Há 15 dias, milhares de pessoas marcham nas ruas de Teerã por dias e noites inteiras. O motivo da mobilização de iranianos de todas as idades e profissões é a escolha do novo presidente do país. Os 46,2 milhões de eleitores vão votar amanhã (12). Há dois candidatos conservadores – o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad e Mohsen Rezaei – e dois reformistas: Mir Hossein Mousavi e Mehdi Karroubi.
No Brasil e em outros países com espectro ideológico semelhante ao brasileiro, o termo conservador remete a um político de direita, mais preocupado com assuntos de macroeconomia do que com anseios sociais. Reformista é usado para designar aqueles mais de esquerda, que pretendem mudar o status quo de alguma forma.
No Irã, no entanto, a definição tem outro significado. Esses conceitos não estão relacionados ao sistema econômico defendido pelo grupo político, nem a uma postura liberal ou nacionalista do governo. O que define se um político é reformista ou conservador é a rigidez com que as regras sociais impostas pelas leis islâmicas são aplicadas.
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O jornalista iraniano Hooman Majd, que mora em Nova York e é intérprete do presidente Mahmoud Ahmadinejad, explicou ao Opera Mundi que reformistas são aqueles que “adotam um programa de governo que aposta na reforma e na abertura do regime sem renunciar aos princípios fundamentais da Revolução Islâmica”, como prometem fazer Mousavi e Karroubi. Mousavi é considerado o mais reformista, enquanto Karroubi é chamado de reformista moderado – a classificação varia de acordo com o rigor das restrições sociais.
Como o Irã é uma República Islâmica desde 1979, quando uma revolução colocou no poder os aiatolás, as regras do país são determinadas pelos fundamentos muçulmanos. As designações variam de acordo com a aplicação das regras sociais, principalmente aquelas que se referem às mulheres, como usar lenços coloridos ou longos casacos, em vez do chador preto, traje tradicional que cobre todo o corpo, e o direito estendido às jovens solteiras de pleitear bolsas de estudo fora do país.
O candidato Mousavi, que já foi primeiro-ministro (1981-1989), por exemplo, contrariou os costumes da política do Irã, onde não há primeira-dama. Zahra Rahnavard, sua esposa, está participando ativamente da campanha, acompanhando o marido nos comícios. A atitude foi criticada por Ahmadinejad. Mousavi é apoiado pelo ex-presidente Mohammed Khatami (1997-2005), também reformista, que lançou sua pré-candidatura, mas desistiu no final de março.
Mehdi Karroubi, que já foi presidente do parlamento iraniano por duas vezes (1989-1992 e 2000-2004), promete que fará reformas de forma “moderada” no país, assegurando que não provocará mal-estar nos clérigos mais radicais. Assim como Ahmadinejad, ele promete redistribuir a renda do petróleo.
Ahmadinejad, o ultraconservador
Os conservadores, além de seguirem mais rigidamente as regras do regime, são contrários à ocupação de cargos públicos por mulheres e evitam ao máximo as influências estrangeiras.
Ahmadinejad é considerado ultraconservador por ter apoio da ala mais conservadora da hierarquia xiita. Tem maior popularidade entre os operários e os trabalhadores rurais, conforme relatou o iraniano Sohrab Mahdavi, editor do portal Tehran Avenue, em entrevista ao Opera Mundi. Segundo ele, a popularidade vem dos programas sociais que distribuem a renda do petróleo entre famílias carentes, na capital e nas províncias.
O conservador Mohsen Rezaei, secretário do Conselho de Conveniência do Irã, é um economista e militar de grande prestígio no país. É o único candidato da ala conservadora que concorre com o atual presidente. Em 2005, tentou a presidência pela primeira vez, mas desistiu dois dias antes da disputa para apoiar Ahmadinejad. Ele é ligado ao ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanayaní, atualmente secretário-geral do Conselho de Discernimento para o Bem do Estado, órgão que media disputas entre o Parlamento e o Conselho de Guardiães.
Pesquisa
Hooman Majd afirma que os dois candidatos com maior chance de vitória são Ahmadinejad e Mousavi. Uma pesquisa eleitoral realizada pela agência de notícias chinesa Xinhua mostra que Mousavi lidera nas dez maiores cidades do país com uma intenção de voto que varia entre 34% e 38%. Em Teerã, uma pesquisa da emissora estatal Irib também indica liderança de Mousavi, com 43% a 47%.
Apesar da vantagem da oposição, o intérprete do presidente explica que as eleições iranianas são imprevisíveis e até o último momento, não será possível prever quem vai ganhar. “No Irã, as pessoas discutem política nos cafés, aproveitam a campanha para ir às ruas. Mas, ainda assim, os eleitores são muito indecisos”. Segundo ele, ninguém conseguiu prever a eleição de Ahmadinejad em 2005.
O Conselho dos Guardiães, órgão encarregado de determinar se a legislação está de acordo com os fundamentos islâmicos, rejeitou 475 candidaturas, 42 delas de mulheres, e aprovou apenas as quatro já mencionadas.
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