O esboço da declaração final da cúpula do G7 não inclui nenhuma referência direta ao direito ao aborto, uma menção à qual a Itália, que detém a presidência temporária do grupo, se opôs, segundo o documento consultado pela AFP nesta sexta-feira (14/06). A tensão criada entre Emmanuel Macron e Giorgia Meloni foram capa dos jornais italianos.
Estados Unidos, França e União Europeia quiseram manter a mesma redação da declaração final da cúpula do G7 em Hiroshima (Japão) em 2023, que garantia o “acesso ao aborto seguro e legal e aos serviços de cuidados pós-aborto”, embora tenham desistido por falta de acordo com a chefe de governo da Itália, Giorgia Meloni.
“Estávamos defendendo o acordado em Hiroshima, onde o texto era mais explícito, mas não foi possível chegar a um acordo”, explicou um alto funcionário da União Europeia nesta sexta-feira.
“O importante é que o texto traz a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos”, acrescentou.
Os debates sobre a questão foram intensos, em particular entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e Meloni.
Macron disse “lamentar” a posição italiana, enquanto Meloni o acusou de “fazer campanha utilizando um fórum valioso como o G7”, antes do primeiro turno das eleições legislativas antecipadas francesas, em 30 de junho. Ela qualificou a polêmica de “ma-fé”, uma vez que a declaração faz referência ao texto concluído em Hiroshima.
“Reiteramos os nossos compromissos da Declaração dos Líderes de Hiroshima, com o acesso universal, adequado, acessível e de qualidade aos serviços de saúde para as mulheres, incluindo os direitos sexuais e reprodutivos e a saúde de forma abrangente para todos”, limita-se a dizer o projeto de texto consultado pela AFP em Borgo Egnazia, na Apúlia.
Nenhuma referência sobre o direito ao aborto. “Estávamos defendendo o que foi acordado em Hiroshima, onde o texto era mais explícito, mas não foi possível chegar a um acordo”, explicou um alto funcionário da UE. No entanto, ele considerou “importante” que fosse mencionada “a promoção dos direitos sexuais e reprodutivos”.
Campanha eleitoral
Sobre os direitos das comunidades LGBTQ+, o projeto de texto italiano do G7 também é menos abrangente do que o de 2023, embora afirme que há “profunda preocupação com o retrocesso dos direitos das mulheres, meninas e pessoas LGBTQIA+ em todo o mundo, especialmente em tempos de crise.”
Questionado pela imprensa sobre a ausência da palavra “aborto”, o presidente francês disse “lamentar”, ao mesmo tempo que “respeita” uma política que reflete a “escolha soberana” dos italianos.
“Não temos as mesmas escolhas. A França integrou o direito das mulheres ao aborto, a liberdade de dispor do próprio corpo na sua Constituição”, disse Macron. “Não são as mesmas opiniões que existem hoje no seu país”, disse ele a um jornalista italiano, nem “uma visão que seja compartilhada por todo o espectro político”.
A declaração irritou a primeira-ministra italiana, cujo governo de extrema direita apresentou uma lei, aprovada no Parlamento, para autorizar os ativistas antiaborto a ter acesso a clínicas de consulta no sistema de saúde público para mulheres que considerem uma interrupção voluntária da gravidez.
O confronto chegou à primeira página de toda a imprensa italiana na sexta-feira, um sinal claro das tensões entre um presidente francês enfraquecido pela derrota do seu partido nas eleições europeias e uma chefe do governo italiano que, pelo contrário, saiu fortalecida.