Depois de Estados Unidos e Reino Unido, o Canadá está sendo acusado de promover atos de tortura contra prisioneiros no Afeganistão. A denúncia foi feita por um diplomata canadense que integrou a missão do país no país asiático durante os anos de 2006 e 2007.
Richard Colvin prestou depoimento ao parlamento do Canadá na última quarta-feira (18) e afirmou que provavelmente todos os prisioneiros transferidos por tropas canadenses para o serviço de inteligência afegão foram torturados. “Segundo nossas informações, é provável que todos os afegãos que entregamos [ao governo do Afeganistão] foram torturados”, relatou Colvin ao parlamento. “Nos interrogatórios feitos em Kandahar, a tortura era um procedimento operacional padrão.”
Jalil Rezayee/EFE (21/11/2009)
Membro da Isaf (Força Internacional de Assistência para Segurança, na sigla en inglês), da qual o
Canadá participa, resguarda uma cerimônia de anistia a ex-membros do Talibã em Herat
De acordo com o diplomata, as formas mais comuns de tortura usadas pelas tropas do Canadá eram o espancamento, chicotadas com cabos de eletricidade, choques elétricos, queimaduras, ferimentos com facas e estupros. Ele disse ainda que boa parte dos presos torturados no Afeganistão não tinha qualquer ligação com grupos terroristas ou com o Talibã. “Em outras palavras, nós prendemos e submetemos a severas torturas um grande número de inocentes”, afirmou.
Repercussão
Os reflexos do depoimento de Colvin foram imediatos sobre o governo canadense. Segundo o diplomata e os membros de partidos da oposição, o primeiro-ministro Stephen Harper e seus assessores diretos – alguns deles nomeados por Colvin em seu depoimento – foram coniventes com a tortura de prisioneiros.
Harper ainda não se pronunciou sobre as declarações de Colvin. Membros do governo, porém, já afirmaram que o depoimento é baseado em informações não comprovadas. “Não existe uma única prova de abusos cometidos na transferência de prisioneiros talibãs pelas tropas canadenses”, disse o ministro da Defesa, Peter Mackay.
O chefe das forças armadas do Canadá, general Walter Natynczyk, disse domingo (22) que uma investigação já foi aberta. Ele afirmou também que essa não é a primeira vez que suspeitas de tortura são investigadas. “Já tivemos que suspender as transferências de presos mais de uma vez”, disse.
Retirada
As tropas canadenses estão no Afeganistão desde janeiro de 2002. Atualmente, o Canadá tem 2,8 mil soldados no país. Segundo o primeiro-ministro Harper, as forças armadas do Canadá deixarão o Afeganistão em 2011. Contudo, o governo do Canadá sofre forte pressão dos Estados Unidos, que continuam a enviar mais soldados à região.
Desde o início de seu governo, o presidente norte-americano, Barack Obama, aumentou de 21 mil para 62 mil o número de soldados norte-americanos no Afeganistão. No mês passado, jornais noticiaram planos dos EUA de enviar mais 13 mil soldados ao país.
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