A Rússia rejeitou acusações de estar cometendo crimes de guerra após os bombardeios contra hospitais e escolas em áreas controladas por forças de oposição na Síria terem deixado dezenas de mortos e feridos nesta segunda-feira (15/02).
“Nós categoricamente não aceitamos tais declarações, especialmente porque as pessoas fazendo tais declarações não são capazes de provar suas acusações infundadas”, afirmou um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (16/02). Embora observadores no terreno afirmem que os bombardeios foram realizados por forças russas, Moscou nega a responsabilidade pelos ataques.
França, Turquia e diplomatas ocidentais afirmaram que os bombardeios realizados nesta segunda-feira contra hospitais e escolas por forças de apoio ao presidente sírio, Bashar al Assad, constituem crimes de guerra.
“Se a Rússia continuar a se comportar como uma organização terrorista, forçando civis a fugir, nós vamos providenciar uma resposta extremamente decisiva”, ameaçou o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoğlu, reiterando que a Rússia está cometendo “um óbvio crime de guerra”.
O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Marc Ayrault, afirmou que os ataques “poderiam se tratar de crimes de guerra”, acrescentando que “ataques contra centros médicos na Síria por parte do regime [de Assad] ou de seus apoiadores são inaceitáveis e devem ser interrompidos imediatamente”.
UPDATE #Syria: At least 7 killed & 8 missing in the MSF-supported hospital attack in #Idlib https://t.co/FXTjNmAw8h pic.twitter.com/8IZREgifvE
— MSF International (@MSF) 15 fevereiro 2016
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Já o embaixador da Síria na Rússia, Riad Haddad, afirmou que os ataques foram realizados pela coalizão militar liderada pelos EUA que atua na Síria e no Iraque contra o Estado Islâmico. “Com relação ao hospital destruído, na realidade ele foi destruído pela força aérea dos EUA. A força aérea russa não tem nada a ver com isso”, declarou o embaixador nesta segunda-feira a uma emissora estatal russa, acrescentando ter “informações da inteligência” que comprovam sua alegação.
Uma série de bombardeios realizados nesta segunda-feira em Azaz, na fronteira com a Turquia, e em Maarat al Numan – duas áreas sob controle de forças opositoras a Assad – tiveram quatro hospitais como alvo, afirmou a Unicef, e deixaram pelo menos 50 pessoas mortas. Segundo a organização, um deles era um centro de saúde materna e perinatal. “Para além das considerações diplomáticas e das obrigações sob a lei humanitária internacional, lembremo-nos de que estas vítimas eram crianças”, afirmou a Unicef em comunicado.
Entre os hospitais atingidos em Maarat al Numan estava uma instalação da ONG Médicos Sem Fronteiras. “A destruição do hospital deixa a população local de cerca de 40 mil pessoas sem acesso a serviços médicos em uma zona ativa de conflito”, afirmou Massimiliano Rebaudengo, chefe da missão da MSF na Síria. A organização afirma que sete pessoas foram mortas no ataque, que a MSF acredita ter sido perpetrado por forças russas ou do governo sírio.
Agência Efe
O presidente russo, Vladimir Putin; país nega responsabilidade por bombardeio a alvos civis na Síria
O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, negou neste domingo que a Rússia esteja atingindo propositalmente instalações civis na Síria. Entretanto, vários ataques a centros médicos foram documentados desde o início da intervenção aérea russa no país, em setembro do ano passado. A ONG Médicos por Direitos Humanos registrou sete ataques de forças russas contra hospitais somente no primeiro mês da campanha russa na Síria.
“Eles estão atacando hospitais especificamente; isso é sistemático”, afirmou Zaidoun al-Zoabi, chefe da União de Organizações Sírias de Auxílio Médico, ao jornal britânico The Guardian.
Campanha russa na Síria
Oficialmente, Moscou afirma que bombardeia alvos do grupo Estado Islâmico e que segue as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Observadores militares, entretanto, afirmam que pelo menos 70% dos ataques aéreos russos tiveram grupos de oposição a Bashar al Assad, presidente sírio e aliado da Rússia, como alvo.