Com diferentes cenários e projeções em aberto, as eleições presidenciais que serão realizadas neste ‘superdomingo’ (11/04) irão definir o futuro do Equador e do Peru. Cerca de 38 milhões de equatorianos e peruanos vão às urnas decidir quem serão os próximos mandatários das nações sul-americanas em meio à pandemia do novo coronavírus.
O Equador trava o segundo turno entre o candidato de esquerda à Presidência pela coalizão progressista União Pela Esperança (Unes), Andrés Arauz, e o banqueiro Guillermo Lasso, do partido de direita Movimento CREO. Ao contrário dos equatorianos, o Peru celebra a primeira volta de uma disputa na qual cinco nomes na corrida presidencial aparecem em empate técnico. Além disso, alguns departamentos na Bolívia elegem seus novos governadores.
Em entrevista a Opera Mundi, em março, o professor da Sociologia e Política – Escola de Humanidades (FESPSP) Moisés Marques apontou que a gestão da pandemia do novo coronavírus pode ser um fator decisivo nestas eleições da região. Para ele, a depender dos resultados dos pleitos, há “grandes chances” de grupos progressistas voltarem ao poder na região e ocorrer uma “virada” ideológica na América Latina.
Ambos os países registram altos índices de casos e mortes em decorrência da doença. O Peru, por exemplo, é o país com maior taxa de letalidade na América Latina, com 1.619 mortos a cada milhão de habitantes, totalizando, segundo os dados da Universidade Johns Hopkins, 53.978 óbitos e 1.617.864 casos.
Nesta semana, o quarto ministro da Saúde do Equador desde o início da pandemia caiu, após apenas 19 dias no cargo. Somente 1,3% de 17,6 milhões de equatorianos foram vacinados com ao menos uma dose da vacina contra a covid-19.
Equador: Arauz x Lasso
O segundo turno no Equador chega agitado após a primeira volta eleitoral levar quase duas semanas para atingir 100% das urnas apuradas. No pleito de março, Arauz obteve 32,72% dos votos, se confirmando como vencedor do primeiro turno. Lasso, por sua vez, obteve 19,74%.
A disputa pela segunda vaga foi acirrada, já que Yaku Pérez, do partido indígena Pachakutik, recebeu 19,38% dos votos. Pérez chegou a liderar a disputa pela segunda vaga em momentos da apuração, mas perdeu a vantagem para Lasso na última semana.
Com a pequena vantagem de Lasso, mesmo sem apresentar provas, Pérez afirmou que houve fraude nas eleições e pediu diversas recontagens de votos ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país.
Ambos até chegaram a um acordo para solicitar uma recontagem de 50% dos votos em 16 das 24 províncias do país e de 100% dos sufrágios na província de Guayas, onde fica Guayaquil. No entanto, um dia após o acordo, o candidato pela aliança CREO voltou atrás da decisão de apoio à recontagem. Em carta enviada ao CNE, Lasso pediu que fossem promulgados os resultados do primeiro turno eleitoral, “sem prejuízo das correspondentes contestações que se apresentem nos termos da lei”.
Sem recontagens e com Pérez em terceiro lugar, o conselho eleitoral confirmou o segundo turno das eleições entre Arauz e Lasso. Ambas as campanhas foram encerradas nesta quinta-feira (08/04) em distintas regiões do país e obedecendo restrições de aglomeração por conta da covid-19.
Pesquisas de opinião indicam liderança do candidato da Unes em torno de 34% a 37% das intenções de votos, enquanto o nome do CREO acumula 27% a 30%.
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Equador: Andrés Arauz aparece em primeiro em pesquisas de votos; Peru: Verónika Mendoza está em empate técnico com outros quatro nomes
Vencedor do primeiro turno, Arauz recebeu apoio de diversas organizações e movimentos sociais, como do presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). No entanto, cerca de 20% do eleitorado ainda não havia se decidido de quem irá escolher para votar neste domingo. Assim como no Brasil, no país o voto é obrigatório. O não comparecimento pode gerar multa de R$ 220.
Para ser eleito presidente do Equador, o candidato deve obter mais que 50% dos votos ou 40% com uma diferença de dez pontos percentuais em relação a seu rival. Segundo o calendário eleitoral equatoriano, o novo chefe de Estado assume no dia 24 de maio.
Peru: 18 candidatos à Presidência, cinco empatados
Nos últimos três anos no Peru, quatro presidentes assumiram o país. Em 2018, Pedro Pablo Kuczynski foi destituído. Em novembro do ano passado, seu vice, Martín Vizcarra, também foi afastado do cargo. Após a saída de Vizcarra, Manuel Merino assumiu o poder, mas renunciou depois de uma semana. O quarto presidente, Francisco Sagasti, conduz um governo provisório e não é candidato nesta eleição.
O impasse de gestão também se apresenta nas últimas pesquisas de opinião, que apontam empate técnico entre cinco do total de 18 candidatos à Presidência. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, o segundo turno será realizado no dia 6 de junho.
Cerca de 25 milhões de peruanos irão às urnas neste domingo para escolher o futuro mandatário do país. Em estudos de intenção de votos, a disputa aparece acirrada. Nomes como de Verónika Mendoza, do Juntos pelo Peru, candidata do campo progressista, reúne cerca de 12% das intenções. Ao seu lado aparecem Yohny Lescano, candidato de centro-direita do partido Ação Popular, e o direitista Hernando de Soto, do Avança País.
No entanto, outros dois nomes também estão no páreo. A filha do ex-ditador Alberto Fujimori, Keiko Fujimori, do Força Popular, por exemplo, aparece com cerca de 11% nas pesquisas. Já o ex-jogador de futebol George Forsyth, do partido Vitória Nacional, angariou em pesquisas 8% dos votos.
Tal paridade de votos é algo inédito no cenário político do Peru. Em entrevista ao jornal peruano El Comercio, o diretor da consultora Ipsos, Alfredo Torres, disse que essa será a disputa “mais fragmentada” da história recente do país.
As atividades de campanha no Peru se encerraram na quinta-feira (08/04) e, além de eleger o presidente, os peruanos ainda votam para renovar o Congresso, elegendo 130 deputados, dois vices e cinco representantes do parlamento andino. Assim como no Equador e Brasil, o voto é obrigatório. Em caso de não comparecimento, o eleitor pode ter que pagar uma multa.