O diplomata Vasili Nebenzia, representante permanente da Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU), declarou nesta sexta-feira (20/09), em reunião na sede da entidade, em Nova York, que os autores das explosões coordenadas de dispositivos de comunicação no Líbano pretendem “provocar uma nova grande guerra no Médio Oriente”.
“Aqueles que estão por trás deste crime não podem deixar de perceber que tais tentativas de arrastrar o Líbano para um confronto regional inflamam uma atmosfera já turbulenta na região”, disse o embaixador russo, na última reunião do Conselho de Segurança antes da Assembleia Geral da ONU, que terá início na próxima semana.
As palavras de Nebenzia se referem aos acontecimentos da última terça e quarta-feira (17 e 18/09), quando foram registradas explosões de dispositivos como pagers e walkie-talkies em todo o Líbano, deixando mais de 37 mortos e milhares de feridos. O Hezbollah e as autoridades libanesas culparam Israel pelo que foi qualificado pelo governo do país como uma “agressão criminosa”. O grupo xiita também prometeu que haverá retaliações.
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Apesar de o discurso russo não mencionar diretamente Israel, parte da imprensa internacional considerou que houve alusões ao país governado pelo premiê Benjamin Netanyahu, já que alguns meios de comunicação dos Estados Unidos, como o jornal The New York Times, publicaram declarações de funcionários da Defesa e da Inteligência israelenses admitindo que o país estaria sim por trás dessa operação – o site Axios afirmou que Netanyahu e o ministro da Defesa, Yoav Gallant, consultaram o Pentágono e a Casa Branca horas antes do início da série de explosões.
“É claro que os organizadores deste ataque sem precedentes, em termos de utilização maliciosa de dispositivos domésticos, procuraram deliberadamente fomentar um confronto armado em grande escala”, reiterou o diplomata.
Nebenzia afirmou que os autores do ataque “não tiveram pena de ninguém” e sublinhou que “as explosões ocorreram em hospitais, mercados, lojas e farmácias”.
“Consideramos o que aconteceu como um ato terrorista que representa uma ameaça à paz e segurança regional, com consequências imprevisíveis para todo o Médio Oriente”, completou o representante russo.
Em seguida, ele acrescentou que a Rússia considera que o ataque “representa uma grave violação da soberania do Líbano e um sério desafio ao direito internacional”.
Crime de guerra
Nesta mesma sexta-feira, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, enfatizou que “estes ataques representam uma nova evolução da guerra, na qual as ferramentas de comunicação se tornam armas”.
“O direito humanitário internacional proíbe o uso de armadilhas na forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos”, disse Türk, na mesma reunião do Conselho de Segurança.
O Alto Comissário denunciou as ações, afirmando que, além de violar o direito internacional, elas podem constituir um crime de guerra.
“É um crime de guerra cometer atos de violência destinados a espalhar o terror entre a população civil. Eu estou chocado com a amplitude e o impacto desses ataques”, comentou Türk.
Com informações de RT, The New York Times e Axios.