‘Solidariedade política’: Lula visita Cristina Kirchner em Buenos Aires após reunião do Mercosul
Ex-presidente argentina, em prisão domiciliar, comparou perseguição judicial e ressaltou paralelos: ‘tentaram silenciá-lo, mas ele retornou pelo voto popular, de cabeça erguida’
Matéria atualizada às 15h51.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, encontrou-se nesta quinta-feira (03/07) com a ex-mandatária da Argentina, Cristina Kirchner, que se encontra em prisão domiciliar por suposto esquema de corrupção e administração fraudulenta durante o seu mandato. A reunião ocorre na esteira da viagem do brasileiro para Buenos Aires para participar da cúpula do Mercosul.
Kichner falou sobre a reunião com o mandatário brasileiro por meio de uma publicação na rede social X. “Recebemos nosso companheiro Lula em minha casa, onde estou em prisão domiciliar por decisão de um Judiciário que há muito deixou de disfarçar sua subordinação política e se tornou um partido político a serviço do poder econômico”.
A líder da esquerda argentina lembrou que “Lula também foi perseguido” e vítima de guerra judiciária que o colocou na prisão, em 2018. “Também tentaram silenciá-lo. Não conseguiram. Ele voltou com o voto do povo brasileiro e com a cabeça erguida”, ressaltou.
Diante das similaridades entre a luta política de Lula e Kirchner, a argentina classificou a visita do brasileiro como “muito mais do que um gesto pessoal: um ato político de solidariedade”.
“Lula voltou no Brasil e nós também voltaremos”
Na mesma mensagem, Kirchner alertou que “os olhos do mundo observam atentamente o desvio autoritário” que o governo do presidente de extrema direita, Javier Milei, provoca na Argentina. A ex-presidente afirma que a situação política em seu país é um “terrorismo de estado de baixa intensidade”.
Ao mencionar a repressão do governo Milei a manifestantes e jornalistas, a líder progressista lembra que houve “muito custo” para construir a democracia argentina “para que agora, passo a passo, eles [membros do governo Milei] a desmontem”.
“Essa mesma democracia está agora sendo esvaziada por dentro por um governo que se diz ‘libertário… mas que só dá liberdade aos mais ricos”, pontuou.
Kirchner denunciou ainda que essa “deriva autoritária” é uma tentativa de transformar a Argentina em um “experimento continental”. “Assim como Pinochet fez do Chile o laboratório dos Chicago Boys [grupo de economistas chilenos formados na Universidade de Chicago responsável pela implementação de políticas econômicas neoliberais durante a ditadura no país], hoje eles querem que nosso país seja o banco de testes de Milei e dos Caputo Boys [em referência ao ministro da Economia de Milei, Luis Caputo]”.
A política pontuou que ambos os países seguem “o mesmo manual”: fome, privatização total e “rendimento absoluto” ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
Kirchner também afirmou que apesar da articulação da extrema direita, seus planos “não vão funcionar”. “Eles sabem que se o povo falar, se organizar e lutar, não conseguirão”.

Kirchner lembrou que “Lula também foi perseguido” e vítima de guerra judiciária que o colocou na prisão, em 2018
Cristina Kirchner/X
“Nós, argentinos, somos muitos para sermos mantidos sozinhos, assustados e vigiados. Temos algo que eles nunca terão: um “nós”. E um “nós” do tamanho e da história do povo argentino não se cala, nem para”, defendeu.
“Esse ‘nós’ sempre volta. Lula provou isso no Brasil e nós também provaremos”, concluiu, por fim.
Sentença contra Cristina Kirchner
A sentença contra Kirchner foi oficializada pela Suprema Corte de Justiça da Argentina em 10 de junho, em função do chamado “Caso Vialidade”, no qual foi acusada de encabeçar um suposto esquema de corrupção e administração fraudulenta durante o seu mandato. A pena foi de seis anos de prisão, além de inelegibilidade perpétua.
Dias após a condenação, Lula publicou uma mensagem em suas redes sociais, dizendo que telefonou à ex-presidente argentina (que exerceu o cargo entre 2007 e 2015) e manifestou a ela “toda a solidariedade”.
“Falei da importância de que se mantenha firme neste momento difícil. Notei, com satisfação, a maneira serena e determinada com que Cristina encara essa situação adversa e o quanto está determinada a seguir lutando”, acrescentou o mandatário brasileiro.
A visita de Lula a Kirchner foi permitida por uma determinação do juiz Jorge Gorini, da 2ª Corte Federal de Buenos Aires, na última quarta-feira (02/07).
‘Afeto de amigos’
Durante a tarde, Lula publicou uma mensagem sobre o encontro. “Fiquei muito feliz em revê-la e encontrá-la tão bem, com força e gana de luta”, afirmou o presidente.
“Tenho por Cristina uma amizade de muitos anos que vai muito além da relação institucional. Um carinho e afeto de amigos, companheiros de campo político e de ideais de justiça social e combate às desigualdades”, acrescentou.
Segundo Lula, “além de prestar minha solidariedade a ela por tudo que tem vivido, desejei toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política”.
“Pude sentir nas ruas o apoio popular que tem recebido e sei bem o quanto é importante esse reconhecimento nos momentos mais difíceis. Que fique bem e siga firme na sua luta por justiça”, concluiu o mandatário.