Faltando poucos dias para as eleições presidenciais, os habitantes de Caracas, capital da Venezuela, vivem o costumeiro clima de tensão que antecede o pleito, marcado para este domingo (28/07).
Apesar da ansiedade eleitoral, o clima predominante é de tranquilidade. Todas as candidaturas vêm fazendo um apelo transversal aos cidadãos para a manutenção da paz, o que parece contribuir para um cenário ameno nos dias que antecedem a jornada eleitoral, contrastando com as previsões escandalosas da grande imprensa.
Zulai e Hudson Contreras, moradores de Caracas ouvidos por Opera Mundi, que declararam voto em candidatos da oposição ao presidente e candidato à reeleição Nicolás Maduro, concordam que “o mais importante é manter a paz, independentemente de quem ganhe, com a esperança de que a estabilidade e a recuperação econômica sejam mantidas”.
Zulai Contreras disse que votará em Edmundo González, candidato da coalizão Plataforma Unitária, representante da extrema direita venezuelana. Já seu marido Hudson apoia Claudio Fermín, do partido Soluções Para a Venezuela (SPV).
Apesar de defenderem candidaturas de oposição ao governo , ambos consideram que o país tem registrado uma melhora perceptível dos seus índices econômicos e de qualidade de vida.
Já o chavista Pedro Hiriart sente que o clima às vésperas desta eleição parece mais alegre do que o de pleitos anteriores. “A Venezuela neste momento está calma, está em paz, aproveitando um clima de progresso, de bem-estar para todos. O Maduro é a grande esperança desta cidade. Fizemos uma revolução aqui e agora não podemos desanimar”.
Melhora da economia
A percepção do casal Contreras confirma o que dizem os números da economia. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a Venezuela teve um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,6% em 2023, movimento que foi ancorado no aumento tanto da atividade petrolífera, que subiu 9,4%, e que também ocorreu, em menor escala, em outros setores produtivos – que cresceram cerca de 1,6%.
Outro indicador de melhora da economia venezuelana é o retorno de cerca de 900 mil cidadãos que haviam migrado para outros países durante os anos de crise e que agora regressam graças ao programa Missão Volta à Pátria, promovido pelo atual governo.
As imagens de supermercados desabastecidos, frequentes durante o período mais difícil da crise econômica na Venezuela, causada em parte pela queda do preço do petróleo e em maior medida pelo endurecimento das sanções dos Estados Unidos contra o país, hoje é possível encontrar lojas com grande variedade de produtos e bem abastecidas.
Além disso, segundo dados da Superintendência Nacional de Defesa dos Direitos Socioeconômicos da Venezuela (Sundde), 97% dos produtos alimentícios consumidos hoje pelos venezuelanos são cultivados e fabricados no próprio país, um grau de autonomia produtiva que, historicamente, o país não conhecia.
Desafio chavista
A eleição deste ano será crucial para o chavismo. O atual presidente Nicolás Maduro tentará a reeleição em um cenário difícil de decifrar, já que parte das pesquisas apresentam resultados muito favoráveis, prevendo uma vitória governista – algumas até por ampla margem – enquanto outras apontam empate técnico e até mesmo uma vitória do opositor Edmundo González.
Segundo estimativas do analista político e acadêmico venezuelano Francisco Rodríguez, professor da Universidade de Denver, que revisou uma base de dados de 118 pesquisas nas últimas duas décadas, há uma “superestimação do voto da oposição” em boa parte das pesquisas realizadas nas últimas semanas.
Ainda assim, ele projeta uma diferença apertada, de aproximadamente seis pontos percentuais a favor de Maduro, mas reconhece que o grande termômetro da campanha governista acontecerá nesta quinta-feira (25/07), no encerramento da campanha chavista.
Os partidários de Maduro têm chamado o ato final da campanha de “Grande Tomada de Caracas”, numa tentativa de emular o encerramento da campanha de Hugo Chávez em janeiro de 2013. Na ocasião, o falecido mandatário conseguiu reunir mais de um milhão de apoiadores na capital venezuelana.
Rodríguez também ressalta que Edmundo González, candidato da oposição, não possui uma carreira política e que mesmo como diplomata não é uma figura conhecida do grande público, embora seja fortemente apoiado pela ultraconservadora María Corina Machado, uma das figuras mais destacadas da direita.
Eleição geopolítica
Com mais de 750 observadores, além de personalidades e jornalistas credenciados para cobrir a disputa política, esta eleição tem provocado grandes expectativas a nível internacional.
Para o jornalista e analista internacional Jorge Gestoso, “é um momento histórico para a Venezuela, para a América Latina e para o mundo, porque este é um movimento geopolítico que vai muito além de uma eleição interna de um país”.
“Trata-se do controle dos recursos naturais recursos do planeta que estão cada vez mais em disputa. Há muito tecido e aqui estão as reservas de petróleo mais ricas do planeta. Esta é uma escolha geopolítica”, acrescentou Gestoso a Opera Mundi.