Com uma população de 3,3 milhões habitantes, o Uruguai elege neste domingo (26/10) o presidente e o vice-presidente da República, além de 30 senadores e 99 deputados dos 19 departamentos do país.
No início da campanha, os eleitores da atual coalizão governista de esquerda, Frente Ampla, tinham a sensação de que a disputa seria mais tranquila que as anteriores, já que o seu candidato era o ex-presidente Tabaré Vázquez, que deixou a Presidência em 2010 com 80% de popularidade.
No entanto, o Partido Nacional, principal rival da Frente Ampla, realizou eleições internas que culminaram com a indicação de um jovem político que superou todas as expectativas dos analistas e de seus próprios militantes. Luis Lacalle Pou, filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-1995), 41 anos, chegou com bastante “fôlego” na corrida presidencial e tenta demonstrar a necessidade de uma “renovação” na política uruguaia.
Por fora dessa polarização, corre em terceiro lugar o candidato do Partido Colorado, Pedro Bordaberry, filho do ex-presidente e ditador uruguaio Juan María Bordaberry. O sobrenome sempre pesou na vida pública de Pedro Bordaberry, mas, na atual campanha, o colorado saiu da defensiva e partiu para o ataque não somente à gestão do governo José Mujica como também ao seu rival direto Lacalle Pou. Bordaberry insinuou em diversas oportunidades a falta de experiência do deputado e candidato Lacalle Pou, já que este último nunca ocupou cargos no Poder Executivo. Bordaberry além de senador, já foi Ministro do Interior na gestão do também colorado presidente Jorge Battle.
Propostas
Apesar da insistência dos candidatos da oposição, o ex-presidente Tabaré Vázquez não aceitou participar de nenhum debate político com os seus adversários. Vázquez buscou fazer uma campanha com grandes giros pelo interior do país, onde a Frente Ampla perdeu votos nas eleições de 2009. O ex-presidente destacou as conquistas dos últimos dez anos de governos frenteamplistas e “chamou a população a não retroceder”.
Agência Efe
Ex-presidente Tabaré Vázquez busca novo mandato no Uruguai
Com o lema “Juntos pela terceira vez”, Tabaré Vázquez propõe um terceiro governo de esquerda, com ênfase nos crescimentos econômico e produtivo, a geração de empregos qualificados e o investimento em infraestrutura física, além da melhora nos índice de educação e segurança.
Sem Vázquez nos debates, o ponto de maior tensão da campanha eleitoral foram os enfrentamentos entre os dois candidatos da oposição, com acusações de extorsão e acordos políticos para diminuir mutuamente as críticas. Com exceção desse momento tenso, o resto da campanha dos candidatos foi marcado por um debate mais programático e menos agressivo, algo que se espera que continue em um eventual segundo turno.
A campanha política de Luis Lacalle Pou foi marcada pelo lema “Pela positiva”, com o qual buscou evitar os enfrentamentos com Tabaré Vazquez e marcar uma agenda propositiva. Para Lacalle Pou, esse lema representa também a conduta que teria em um eventual governo. “Faz 20 meses que não insultamos nem falamos mal de ninguém e isso que bateram na gente”, ressaltou.
A candidatura de Lacalle Pou surgiu após duras disputas entre diversos setores do Partido Nacional na eleição interna realizada em junho passado. Lacalle Pou venceu o senador Jorge Larrañaga por uma pequena diferença de votos e, depois de algumas semanas, este último se somou à candidatura de Lacalle Pou como vice-presidente. “[A união] é o mais forte que podemos ter, e já não é só no partido, mas também com todos os uruguaios”, afirmou Lacalle Pou em comício na cidade de San José.
“Governar com os melhores e manter o que está bom”. A campanha “Pela Positiva” também incluiu outras características que, em certos momentos, se assemelhou à campanha de Marina Silva no Brasil. Lacalle Pou manifestou publicamente que queria governar com os melhores quadros técnicos e políticos do Uruguai, independente de partidos políticos, e anunciou como sua eventual ministra de Economia Azucena Arbeleche, funcionária que integrou a equipe econômica dos últimos três governos frenteamplistas.
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O candidato do Partido Nacional destacou que aqueles programas sociais implementados pela Frente Ampla que estão dando certo serão mantidos. Ao mesmo tempo, irá fazer correções em algumas áreas, como segurança pública e educação, onde as estatísticas mostram que são as maiores preocupações da população. “Manter o que está bem feito, mudar o que está mal e fazer o que nunca foi feito”, afirmou Lacalle Pou.
Enquanto isso, o candidato pelo Partido Colorado, em terceiro lugar nas pesquisas, buscou na última semana um esforço final da sua militância para chegar ao segundo turno. Bordaberry acredita que os indecisos podem levá-lo para a seguinte etapa das eleições, como ocorreu com Aécio Neves em Brasil.
Diferenças entre as candidaturas
A gestão do governo em segurança pública foi o alvo principal das críticas das candidaturas de oposição. Segundo Bordaberry, desde 2005 [início da gestão de Tabaré Vazquez] os roubos à mão armada aumentaram 300% no país. O colorado foi um dos principais impulsores da campanha pela redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, tema que até o último minuto Lacalle Pou tentou se esquivar e que será objeto de plebiscito também neste domingo.
Já Tabaré Vázquez reconheceu que houve um aumento dos roubos com violência no país e se comprometeu a reduzir esse tipo de crime. “Nos comprometemos a frear o crescimento de roubos à mão armada e, em cinco anos, reduzir o número de furtos e roubos em um mínimo de 30%. E vamos cumprir”, afirmou Vázquez.
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Para o Ministro do Interior, Eduardo Bonomi, houve uma banalização com relação ao tema, citando avanços do governo Mujica como o maior aumento real dos salários dos policiais na história do Uruguai, além de investimentos em infraestrutura, material de apoio (armas e coletes à prova de bala) e formação.
O presidente Mujica, em recente entrevista à Telesur, questionou as denúncias da oposição, destacando que a maior prova de que o Uruguai é o país mais seguro da América Latina é o seu próprio presidente, em clara referência ao seu estilo de vida relaxado [o presidente evita andar com guarda-costas e vive em uma chácara em Montevidéu com escassa proteção policial]. “Não ando com uma parafernália de 100 seguranças. Quero ver qual presidente no mundo anda assim”, afirmou Mujica.
Outro dois temas que marcaram as diferenças entre os candidatos foram as leis aprovadas nos últimos governos frenteamplistas que regulamentaram o trabalho rural com uma jornada laboral de 8 horas diárias e o trabalho doméstico. Ambas as leis não foram votadas pelo candidato Lacalle Pou, o que provocou a veiculação de spots publicitários criticando o nacionalista.
As diferenças não estiveram presentes somente entre os candidatos à Presidência da República. O próprio presidente Mujica teve que sair em defesa de seu governo essa semana, após o candidato Tabaré Vázquez questionar a lei que regulamentou a maconha no país, que ainda se encontra pendente para iniciar a venda em farmácias, prevista para 2015. Vázquez afirmou ao Semanário Búsqueda que era “incrível” que a lei permitisse a venda da maconha em farmácias e adiantou que “acompanhará de perto a implementação da lei” e caso entenda que o processo não está funcionando, revisará a legislação. Mujica, o maior impulsor da lei, respondeu a Vázquez: “problema dele, que discuta com o Parlamento”.
Pesquisas
As quatro últimas pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta quinta-feira (23) apontaram para um segundo turno entre Tabaré Vázquez e o nacionalista Luis Lacalle Pou.
Agência Efe
Surpresa nas eleições internas do Partido Nacional, Lacalle Pou deve ir ao segundo turno com Vázquez
As pesquisas também coincidem que nenhum partido político obterá maioria parlamentar no Congresso, ao contrário do que ocorreu nas duas últimas eleições, ocasiões em que a Frente Ampla conquistou a maioria das bancas do Parlamento.
Partidos políticos com pouca estrutura e recursos, como o PERI (Partido Ecologista Radical Intransigente), o PT (Partido de los Trabajadores), o UP (Unidad Popular) e o próprio PI (Partido Independente) buscam estar na próxima legislatura e podem se transformar no fiel da balança para o futuro governo que deverá construir alianças para assegurar a governabilidade.
Segundo as projeções da empresa Factum, a Frente Ampla tem entre 44% e 46% das intenções de voto, enquanto o Partido Nacional possui entre 31% e 33%. Já o Partido Colorado obteria de 14% a 16% e o Partido Independente, de 3% a 4%.
Caso nenhum candidato alcance mais de 50% dos votos válidos hoje, o povo uruguaio voltará às urnas no dia 30 de novembro. O sufrágio é obrigatório no país e os eleitores comparecerão a mais de 7 mil locais de votação.