Um dia após o anúncio do governo de Donald Trump, que confirmou impor tarifas de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses a partir deste sábado (01/02), a presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou que aguardará “com a cabeça fria” a decisão do republicano.
“Temos o plano A, o plano B, o plano C para aquilo que o governo dos Estados Unidos decidir. É muito importante que o povo do México saiba que sempre defenderemos a dignidade de nosso povo, o respeito por nossa soberania e um diálogo como iguais, sem subordinação”, disse a mandatária, ao considerar “fundamental” seguir mantendo o diálogo com a Casa Branca. “Vamos esperar, como sempre disse, com a cabeça fria, ao tomar decisões. Estamos preparados e mantemos esse diálogo.”
Na quinta-feira (30/01), Trump confirmou que aplicará tarifas de 25% sobre todos os produtos importados do México e do Canadá a partir de sábado. Entretanto, não decidiu se incluirá o petróleo na lista.
“Depende de qual é o preço. Se o petróleo estiver com um preço adequado, se eles nos tratarem adequadamente… o que não fazem”, disse o magnata, durante uma coletiva de imprensa, no Salão Oval da Casa Branca.

Presidente do México, Claudia Sheinbaum, afirma que manterá diálogo com os Estados Unidos para defender dignidade de seu povo contra medidas punitivas de Donald Trump
De acordo com um relatório publicado pelo Serviço de Investigação do Congresso (CRS, na sigla em inglês), órgão norte-americano que proporciona pesquisas de relevância nacional, países que integram o USMCA, um tratado de livre comércio entre EUA, Canadá e México, fornecem mais de 71% das importações de petróleo bruto a Washington. O Canadá, sozinho, fornece 60%.
Já segundo a Administração de Informação sobre Energia (EIA, na sigla em inglês), do Sistema Estatístico Federal dos EUA, em outubro passado, o país importou quase 4,6 milhões de barris de petróleo por dia do Canadá e 563 mil do México. A produção na maior economia do mundo durante aquele mês foi, em média, de 13,5 milhões de barris por dia.
Apesar da dependência norte-americana com os produtos das nações vizinhas, para Trump, as tarifas devem ser impostas porque os EUA têm “déficits comerciais muito grandes com esses países”. A respeito de taxar o petróleo, afirmou que avaliará se o preço do combustível cobrado pelos dois parceiros comerciais é “justo”.
“O México e o Canadá nunca foram bons para nós no comércio. Fomos tratados de forma muito injusta em questões comerciais. E seremos capazes de compensar isso muito rapidamente, porque não precisamos dos produtos que eles têm”, alegou o mandatário.
Ameaça aos BRICS
O presidente dos EUA também voltou a ameaçar os BRICS nesta sexta-feira, prometendo impor uma tarifa de importação de 100% contra produtos das nações que integram o bloco, caso estas abandonem o dólar para realizar transações entre si. Atualmente, o BRICS é formado por África do Sul, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.
A adoção de uma nova moeda é bandeira do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera o grupo em 2025. Os países-membros não possuem uma moeda comum e as discussões envolvendo a desdolarização ganharam destaque depois que o Ocidente impôs sanções à Rússia devido à guerra na Ucrânia.
“A ideia de que os países BRICS estão tentando se afastar do dólar, enquanto ficamos aqui parados assistindo, acabou”, escreveu o magnata na Truth Social. “Vamos exigir um compromisso desses países aparentemente hostis de que eles não criarão uma nova moeda do BRICS ou apoiarão qualquer outra moeda para substituir o poderoso dólar americano, ou enfrentarão tarifas de 100% e podem esperar dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA”, acrescentou.
O republicano já havia feito a mesma ameaça durante o período de transição de governo, mas é a primeira vez que ele aborda o assunto diretamente após tomar posse na Casa Branca.
“Eles podem encontrar outra nação otária. Não há chance de que os BRICS substituam o dólar americano no comércio internacional ou em qualquer outro lugar, e qualquer país que tente isso deve dizer oi para as tarifas e adeus à América”, concluiu o presidente.
No dia anterior, durante uma coletiva a jornalistas, Lula declarou que haverá uma política de reciprocidade com o governo Trump, destacando que se o republicano taxar os produtos brasileiros, seu governo também taxará os produtos norte-americanos.
(*) Com Ansa