Diferentes avaliações dos resultados da 5ª Cúpula das Américas, realizada em Trinidad e Tobago, foram feitas por representantes de PT e PSDB, os dois partidos que provavelmente se enfrentarão na próxima eleição presidencial brasileira, em 2010. Apesar de concordarem que os primeiros movimentos de Barack Obama em direção a um aprimoramento das relações com a América Latina marcam uma ruptura – positiva – com a era George W. Bush, o secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar e o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), divergem quando analisado o peso das responsabilidades dos atores desse jogo político – principalmente quando citado o fator “Cuba”.
Para Pomar, a cúpula figurou como mais uma etapa da transição política e do aprimoramento das relações entre a região e os Estados Unidos. Já o senador Azeredo afirma que grandes avanços foram observados.
Azeredo defende que houve uma distensão do relacionamento entre os Estados Unidos e a região, principalmente entre o país, a Venezuela, Bolívia e Equador. Pomar concorda que houve mudança política e diz que o presidente norte-americano, Barack Obama, está adotando uma atitude distinta da “agressividade cavernícula” do governo Bush. No entanto, para ele, os progressos ficaram restritos à diplomacia. “No sentido substantivo, ou seja, no tocante as relações materiais, econômicas, não houve nenhuma alteração. Mas ainda é cedo para falar que houve uma mudança sustentável”.
O senador tucano acredita também que, para melhorar a relação entre os países, é necessário haver um empenho recíproco. Sem citar nomes, ressaltou que apenas os esforços de Obama não são suficientes. Pomar, ao contrário, avalia que as relações são tão assimétricas, que é difícil pensar em reciprocidade.
“Os governos de Cuba, Venezuela e Bolívia foram forçados a entrar em conflito com o governo dos Estados Unidos. A atitude agressiva e permanente de hostilidade é produto da política norte-americana, não dos demais países. Agora, como a máquina de propaganda tem lado, está se tentando construir uma imagem que apresenta Obama querendo dialogar e seus interlocutores colocando reticências. Para evitar que haja manipulação, é preciso estar dois passos a frente de Obama, sempre”, disse.
Embargo
Para Azeredo, era improvável que a cúpula tivesse um documento determinando uma mudança de comportamento em relação a Cuba. “Foram 50 anos de bloqueio, em um período de muitas transformações políticas, como o fim da Guerra Fria, por exemplo. É natural que exista um debate antes”.
Pomar acredita que a postura norte-americana quanto ao embargo permanece a mesma. “Um documento da cúpula expressa o consenso. Os Estados Unidos ainda são a favor do embargo. Logo, não há consenso”, afirma.
O encontro entre os 34 líderes dos países do continente americano – exceto Cuba – foi encerrado no domingo (19). Não houve uma assinatura formal da declaração final e o primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning, assinou o documento em nome dos outros 33 líderes de estado.
“Apesar da falta de unanimidade, a aproximação dos presidentes na cúpula seguramente foi um avanço, agora restam as expectativas pelos passos concretos. O documento final não é necessariamente um acordo entre os países, principalmente porque não houve um ponto comum”, afirmou Azeredo.
Pomar acredita que o documento final ficou aquém do possível e do necessário. “Os Estados Unidos estavam na defensiva, faltou articulação dos demais para sacar uma resolução consensual, que pudesse ser assinada por todos, mas que também afirmasse algumas obviedades mais contundentes”.
O Brasil na cúpula
Para Azeredo, o Brasil teve o desempenho esperado, “de um país pacífico, que tem bom relacionamento com todos, e que é visto como um mediador de diálogos no continente”.
Pomar acredita que o desempenho foi bom, mas afirma que o país poderia ter feito mais. “Acontece que o governo brasileiro optou por adotar uma posição moderadora e moderada. O primeiro papel é correto, o segundo depende das circunstâncias. De toda forma, precisamos medir o desempenho nestas reuniões não apenas pelo que elas aparentam ser, mas também pelo que são, efetivamente.”
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