de que um governo com o FPÖ resulte em retrocessos nos direitos das mulheres e minorias.
A comediante e ativista trans Stefanie Stankovic enfatizou a gravidade da situação: “Odeio o fato de termos que estar aqui. Odeio o fato de termos fascistas de direita”. Ela criticou o resultado das eleições, comparando a atual situação política com a década de 1940.
A autora Eva Geber, por sua vez, destacou o impacto do FPÖ sobre os direitos das mulheres. “Em todos os lugares em que governa, os direitos das mulheres estão sendo restringidos”, disse ela, citando exemplos como a redução de verbas para proteção contra a violência e a introdução de prêmios que desvalorizam as contribuições das mulheres.
Alon Ishay, presidente da União de Estudantes Judeus, usou seu discurso para falar sobre o aumento do antissemitismo no país. “Os alarmes estão soando entre os jovens judeus”, disse ele, expressando a crescente insegurança da comunidade judaica diante da ascensão da extrema direita.
Ishay chegou a cogitar a possibilidade de deixar a Áustria caso Herbert Kickl, do FPÖ, seja nomeado chanceler: “A ideia de fugir não é impulsiva, é deliberada e onipresente”.
Além de várias organizações, como a SOS Balkanroute e Omas gegen Rechts (Avós contra a direita), representantes políticos dos Verdes e do Partido Social-Democrata (SPÖ) também participaram do protesto.
Lideranças dos Verdes, como Sigrid Maurer e Meri Disoski, reforçaram a importância de a sociedade civil se mobilizar contra o extremismo de direita.
Maurer disse à agência de notícias APA: “O cargo mais importante do estado não deve cair nas mãos da extrema direita”, criticando as recentes declarações do ÖVP e do SPÖ sobre a possível nomeação do partido com mais votos para a presidência do Conselho Nacional.
Natalie Assmann, porta-voz da organização Wiederdonnerstag (Quinta-feira de novo), que convocou a manifestação, explicou que o objetivo era dar voz às pessoas que não votaram no FPÖ e garantir que suas preocupações sejam ouvidas durante as negociações para a formação de uma coalizão de governo.
Protestos contra a extrema direita, uma tradição em Viena
As manifestações de quinta-feira, conhecidas como Donnerstagsdemos, começaram há quase 25 anos. A primeira ocorreu após a formação da coalizão entre o ÖVP e o FPÖ, em fevereiro de 2000, quando mais de 150.000 pessoas se reuniram na Heldenplatz para protestar contra o governo.
Ao longo dos dois anos seguintes, os protestos ocorreram semanalmente, com grande adesão popular. Em 2018, a tradição foi retomada, quando manifestantes foram às ruas para protestar contra a coalizão formada entre o então chanceler Sebastian Kurz e o FPÖ.
Essas manifestações só terminaram após o escândalo de Ibiza, que levou ao colapso da coalizão.
Agora, com a possibilidade de um novo governo de direita com a participação do FPÖ, os organizadores do protesto não descartam novas manifestações, dependendo do desenrolar das negociações políticas.