O ministro das Relações Exteriores do México, Marcelo Ebrard, afirmou ao jornal New York Times que a política de asilo humanitário do país é uma “tradição nacional” que talvez os Estados Unidos “não conheçam”. A declaração ocorreu após o governo mexicano ajudar um grupo de jornalistas do periódico a saírem do Afeganistão.
A chegada de 24 famílias que viviam no país agora controlado pelo Talibã no Aeroporto Internacional Benito Juárez, na Cidade do México, foi a última parada de um translado que saiu de Cabul, capital afegã, em um avião da Força Aérea do Catar em direção ao México.
Todos que chegaram ao país latino-americano solicitaram visto humanitário ou asilo político. O governo mexicano já havia anunciado que estava disposto a receber os afegãos após a retomada do poder do grupo fundamentalista Talibã.
Segundo o New York Times, além dos repórteres do jornal, a chancelaria mexicana também ofereceu o resgate aos funcionários de outros veículos, como o Wall Street Journal e ao Washington Post.
A saga começou quando o ex-chefe dos escritórios do The Times em Cabul e México Azam Ahmed entrou em contato com Ebrard perguntando se o governo mexicano estaria “disposto a receber refugiados” do Afeganistão em seu território. De forma rápida, o ministrou afirmou que não seria possível naquele momento.
Mesmo assim, Ebrard entrou em contato com o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, para explicar a situação. O mandatário concordou com a ajuda, afirmando que a “situação” no Afeganistão estava “indo muito rápida e a decisão deveria ser tomada na mesma velocidade”, disse o chanceler ao jornal.
Escrevendo de volta a Ahmed, o chanceler garantiu que o México estava pronto para ajudar, colocando à disposição uma companhia aérea fretada com destino ao país ou a outro governo, e declarou que aceitaria uma lista de afegãos.
Reprodução/ @m_ebrard
Pelo Twitter, chanceler disse que, ao receber os trabalhadores da imprensa, lhes deu as ‘mais calorosas boas-vindas’
“Estamos profundamente gratos pela ajuda e generosidade do governo do México”, disse AG Sulzberger, editor do NYTimes, declarando que a ajuda “foi inestimável para tirar nossos colegas afegãos e suas famílias do perigo”.
Diversos jatos com retirada de afegãos partiram do Catar, já que, após o aeroporto de Cabul fechar apenas para voos militares norte-americanos, o país catari estava permitindo que alguns aviões dos Estados Unidos poderiam pousar apenas dando a certeza de que os refugiados seguiriam para um terceiro território.
Ainda de acordo com o jornal, o embaixador do Catar em Cabul “supostamente” liderou diversos comboios para um local seguro, conseguindo evacuar afegãos, incluindo jornalistas, por Doha. No entanto, alguns detalhes dos traslados estão sendo mantidos em sigilo para não prejudicar os canais de fugas.
Além dos jornalistas, também desembargou no México cinco cientistas afegãs que faziam parte da equipe de robótica Afhgan Dreamers, responsável por desenvolver respiradores para atender pacientes com covid-19 no seu país natal.
“Agora queremos dizer de todo o coração ‘estão em suas casas’ e o México honra sua tradição e o futuro que queremos ter”, declarou o ministro de Relações Exteriores.
Na América Latina, Chile e Costa Rica também manifestaram disposição em receber os afegãos. O Brasil anunciou que poderia recebê-los, mas destacou que os refugiados devem seguir o processo facilitado de pedido de refúgio, similar ao procedimento aplicado com os venezuelanos.
(*) Com Brasil de Fato.