Quarta-feira, 18 de junho de 2025
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Uma comissão independente nomeada pela Igreja Católica divulgou nesta terça-feira (05/10) um relatório que aponta que pelo menos 216 mil crianças e adolescentes foram vítimas de pedofilia por parte de padres e outros clérigos na França desde 1950.

De acordo com o inquérito da Comissão sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase), chefiada por Jean-Marc Sauvé, ex-vice-presidente do Conselho de Estado da França, o número de padres pedófilos no país é estimado entre 2,9 mil e 3,2 mil. Ainda segundo Sauvé, o total de vítimas sobe para 330 mil quando se inclui “agressores laicos que trabalhavam para instituições católicas”, como sacristãos e professores.

“Essas cifras são muito preocupantes, são assustadoras, e não podem ficar sem consequências”, declarou o chefe da comissão em coletiva de imprensa. Sauvé afirma que a primeira recomendação da comissão para a Igreja Católica é “reconhecer sua responsabilidade” nos abusos sistêmicos dentro de suas instituições.

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“A Igreja não soube enxergar, não soube escutar, não soube captar os sinais frágeis”, disse Sauvé, afirmando que as instituições católicas têm manifestado uma “indiferença profunda e cruel em relação às vítimas”, ao menos até o início do século XXI. 

O responsável pelo relatório, atual presidente do Instituto Francês de Ciências Administrativas, lembra ainda que os números publicados pelo relatório podem ser baixos em relação à realidade, já que as vítimas ouvidas se manifestaram por vontade própria, após uma convocação de testemunhas e que outras pessoas certamente decidiram não participar voluntariamente da investigação.

Ele recomendou que a igreja “evite no futuro a concentração de poderes nas mesmas mãos”, e que pessoas laicas, entre homens e mulheres, possam ter acesso às posições de decisão dentro da Igreja Católica.

Número sobe para 333 mil se forem considerados agressores "laicos" dentro de instituições católicas

Unplash/Reprodução

Levantamento de casos de abuso dentro da igreja apontou aproximadamente 3 mil padres pedófilos na França

O presidente da comissão ainda cobrou que a Igreja indenize as pessoas que sofreram violência sexual por parte de padres e que esses ressarcimentos não sejam vistos como “doações”, mas como algo “devido”.

Após a divulgação do relatório, o presidente da Conferência Episcopal da França, Éric de Moulins-Beaufort, expressou “vergonha” pelos crimes cometidos na Igreja e pediu “perdão” às vítimas.

“Meu desejo, hoje, é de pedir perdão a cada um e cada uma de vocês”, declarou o bispo, acrescentando que os números revelados pela investigação são “devastadores”. Já o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, disse que o papa Francisco já havia sido informado do conteúdo do relatório, o qual recebeu com “dor”.

“Seu pensamento vai antes de tudo às vítimas, com grande desprazer por suas feridas e gratidão por sua coragem de denunciar, e à Igreja da França, para que, na consciência dessa terrível realidade, unida ao sofrimento do Senhor pelos seus filhos mais vulneráveis, possa percorrer um caminho de redenção”, acrescentou Bruni, referindo-se ao pontífice.

O relatório de 2,5 mil páginas foi encomendado pela Igreja na França em 2018, e a comissão passou dois anos e meio investigando registros judiciais, policiais e das instituições católicas. A maioria das vítimas eram meninos, muitos deles entre 10 e 13 anos de idade.