Rússia julga Mikhail Khodorkovski, ex-oligarca do petróleo e fundador da Yukos
Rússia julga Mikhail Khodorkovski, ex-oligarca do petróleo e fundador da Yukos
O mundo acompanhará amanhã (27/12) o julgamento do ex-oligarca russo Mikhail Khodorkovski. A decisão judicial estava prevista para o dia 15 de dezembro, mas foi alterada para o dia 27 do mesmo mês, sem explicações do Judiciário. A cobertura midiática e o interesse ocidental não têm paralelo na história recente russa. O julgamento começa às 9h (4h da manhã, em Brasília).
Mikhail Borisovitch Khodorkovski nasceu em 1963, em Moscou. Filho de uma engenheira e um técnico, começou seus estudos de química na capital russa e, paralelamente, militava ativamente na Juventude Comunista (Komsomol). Aproveitando-se da amizade com alguns altos dirigentes do Partido Comunista, como o líder Alexey Golubovich, começou suas atividades empresariais. Em 1986, abriu o primeiro negócio próprio – uma cafeteria. O empreendimento só foi possível devido à política de perestroika e glasnost do então presidente, Mikhail Gorbachev, e à ajuda dos pais do amigo Golubovich, que ocupavam altos cargos no Banco do Estado da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Em 1987, Khodorkovski abriu o Centro para a Criatividade Técnica e Científica da Juventude. O centro “científico” se dedicava a importar e revender computadores e comercializar produtos como brandy francês e vodka suiça (hoje em dia sabe-se que quase todos estes produtos vinham da Polônia).
Em 1989, funda um dos primeiros bancos privados do país, o Banco Menatep. Importantes transações de petróleo e os fundos do acidente em Chernobil são confiados ao banco e o grupo enriquece rapidamente. A administração das contas das mais importantes empresas exportadoras russas também passa a ser feita pelo Banco Menatep. Durante a política de privatizações (1992), o banco consegue comprar estas empresas por módicos preços e com fundos das próprias empresas.
Yukos
A aquisição da companhia petroleira Yukos, em 1995, foi o ponto mais importante da política de expansão de Khodorkovski. Naquele ano, o controle da exploração dos recursos russos foi dado a um grupo de empresários em troca de um empréstimo de aproximadamente dois bilhões de dólares. Era uma manobra política para que Ieltsin continuasse no poder.
Khodorkovski passou a dirigir a empresa Yukos com mão de ferro. Reorganizou a produção e deu pouca importância às frequentes reivindicações de aumento e de melhores condições de trabalho. “Se eles não querem trabalhar, eu trago chineses para ocuparem a posição deles”, declarou uma vez.
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A influência política da empresa Yukos aumentava pouco a pouco e importantes ministérios eram ocupados por pessoas ligadas ao grupo. O Partido Comunista, a União das Forças de Direita (SPS), Iabloka e Unidade eram partidos diretamente financiados pelo império de Khodorkovski.
Em 2003, Khodorkovski anunciou que se retiraria do mundo dos negócios em quatro anos para se candidatar à presidência da Rússia. Judeu, ligado a Henry Kissinger e George Soros, as ambições do oligarca pareciam não ter limites. Em julho do mesmo ano, Platon Lebedev, sócio de Khodorkovski e segundo acionista da Yukos, foi preso com a alegação de irregularidades na aquisição de ações de uma empresa estatal de fertilizantes, em 1994. Khodorkovsky foi preso três meses depois, acusado de fraude e evasão fiscal.
Condenação
Em 2005, Khodorkovski e Lebedev foram condenados a oito anos de prisão. No mesmo ano foram transferidos para uma cadeia em Krasnokamensk, na Sibéria, próximo à fronteira com a China. Em março de 2009, um novo processo foi aberto contra Khodorkovski e seu sócio. Líderes ocidentais e ativistas de direitos humanos enviaram uma carta aberta ao presidente expressando preocupação com o deterioramento da justiça e dos direitos humanos na Rússia, alegando que a prisão de Khodorkovski e Lebedev se deviamm a razões meramente políticas.
Na última audiência, o oligarca disse ao juiz Viktor Danilkin que “compreende a difícil situação em que está neste momento, mas que que deseja que ele seja corajoso e que a sua decisão entre para a história da Rússia”.
Como no julgamento descrito por Fiódor Dostoiévski no livro Os Irmãos Karamazov, toda a Rússia se pergunta agora se o Karamazov contemporâneo será condenado outra vez e enviado à Sibéria, repetindo a ficção, ou se a pressão internacional e de grupos internos de direitos humanos conseguirá a liberdade do ex-oligarca Khodorkovski e seu sócio Lebedev.
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