O presidente do Equador, Rafael Correa, que entrou na arena política em 2005, escreveu ontem (26) mais um capítulo em sua história de triunfos eleitorais. Com a vitória no primeiro turno, com 51% dos votos, segundo a primeira contagem, o economista de 46 anos conseguiu obter pela sexta vez desde 2006 o respaldo do povo. Também é a primeira vez desde o restabelecimento da democracia, em 1979, que um candidato reúne a maioria absoluta que permite vencer no primeiro turno.
Mas a grande surpresa dessas eleições foi a quantidade de votos (31%) que o ex-presidente e principal adversário de Correa, Lucio Gutiérrez, deposto em 2005, conseguiu atrair. Até a semana passada, as pesquisas lhe atribuíam um distante segundo lugar, com apenas um quinto das intenções de voto.
“Embora os efeitos reais sejam nulos, porque o partido de Gutiérrez (Sociedade Patriótica) terá um bloco de 25% na Câmara enquanto Correa terá provavelmente a maioria, este resultado mostra que o eleitorado do Equador é muito volátil”, interpreta Diego Pérez, colunista do jornal “El Comercio”, um dos maiores do país.
Enquanto Gutiérrez se negava a reconhecer o triunfo do presidente até conhecer os resultados oficiais, o multimilionário Álvaro Noboa, que chegou em terceiro, com um pouco mais de 11% dos votos, admitiu sua derrota, assegurando que o país se dirigia rumo “ao abismo”. “Hoje o país escolheu outro caminho”, declarou o magnata, que pediu ao presidente reeleito que estude a possibilidade de um acordo nacional com outros partidos, já “que a metade do Equador pensa como ele, mas a outra metade não”.
Imprensa x Correa
Poucos minutos depois do fechamento das urnas, Correa proclamou a sua vitória, voltando quase que imediatamente ao seu estilo provocador. Ele assegurou que irá fiscalizar de perto a imprensa, que acusou seu governo de ser financiado pelo narcotráfico. Logo anunciou que um dos nomes mais envolvidos nas acusações, o ex-ministro Gustavo Larrea, voltaria a trabalhar com ele.
Durante os dois anos de mandato, o presidente enfrentou a influência da imprensa com as mesmas armas, criando um programa semanal de rádio que informa todo o país sobre seus trabalhos e projetos. A medida é criticada pelos opositores, que consideram que é um abuso dos meios de comunicação. O governo responde sublinhando que é uma “obrigação” do presidente comunicar sobre suas realizações ao povo.
Desafios
Agora que o turbilhão das eleições passou, Correa deverá lidar com um país em crise e um enorme desafio: manter o sistema de dolarização. Adotado em 2000 pelo então presidente Jamil Mahuad, poucos dias antes de ser derrubado, a medida, que substitui a moeda nacional por dólares americanos, tinha como objetivo acabar com a pressão cambial.
Os efeitos perversos da medida não demoraram a aparecer: a dolarização encareceu as exportações e barateou as importações, gerando um desequilíbrio para a balança comercial do país.Correa chegou ao poder em 2006 criticando o dólar, embora tenha reconhecido que seria irresponsável retornar a antiga moeda.
Hoje, o sistema monetário é ameaçado. Por um lado, a queda brutal dos preços do petróleo, a principal fonte de renda para o Equador e o declínio das remessas enviadas por equatorianos que vivem no exterior (cerca de três milhões, a maioria na Espanha e Estados Unidos) diminui a quantidade de dólares que entram no país. Por outro lado, a promessa de Correa de não pagar a dívida externa, que considera ilegítima, alimenta a desconfiança dos investidores internacionais.
“Em vez de buscar recursos externos para superar a crise com um custo social mínimo, o governo continua a consumir recursos que, de outra forma, estariam disponíveis para reativar a produção e enfrentar o aumento do desemprego”, diz o economista Arízaga Alfredo. “Se o governo não corrigir seus erros, o futuro econômico do país parece cada vez mais sombrio”, diz analista.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma contração da economia de 2% este ano. Apesar do quadro complicado, Correa mantém um tom otimista. Diz acreditar que o pior já passou e prevê que a economia de seu país crescerá 2,5% este ano.
NULL
NULL
NULL