As tarifas de 25% impostas pelo governo dos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio de todos os países confirmadas na última terça-feira (11/03) entraram em vigor à meia-noite desta quarta-feira (12/03).
A medida afeta diretamente o Brasil, que é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, exportando cerca de 18% de todo metal que as siderúrgicas brasileiras produzem.
Os EUA são grandes compradores dos metais em todo o mundo. A decisão do país tende a afetar o mercado global do setor, uma vez que a medida é aplicada contra todos os países “sem exceções ou isenções”.
A taxação foi anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, em fevereiro passado. “Nossa nação precisa que o aço e o alumínio permaneçam na América [Estados Unidos], não em terras estrangeiras. Precisamos criar para proteger o futuro ressurgimento da manufatura e produção dos EUA, algo que não se vê há muitas décadas”, disse o mandatário na ocasião.
Como o Brasil vai responder?
Em fevereiro, quando Trump anunciou a medida econômica, o governo brasileiro preferiu ter cautela e esperar a efetivação da medida antes de reagir. Agora, existe a possibilidade de o país impor medidas retaliatórias contra os EUA. Estão na mesa a taxação de importações de produtos de tecnologia dos EUA, o que incluiria a atuação das big techs, gigantes da tecnologia, como Google, Meta e X.
A mais recente declaração do presidente Lula sobre o tema ocorreu na última terça-feira (11/03), quando criticou a administração de Trump. Em Betim, no estado de Minas Gerais, o mandatário declarou que o mundo “não comporta mais mentiras” e que o Brasil “não quer ser maior do que ninguém, mas não aceita ser menor”.
“A economia brasileira vai continuar crescendo, a gente vai continuar gerando emprego, a inflação vai baixar, e todo mundo vai ganhar. Não adianta o Trump ficar gritando de lá porque eu aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito, porque eu aprendi a respeitar. É assim que a gente vai governar esse país”, declarou Lula.
Apesar de não mencionar a retaliação das tarifas, em 14 de fevereiro, poucos dias após o anúncio original de Trump, Lula afirmou em entrevista à Rádio Clube que o Brasil deverá tratar com “reciprocidade” medidas como as anunciadas pela Casa Branca.
Se taxar o aço brasileiro, nós vamos reagir comercialmente ou vamos denunciar a Organização [Mundial] do Comércio [OMC] ou vamos taxar os produtos que a gente importa deles”, disse Lula.
“Sinceramente, não vejo nenhuma razão para o Brasil procurar contencioso com quem não precisa. Agora, se tiver alguma atitude com o Brasil, haverá reciprocidade. Não tem dúvida, haverá reciprocidade do Brasil em qualquer atitude que tiver contra o Brasil”, reforçou.
A sugestão do presidente sobre uma denúncia contra os EUA na OMC é baseada em um caso similar que ocorreu em 2002. Na época, Lula durante seu primeiro governo, denunciou o governo norte-americano devido a subsídios que concederam aos seus produtores de algodão.
Sete anos depois, em 2009, a OMC autorizou o Brasil a aplicar sanções contra os EUA: uma lista mencionando mais de 200 itens norte-americanos, entre eles produtos alimentícios, farmacêuticos e têxteis, foi preparada para a taxação. O caso só foi resolvido em 2014, quando Brasília e Washington assinaram um acordo.

Presidente Lula durante visita à Usina Gerdau, em Ouro Branco (MG), para cerimônia na maior produtora de aço do Brasil
Após a confirmação desta terça-feira (11/03), o governo brasileiro convocou uma reunião para avaliar o cenário. Além do Palácio do Planalto, o encontro envolve o Ministério da Indústria e o Ministério das Relações Exteriores.
Segundo a colunista Letícia Casado, do UOL, com a efetivação das tarifas contra o aço e alumínio do Brasil, o governo Lula “decidiu manter de forma discreta as negociações com os EUA”.
“A orientação em Brasília é que o governo não deve ficar acuado e tampouco cair no bullying de Donald Trump, que tem disparado ataques protecionistas contra diversos países cujas relações bilaterais são historicamente boas. E, menos ainda, entrar no embate do “toma lá, dá cá”, relata.
Segundo a jornalista, a equipe de Lula entende que Trump não está promovendo essencialmente contra o Brasil, mas sim contra um setor da economia. O objetivo da descrição “é revogar a sobretaxa aplicada ou definir novas cotas de importação”.
União Europeia aplica retaliação
Enquanto o governo brasileiro avalia a forma de retaliar as taxas impostas pelos EUA. A União Europeia anunciou nesta quarta-feira (12/03) tarifas alfandegárias de 25% contra US$ 26 bilhões em importações de produtos norte-americanos.
Segundo a Comissão Europeia, poder Executivo da UE, a medida passará a valer em 1º de abril e estará “plenamente operacional” até o dia 13 do mesmo mês.
Com isso, Bruxelas não renovará a suspensão da retaliação praticada contra os EUA entre 2018 e 2020, na guerra comercial deflagrada no primeiro governo Trump (2017-2021).
“Deploramos profundamente as tarifas americanas impostas à Europa. As tarifas são impostos, um mal para as empresas e ainda pior para os consumidores”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“Hoje a Europa toma contramedidas fortes, mas proporcionais. A UE precisa proteger consumidores e empresas”, acrescentou a alemã, destacando que o bloco “continua aberto para negociar” com a Casa Branca.
A lista de produtos americanos atingidos inclui perus com mais de 185 gramas, carne bovina desossada, iogurtes e outros derivados de leite, gengibre, curry e produtos de higiene pessoal, como shampoos e pastas de dente.
(*) Com Ansa, Brasil de Fato e informações do UOL