Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O primeiro-ministro britânico Keir Starmer anunciou nesta terça-feira (25/02) um grande aumento dos gastos em defesa que será financiado com o corte de 40% nas ajudas humanitárias internacionais feitas pelo Reino Unido. Com isso, o orçamento em defesa aumentará em 6 bilhões de libras esterlinas (43,6 bilhões de reais, pela cotação atual) ao ano. Será o maior incremento de gastos militares do país desde a Guerra Fria, destinando à defesa 2,5% do PIB até 2027 (três anos antes do previsto), com a meta de atingir 3%.

Organizações humanitárias e políticos, alguns do próprio governo, criticaram a decisão. Inclusive, o secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, no início de fevereiro, criticou os Estados Unidos quando o presidente Donald Trump anunciou o corte das ajudas internacionais. Na sua opinião, a decisão era um “grande erro estratégico” que permitiria à China preencher o vazio aberto e ampliar sua influência global.

Agora, Lammy diz que a decisão britânica foi “extremamente difícil”, mas que o governo tem que “equilibrar a compaixão com as necessidades da segurança nacional”.

“Sei do impacto da decisão que tive que tomar hoje e não a levo de ânimo leve (…), mas é uma decisão que devo tomar para garantir a segurança e a defesa do nosso país”, disse o primeiro-ministro trabalhista.

A medida, tomada dois dias antes do encontro de Starmer com o presidente Trump, foi interpretada com uma bajulação ao norte-americano. O premiê britânico negou que tenha sido levado pelo republicano a aumentar os gastos em defesa, mas justificou a urgência europeia em ampliar os gastos na área decorrente da redução da ajuda dos Estados Unidos na guerra da Ucrânia e de sua ameaça de abandonar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Decisão impopular no governo

“Todos nós sabíamos que essa decisão estava chegando há três anos, desde o início do conflito na Ucrânia”, argumentou Starmer. Logo após a decisão, um membro de seu governo ligou para o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, para comunicar sobre: “Um passo forte de um parceiro duradouro”, comentou.

O governo britânico tomou a decisão depois de discuti-la com seu gabinete, mas houve polêmica. Todos os membros concordaram em aumentar o gasto em defesa, mas vários manifestaram preocupação com as consequências dos cortes na ajuda humanitária. Muitos avaliam que haverá prejuízos para a reputação do país e que há o risco de o governo perder o apoio.

O primeiro-ministro britânico Keir Starmer
Wikimedia Commons
Primeiro-ministro britânico Keir Starmer fará o maior aumento do gasto militar do país desde a Guerra Fria

“A decisão (…) é um golpe para a reputação britânica de líder global em ajuda humanitária e desenvolvimento”, disse David Miliband ao jornal britânico The Guardian. Ele é ex-secretário de Relações Exteriores do Partido Trabalhista e atual líder do Comitê Internacional de Resgate.

Sarah Chimpion, presidente do comitê de desenvolvimento internacional e também trabalhista, avaliou que o corte tornará o mundo menos estável porque aumentará a desigualdade.

Os ministros de Defesa de toda a Europa se reunirão neste domingo (02/03) em Londres. Será mais uma reunião de emergência para debater como aumentar a autossuficiência do continente na área de defesa, depois de anos em que a região dependeu em grande parte dos Estados Unidos. Vale lembrar que os gastos mundiais em defesa vem se incrementando há alguns anos. 

Reconstrução da Ucrânia

O mesmo ministro das Relações Exteriores britânico também defendeu no Parlamento de seu país, na terça-feira, que a Europa deveria passar do congelamento dos ativos russos para a sua apreensão. O objetivo seria usar esses recursos para a reconstrução da Ucrânia.

Desde a invasão russa da Ucrânia, em 2022, os Estados Unidos e seus aliados proibiram transações com o Banco Central e o Ministério das Finanças da Rússia, bloqueando entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões em ativos soberanos russos. Desse total, a União Europeia calcula que cerca de US$ 210 bilhões estariam dentro do bloco.

A ideia de usar esses recursos para reconstruir a Ucrânia não é nova, mas não há consenso sobre a legalidade disso ou se não se acabaria criando um precedente internacional perigoso. E Lammy não detalhou como se concretizaria sua proposta.