Os prognósticos mais pessimistas foram ultrapassados no México: o Banco Central anunciou hoje (28) que as remessas enviadas pelos emigrantes mexicanos, especialmente aqueles que estão nos Estados Unidos, recuaram 15,7% em 2009, para chegar a um total de 21,2 bilhões de dólares.
Piorou mais do que o previsto. O BBVA Bancomer, um dos maiores bancos mexicanos, havia calculado que o fluxo registraria uma diminuição de 13%. A instituição considerava que pelo menos 800 mil dos 12 milhões de mexicanos que moram nos EUA tinham perdido seus empregos, sendo o impacto registrado sobre 1,2 milhão de lares, enquanto outros passaram a ganhar salários menores.
A notícia provocou preocupação no México, pois a situação é mais grave se comparada com a de outros grandes países emergentes, como a Índia, que também sofreu o impacto da crise econômica mundial e, sobretudo, da recessão norte-americana. No resto da América do Sul e Caribe, a queda também foi menor. O Equador, por exemplo, outro país cuja população depende amplamente do dinheiro dos imigrantes, anunciou que as remessas voltaram a crescer – 7,6% no terceiro trimestre de 2009.
Destino concentrado
Em 2007, o México estabeleceu um recorde, registrando a entrada de mais de 26 bilhões de dólares em remessas, quase o dobro da quantia gerada por ano pelo sólido setor de turismo. Os depósitos são uma fonte preciosa de divisas para o Banco Central, mas não representam mais do que 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto), ao contrário do que acontece em vários países da região, onde representam quase 20% do PIB.
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O problema no México é outro: o destino das remessas é tradicionalmente concentrado em regiões que oferecem poucas oportunidades de trabalho. Além disso, locais onde a criminalidade, provocada pela luta contra o narcotráfico, é alta.
Nos estados de Zacatecas, Michoacán e Oaxaca, por exemplo, milhões de famílias sobreviveram, ao menos por uma geração, com o dinheiro que filhos, filhas, irmãos e irmãs enviaram dos EUA. Nessas comunidades, há somente crianças e idosos; todas as pessoas economicamente ativas imigraram.
“O desemprego e a falta de oportunidades sempre foram resolvidos com a imigração para os EUA. Mas agora acabou e essas regiões estão afundando”, explicou ao Opera Mundi o analista político mexicano Luis Hernandez Navarro.
Poucos retornos
A crise econômica nos EUA atinge principalmente os imigrantes latino-americanos e o endurecimento das leis contra a imigração ilegal também impede novas viagens. Um estudo publicado no ano passado pela ONG norte-americana Pew Hispanic Center calcula que o número de mexicanos que continuavam entrando nos EUA havia caído 40% entre 2005 e 2008, antes mesmo da explosão da crise.
Atualmente a economia do México vive uma recessão de pelo menos 7% do PIB, o que desestimula a volta dos imigrantes. Muitos deles apostam em uma recuperação rápida da economia nos EUA, e aceitam viver hoje em condições muito precárias. Segundo o BBVA Bancomer, a quantidade de mexicanos nos EUA abaixo da linha de pobreza cresceu cinco pontos para atingir 27% da população total em 2009. Isso significa que mais de três milhões de mexicanos pobres moram e trabalham no território norte-americano.
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