O surto de gripe A (H1N1) que começou no México vem causando inconvenientes também para os cidadãos que estão fora do país. Muitos foram colocados à força de quarentena, especialmente na China, e o governo mexicano avisou que trará cerca de 70 cidadãos que estão no país asiático de volta ao México. O governo chinês desmentiu as denúncias mexicanas e acusou o país de não ser “transparente” sobre a real situação do surto.
Em entrevista divulgada pela televisão mexicana, o presidente do México, Felipe Calderón, afirmou estar travando uma batalha pela humanidade inteira. “Só podemos nos livrar da gripe se o mundo nos ajudar. Não estamos pedindo caridade nem favores ao mundo, pedimos que não dispensem tratamentos humilhantes nem discriminações”, acrescentou.
Calderón afirmou que só a “ignorância e desinformação” podem explicar as medidas tomadas por alguns países de suspender seus voos ao México e de assumir atitudes discriminatórias contra mexicanos.
A ministra das Relações Exteriores do México, Patricia Espinosa, já havia criticado no sábado (2) as medidas “discriminatórias e carentes de fundamento” adotadas por alguns países contra cidadãos mexicanos por medo de contágio da gripe.
Ela classificou como “inaceitáveis” as medidas adotadas pela China, por “isolar, sob condições inaceitáveis, cidadãos mexicanos que não deram mostras de nenhuma doença”.
Ela se referia a uma família de cinco mexicanos que foram levados à força para um hospital e, depois, impedidos de deixá-lo até que a embaixada do México na China interviesse, permitindo que eles fossem transferidos para um hotel. E a outros quase setenta cidadãos mexicanos, que estão sendo mantidos em quarentena em hotéis do país.
Segundo a embaixada mexicana, até mesmo cidadãos que não estiveram no país recentemente e que, portanto, não tem possibilidade de carregar o vírus, estão isolados.
Por esta razão, a chancelaria mexicana recomendou aos mexicanos, que evitem viajar para a China “enquanto não se corrigirem essas medidas”. “Não há justificativa nenhuma para violentar os direitos de cidadão algum, nem para adotar medidas que não têm base científica nem de saúde pública”, acrescentou a chanceler.
Precaução
Ma Zhaoxu, porta-voz da chancelaria chinesa, disse ontem (4) que o país está tomando os procedimentos corretos. “As medidas envolvidas não se dirigem (exclusivamente) a cidadãos mexicanos, e não há discriminação”, disse Zhaoxu em nota.
“Foi puramente uma questão de quarentena médica”, afirmou o porta-voz, que ainda pediu que o México tenha “plena compreensão das medidas adotadas pela China e lidem com esta questão de forma objetiva e calma”.
O secretário de Saúde e Alimentação de Hong Kong, York Chow, disse ontem que não há discriminação a nenhum cidadão mexicano por conta do surto. E criticou o México por não ser “tão transparente” como os Estados Unidos ao reportar os casos da doença. “O risco procedente do México é simplesmente maior porque a informação que vem desse país não é tão precisa, aberta e transparente como a dos Estados Unidos”, comentou.
Chow também criticou a liberdade dada aos cidadãos de países com muitos casos da doença, afirmando que os governos deveriam “impedir” a viagem daqueles que podem estar contaminados. “Eles devem ser aconselhados a não vir para Hong Kong se estiverem mal, o que minimizaria os riscos de entrada da gripe suína no país” acrescentou.
Depoimento
A estudante mexicana Claudia Medina fez críticas ao tratamento dado pelas autoridades chinesas a ela e aos demais mexicanos ao chegar em território chinês. Ela ainda disse à emissora de televisão Televisa que as autoridades “pediram aos passageiros do México que ficassem separados” e os enviaram a hospitais para a realização de exames depois do desembarque.
A mexicana tinha viajado à capital chinesa no final de abril para fazer um curso acadêmico, mas seu objetivo agora é voltar para seu país em virtude do tratamento recebido. Ela ainda reclamou da insalubridade no hospital onde teve de ser atendida.
O México é o segundo maior parceiro comercial da China na América Latina – perdendo somente para o Brasil – e é também o maior exportador de produtos chineses na América Latina, segundo as estatísticas chinesas.
Argentina
Um vôo especial do governo argentino trouxe de volta cerca de 200 de seus cidadãos que ficaram “presos” no México, depois que a Argentina cancelou voos ao país.
O embaixador da Argentina no México Jorge Yoma declarou que o cancelamento dos voos comerciais se deu principalmente devido à falta de estrutura nos aeroportos argentinos para que a entrada da gripe seja evitada.
“De maneira alguma a suspensão dos voos tem a ver com uma atitude contra o México, ao contrário, nós temos um agradecimento enorme ao México”, pois “salvou milhares de vidas” na época das ditaduras militares, acrescentou o diplomata.
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