O enviado dos Estados Unidos, Steve Witkoff, chegou a Moscou nesta quinta-feira (13/03) para negociar a proposta de cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia. Mas o Kremlin vê com ceticismo a oferta acordada entre o governo norte-americano e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na terça-feira (11/03).
“Isso não é nada além de uma trégua temporária para os militares ucranianos. Não nos dá nada. Só dá aos ucranianos uma oportunidade de se reagruparem e ganharem força para continuar’, disse Yuri Ushakiv, ex-embaixador russo em Washington e porta-voz do Putin.
Washington e Kiev elaboraram essa proposta de trégua após o presidente norte-americano Donald Trump conseguir que Zelesnky aceitasse ceder a exploração de suas terras raras aos Estados Unidos. Para isso, interrompeu o envio de armas e de informações de inteligência ao país, retomados após o acordo.
Mas o Kremlin parece não ver vantagem nessa trégua, que não lhe oferece nada e interrompe o avanço que estão fazendo no campo de batalha, sobretudo na reconquista dos territórios russos ocupados pela Ucrânia.
Além disso, os europeus estão se mobilizando para armar os ucranianos com urgência e os Estados Unidos voltaram a fornecer tanto armas como informações de inteligência ao país. Nesse contexto, um cessar-fogo poderia dar novo fôlego para a Ucrânia enfrentar a guerra.
Sobre a proposta, o governo russo disse que só Moscou poderia decidir uma trégua e que isso dependia da solução dos problemas que motivaram a guerra. Segundo a Reuters, porém, o Kremlin já apresentou a Washington sua lista de exigências para o cessar-fogo, em várias conversas que também abordaram a retomada de relações entre os dois países.
A lista não foi divulgada, mas sabe-se que inclui dois itens críticos. A Rússia não aceita que a Ucrânia ingresse na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), nem admite a presença de tropas estrangeiras no país.
Europa quer garantir segurança da Ucrânia
Essas exigências não são novos e anteriores à guerra e o fracasso da sua negociação está na origem do conflito. Apesar disso, as cinco maiores potências militares da Europa se articulam para criar uma força conjunta para garantir a segurança da Ucrânia após o cessar-fogo. Nessa quarta-feira (12/03) os ministros da Defesa da Alemanha, Reino Unido, Itália, Polônia e França se reuniram em Paris para tratar disso.
Essa “força de garantia” incluiria o envio até 30 mil soldados para proteger portos, aeroportos e infraestrutura da Ucrânia. A França lidera esses esforços. Seu ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, disse que 15 países já se declararam dispostos a contribuir para criar essa força.
Por outro lado, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rúbio, disse que Washington queria um acordo com Moscou sem amarras. “Queremos saber se eles estão preparados para fazer isso (o acordo) incondicionalmente”, disse Rubio na quarta-feira aos jornalistas enquanto voava para a reunião do G7 que se celebra nesta quinta-feira no Canadá. No topo da agenda dessa reunião está exatamente a proposta de cessar-fogo negociada entre os Estados Unidos e a Ucrânia na terça-feira na Arábia Saudita.
Consensos, porém, vêm sendo difíceis no G7 desde a reaproximação de Trump com Putin. O presidente norte-americano chegou a sugerir que o G8 poderia ser revivido com o retorno da Rússia, expulsa depois da anexação da Crimeia, há 11 anos.Em avanço relâmpago, tropas russas já retomaram 86% dos territórios ocupados.

Área de Kiev bombardeada
Enquanto se preparavam para as negociações, os russos realizaram um avanço relâmpago na retomada dos seus territórios que estavam sob controle ucraniano desde agosto passado. Nesta quinta-feira (13/03), o Kremlin declarou que a retomada da região de Kursk está na fase final: 86% dos territórios ocupados já foram retomados, 38% do total nos últimos 13 dias.
Na quarta-feira (12/03), o presidente russo Vladimir Putin visitou a região. Na última semana, as tropas russas fizeram um avanço relâmpago e já dominam 86% do território russo ocupado pelos ucranianos desde agosto. Isso significa que 36% da área total foi retomada só nas últimas duas semanas. E a Ucrânia, também está perdendo terreno no leste e no sul do próprio país.
O governo ucraniano avalia, segundo disse uma fonte à revista Time, que a interrupção das informações de inteligência de Washington foi essencial para esse avanço rápido. Isso porque os ucranianos não puderam monitorar os movimentos do exército vermelho.
De qualquer forma, até o mês passado, o exército vermelho já havia reconquistado metade do território ocupado pelos ucranianos. Agora, enquanto muitas tropas se retiram, outras estão se rendendo ao exército vermelho.
Ucrânia admite retirada para minimizar perdas
A Ucrânia admitiu que seu exército está recuando para minimizar perdas na região de Kursk ante a pesada ofensiva russa.
“O inimigo está usando unidades de assalto de tropas aero-transportadas e forças de operações especiais para romper nossas defesas e nos expulsar de Kursk”, disse o comandante-em-chefe do exército ucraniano, general Oleksandr Syrskyi. Ele também acrescentou que os russos estavam sofrendo enormes perdas de pessoal e armamento para manter a ofensiva.
A despeito dos recuos de suas tropas, a Ucrânia vem empreendendo uma ofensiva com drones contra a Rússia. Na terça-feira (11/03), uma operação massiva de drones ucranianos atingiu Moscou e a base aérea de Diagh, matando três pessoas e deixando 18 feridos.
No domingo (09/03) e na segunda-feira (10/03), segundo o estado-maior da Ucrânia, eles atacaram a refinaria duas refinarias russas que abastecem o exército, além de uma planta metalúrgica.