Em reunião nesta segunda-feira (09/10) com o chanceler sírio, Walid Muallen, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, propôs que o governo de Bashar al Assad entregue suas armas químicas à comunidade internacional para que sejam inspecionadas e, depois, destruídas, em uma tentativa de evitar um ataque militar norte-americano. O diplomata disse esperar uma resposta “rápida e positiva” da Síria.
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“Se o estabelecimento de controle internacional sobre armas químicas no país [Síria] permitir evitar ataques, nós começaremos a trabalhar com Damasco imediatamente”, afirmou Lavrov. De acordo com agências de notícias russas, Muallen recebeu bem a proposta da Rússia. “A Síria saúda a iniciativa da Rússia, com base no cuidado do governo sírio com a vida do nosso povo e a segurança do nosso país”, disse o chanceler.
Agência Efe
Os chanceleres sírio, Walid Muallen, e russo, Serguei Lavrov, se reuniram nesta segunda-feira em Moscou
Lavrov disse ainda que a Rússia espera que a Síria não apenas concorde em ceder o controle de suas armas químicas à comunidade internacional, mas também aceite sua “subsequente destruição” e adote “totalmente” o tratado que proíbe esse tipo de armamento.
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As declarações de Lavrov foram feitas poucas horas depois de o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, ter dito que os EUA desistiriam de atacar a Síria se Assad entregasse todas as suas armas químicas no prazo de uma semana.
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Entretanto, após a reação de Moscou, o Departamento de Estado emitiu um esclarecimento às pressas explicando que o aparente ultimato havia sido “retórico”, não uma proposta de negociação concreta. O próprio Kerry havia dito que Assad “não vai fazer isso”.
Em entrevista coletiva, o assessor adjunto de Segurança Nacional da Casa Branca, Tony Blinken, disse que o governo norte-americano ainda não tem os detalhes da proposta russa, mas, quando a receber, a “revisará com atenção”. No entanto, admitiu haver “sério ceticismo” quanto ao plano e lembrou que a Síria tem um dos maiores arsenais de armas químicas do mundo”, tendo deixado passar muitas ocasiões no passado de renunciar a seu armamento.
Apesar disso, tanto o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, quanto o primeiro-ministro britânico, David Cameron, também se posicionaram a favor da ideia. Ki-moon afirmou que, se os especialistas enviados à Síria concluírem que armas químicas foram realmente usadas, ele consideraria propor formalmente ao Conselho de Segurança que preparasse uma área para a destruição delas.
Cameron, por sua vez, disse que a destruição das armas seria “um enorme passo à frente”, mas avisou que a ação não deveria ser usada como uma “tática de distração”. A ex-secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, disse que a entrega das armas químicas pela Síria seria “um passo importante” para evitar um possível ataque militar dos EUA, mas não pode ser uma “desculpa para o atraso ou obstrução” por parte do governo de Assad.
O ELS (Exército Livre da Síria), uma das organizações opostas ao governo de Assad, se mostrou contrário à proposta, que a qualificou de “engano”. “O regime mente e Putin é seu professor”, disse Selim Idris, comandante em chefe do ELS. “Putin é o maior dos mentirosos”, acrescentou. O grupo rebelde insistiu na necessidade de um ataque militar à Síria.
Segundo fontes diplomáticas, o relatório da ONU sobre o uso de armas químicas na Síria, preparado pelo cientista sueco Åke Sellström, não deve ficar pronto antes do final da semana. Sellström só deve determinar se as armas foram ou não usadas, não quem fez uso delas, mas seu relato vai incluir depoimentos dos sobreviventes e observações sobre os mísseis e outros sistemas de distribuição, no que a ONU chama de “narrativa baseada nos fatos” sobre o ataque.