Resistência denuncia aumento da repressão em Honduras e incentiva abstenção nas eleições
Resistência denuncia aumento da repressão em Honduras e incentiva abstenção nas eleições
A Frente de Resistência contra o Golpe de Estado em Honduras denunciou o aumento das perseguições por parte da ditadura com a proximidade das eleições, que acontecerão em 29 de novembro. Em comunicado divulgado ontem (24), militantes dizem temer um crescimento ainda maior da repressão e voltaram a pedir que a população não compareça às urnas no domingo.
“Os corpos repressivos do Estado têm aumentado a vigilância e a perseguição aos militantes da Resistência, até o ponto de declarar um estado de emergência que poderia ser o preâmbulo de uma ofensiva militar contra o povo desarmado”, informava o comunicado. Os militantes também pediram que as mobilizações continuem nas ruas da capital e reiteraram que o processo eleitoral “precisa de toda legitimidade e legalidade, porque acontece sob um golpe de Estado onde se negam os direitos humanos básicos da população”.
Enquanto a Frente se concentrava diante do TSE (Tribunal Supremo Eleitoral) para expressar seu repúdio às eleições, o presidenciável pelo Partido Liberal, Elvin Santos – que no final da campanha não pode fazer comícios, mas tem permissão para fazer declarações e participar de atos públicos – foi a um bairro popular de Tegucigalpa para fazer fotos onde arrancava cartazes que defendem a abstenção. Entretanto, alguns vizinhos que repudiaram o ato jogaram-lhe um balde d’água enquanto ele posava para uma das fotos (veja abaixo).
Fotos:EFE
Santos é um dos principais opositores à restituição de Manuel Zelaya, apesar de ter sido vice-presidente de seu governo, até renunciar ao cargo pouco antes do golpe para competir nas primárias contra o líder da ditadura, Roberto Micheletti.
Abstenções e fraudes
Honduras é, por si só, um país com altos índices de abstenção nas urnas. Nas últimas eleições, o número chegou a 56%, e neste ano pode até aumentar, como mostra de repúdio ao golpe de Estado.
Apesar disso, a ditadura insiste na tese de que essa eleição terá participação massiva da população. É difícil fazer cálculos nesse sentido, e não há estatísticas confiáveis apresentadas nos últimos dias, embora uma pesquisa realizada em meados de outubro pela Greenberg Quinlan Rosner – uma respeitada consultoria norte-americana que assessorou, entre outras, a campanha do ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton – mostrava que 81% da população hondurenha afirma que as eleições deveriam ocorrer, mas que 54% as legitimaria sob o o regime. Os 54% formam a porcentagem de hondurenhos que votam habitualmente em cada eleição. Mas resta ainda saber se a posição da Frente de Resistência ao Golpe conseguiu influenciar a população nas últimas semanas.
Exemplar da publicação “Resistência” exposto em feira livre em Tegucigalpa
O analista político Álvaro Cálix explicou ao Opera Mundi que há indícios de que a abstenção cresça nesta eleição, mas ele dá por certo que o regime maquiará os resultados. “A fraude tentará mostrar que as eleições foram massivas para que não se perceba o desastre do Partido Liberal, que está totalmente dividido”, garantiu.
Segundo ele, a fraude é um mal endêmico dos comícios hondurenhos. De fato, nas eleições de 2005 já havia indícios de fraude e até o próprio presidente deposto, Manuel Zelaya, reconheceu isso no ano passado, durante uma entrevista a um canal de televisão local. Na ocasião, Zelaya lembrou que depois de participar de 12 campanhas presidenciais desde 1980, calculava que a fraude em Honduras seria por volta de 10% e afirmou que “aquele que tem dinheiro, companheiro, é o que vai ter 10% a mais. Eu posso explicar as mil modalidades de fraude”.
Nesse sentido, Cálix também afirma que o método de eleição por deputados – que foi implementado pela primeira vez em 2005 – gerou mais fraudes nos centros de contagem. “Houve muitas provas de candidatos que pagaram para aumentar seu número de votos. Há fraude inclusive dentro do partido, segundo quem convenha à oligarquia. E não há estrutura para vigiar todo o sistema, nem autonomia, nem controle. Além disso, em um país tão precário como este, como evitar que as pessoas que o controlam não aceitem subornos?”, questionou o analista político.
Apesar disso, o TSE insiste que a transparência na apuração e no processamento dos dados está garantida graças à possibilidade de que os cidadãos compareçam à contagem dos votos e à inclusão e transmissão de dados.
Mesmo assim, Cálix pergunta: “como é feita a alimentação oficial dos dados eletronicamente? Quem controla e regula essa transmissão?”. O analista lembrou ainda que os três magistrados do TSE respondem cada um a um partido e que fazem parte do governo golpista.
Fiscalização e renúncias
Outro ponto importante é que as eleições em Honduras se realizam sob um regime condenado pela OEA (Organização dos Estados Americanos) e pela ONU (Organização das Nações Unidas). E ambas as organizações anunciaram que não enviarão observadores no domingo, o que torna muito difícil pontuar a qualidade e a transparência das eleições.
Além disso, as cédulas eleitorais que serão utilizadas integram dezenas de candidatos a deputados, prefeitos e vereadores que renunciaram nos últimos dias. Ontem (24), mais de uma dezena deles deixou a disputa, entre eles o deputado liberal Enemías Martínez, que do lado de fora do TSE afirmou não poder “acompanhar este processo ilegítimo construído sobre o sangue dos hondurenhos” e que, assim, renunciava para “deslegitimar essa farsa eleitoral”.
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