A reunião de cúpula do BRICS teve início quarta-feira (23/10) na cidade russa de Kazan com a presença de líderes de 36 países, além do secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres.
A participação deste último, aliás, enfureceu vários países ocidentais entre os quais a Ucrânia, uma vez que Putin teve prisão decretada pelo Tribunal Criminal Internacional. A ONU informou que seu secretário-geral reafirmará que a invasão da Ucrânia viola a carta desse organismo.
Com a participação da ONU e de países de peso como China, Índia, Irã, Egito e Brasil (Lula participa remotamente), o encontro representa a primeira reunião internacional que se realiza na Rússia desde a invasão da Ucrânia. E a avaliação geral, segundo reportagem do Guardian, é que, com o encontro, Putin conseguiu, de fato, romper seu isolamento internacional.
Rússia longe de ser pária
“A Rússia não só está longe de ser um pária internacional, como também é agora um membro essencial de um grupo dinâmico que moldará o futuro da ordem internacional”, escreveu na revista Foreign Affairs o diretor da Carnegie Russia Eurasia Centre, instituto de análise de relações internacionais sediado em Berlin.
Entre os principais objetivos da reunião do BRICS está acelerar a implementação de formas de comércio e outras transações financeiras internacionais que não dependam do dólar. Isso aumentaria a multilateralidade, reduzindo o poder econômico e político global dos EUA e sua capacidade de impor sanções aos países.
“O uso de moedas locais ajudará a manter o desenvolvimento econômico livre da política, tanto quanto possível, no atual contexto mundial”, disse Dilma Roussef, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS.
Ela inaugurou a maratona de encontros bilaterais que Putin manteve na terça-feira, um dia antes da abertura oficial do encontro. Na ocasião, ambos concordaram que os países do sul global têm grandes necessidades de financiamento e que as condições para obtê-lo são hoje muito complexas.
O presidente chinês, Xi Jinping, chamou Putin de “querido amigo” e disse que os laços China-Rússia “injetaram forte ímpeto no desenvolvimento, revitalização e modernização dos dois países”. Também destacou que o mundo está passando por mudanças profundas nunca vistas em um século e que a situação internacional é caótica e interligada”.
Plataformas multilaterais
Putin respondeu dizendo que queria fortalecer os laços com a China e aumentar mais a coordenação entre os dois países em todas as plataformas multilaterais” para garantir mais estabilidade global e uma ordem mundial justa.
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse que a Rússia era um “aliado valioso”, um amigo “que apoiou o seu país desde a luta contra o apartheid”. Também elogiosas foram as declarações do presidente do Egito, Abdelfattah al-Sisi após seu encontro com Putin. Ele agradeceu o apoio russo aos projetos econômicos do Egito, entre os quais destacou a primeira usina nuclear daquele país.
“O BRICS podem ser uma solução para lidar com o domínio do dólar e com as sanções econômicas impostas aos países” também destacou o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, à caminho do encontro.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que chegou sem anúncio prévio à reunião, foi chamado pela imprensa russa de “o epicentro do novo mundo multipolar”.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, destacou a necessidade de se resolver o mais rápido possível o conflito na Ucrânia e restabelecer a paz. Ele visitou este ano os dois países tentando mediar, sem sucesso, negociações que pusessem fim à guerra.
Segundo o assessor do Kremlin para Assuntos Internacionais, a previsão é que o encontro aprove uma declaração final que inclua uma “posição comum” sobre a situação na Ucrânia, Segundo disse ele à televisão estatal russa, “o conteúdo já foi consensuado e não despertou nenhuma objeção”.
PIB maior que o do G7
O BRICS é o nome de um grupo inicialmente formado por cinco países emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – para promover a cooperação econômica entre eles, na ótica da multilateralidade. Este ano, o grupo incluiu mais cinco membros: Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Cerca de outros 30 países, entre os quais Turquia, Arábia Saudita e Cuba, já solicitaram ingressar no BRICS. Nenhum, porém deve ser admitido durante a atual reunião. A Argentina havia se candidatado, mas desistiu depois das eleições presidenciais
Os critérios para fazer parte do BRICS, segundo a imprensa, passam por ter boas relações com seus membros, não apoiar sanções econômicas aplicadas sem autorização da ONU e defender a reforma do Conselho de Segurança desse organismo.
Embora, juntos, os atuais membros do BRICS representem um PIB maior que o do G7 ou da União Europeia, eles têm poder de voto muito menor em instituições financeiras importantes como o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), vinculado ao Banco Mundial. Isso porque o voto é proporcional à participação de capital dos países nesses organismos.