Militante de extrema direita bastante conhecido, Tommy Robinson tornou-se um problema para as autoridades britânicas, que o acusam de incitar os piores tumultos que o Reino Unido já viu nos últimos 13 anos. A campanha de ódio foi lançada direto de um hotel cinco estrelas no Chipre, onde o agitador foi flagrado, à beira da piscina.
A figura midiática de maior destaque dos últimos acontecimentos sensíveis vivenciados no Reino Unido não está no país. No entanto, Tommy Robinson, cujo nome verdadeiro é Stephen Yaxley-Lennon, comenta os fatos o dia todo nas redes sociais. Ele é o cofundador da Liga de Defesa Inglesa (EDL, por sua sigla em inglês), um antigo grupo marginal que afirma lutar contra a ameaça islâmica.
“A desordem está se espalhando… Não diga que não avisei”, disse o britânico de 41 anos em sua conta X nesta quarta-feira (07/08), na segunda noite de violência após o assassinato de três meninas durante um ataque em uma aula de dança no noroeste da Inglaterra.
Nas horas que se seguiram ao crime, o suspeito apareceu em publicações online, amplamente compartilhadas, como um requerente de asilo muçulmano. No entanto, o jovem, de 17 anos, é católico, nasceu em Cardiff, no País de Gales, e sua família, segundo a mídia britânica, é de Ruanda.
Rosto familiar nos comícios de extrema direita há cerca de quinze anos, Robinson tem estado menos presente na esfera midiática nos últimos tempos. Mas os atuais motins mostraram a sua influência online.
A sua conta X, bloqueada quando a plataforma se chamava Twitter, foi restabelecida após a sua compra pelo multimilionário americano Elon Musk em 2022.
Este último também respondeu a uma de suas inúmeras publicações nos últimos dias, aumentando ainda mais a visibilidade de Robinson. Atualmente, ele tem mais de 900 mil seguidores e seu conteúdo costuma acumular milhões de visualizações.
Ao analisar os seus vídeos, os meios de comunicação britânicos identificaram o hotel no Chipre, onde ele esteve nos últimos dias.
Tommy Robinson foi filmado pela agência AFP neste fim de semana relaxando à beira da piscina do estabelecimento cinco estrelas, pedindo bebidas em traje de banho, com os olhos grudados no telefone.
Embora a polícia do país tenha dito que estava em contato com as autoridades britânicas sobre o caso, ele disse que havia deixado o local.
Condenações
Nascido em novembro de 1982, Tommy Robinson fez seu nome ao criar a EDL em 2009 em sua cidade natal, Luton, no norte de Londres. Composto principalmente por hooligans, o pequeno grupo organizou manifestações contra a comunidade muçulmana que muitas vezes acabava em confrontos com antifascistas.
No final de 2013, o britânico deixou a EDL para se juntar a um grupo de reflexão que afirmava lutar contra o islamismo radical, alegando querer se distanciar do extremismo.
Ele se manteve presente publicamente, fazendo-se passar por “jornalista cidadão” e defensor da liberdade de expressão, mas foi condenado diversas vezes por agressão, fraude e porte de drogas.
A sua prisão em 2018 por desacato ao tribunal lhe valeu a simpatia de Steve Bannon, antigo conselheiro estratégico na Casa Branca no governo de Donald Trump (2017-2021), bem como de várias personalidades europeias de extrema direita que participaram em manifestações de apoio.
No final de julho, organizou novamente um comício em Londres onde nove pessoas foram presas. Ele transmitiu um suposto documentário onde repetia acusações consideradas difamatórias pelos tribunais contra um refugiado sírio atacado quando era estudante do ensino médio.
Isso lhe rendeu outro comparecimento ao tribunal, no mesmo dia do esfaqueamento em Southport, onde foi revelado que ele havia acabado de deixar o Reino Unido.
Se Tommy Robinson afirma ter apenas convocado reuniões pacíficas desde o início dos tumultos, as autoridades claramente o têm na mira.
Ele deveria “ter muito cuidado com a linguagem que usa e realmente se preocupar com o que disse até agora”, alertou Stephen Parkinson, chefe do Ministério Público na Inglaterra e no País de Gales, na ITV.