O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto nesta quarta-feira (29/01) ordenando que se amplie o centro de detenção da baía de Guantánamo para abrigar até 30 mil imigrantes deportados do país.
Essa baía, um enclave norte-americano em Cuba, já abriga uma prisão para estrangeiros com capacidade para cerca de 800 prisioneiros que não são protegidos pelas leis vigentes em solo dos Estados Unidos. A maior parte dos detidos sequer foram informados dos motivos de estarem ali e há dezenas de denúncias de prática de tortura. Muitos permaneceram anos e foram libertados sem acusações.
A ordem executiva de Trump instrui o Pentágono e o Departamento de Segurança Interna a abrir um centro “para deter os piores imigrantes ilegais criminosos que ameaçam o povo americano”. “Alguns são tão ruins que nem confiamos nos países de origem para mantê-los. Como não queremos que voltem, vamos enviá-los a Guantánamo”, disse.
O decreto para a ampliação de Guantánamo foi assinado pouco depois das duas câmaras do Congresso aprovarem uma lei que permitirá aos agentes de imigração deter e deportar imigrantes por delitos menores, como furto ou roubo.
“Este memorando é emitido para deter a invasão da fronteira, desmantelar cartéis criminosos e restaurar a soberania nacional”, afirmou Trump.
A base naval dos EUA na Baía de Guantánamo já tem uma instalação para imigrantes recolhidos no mar, separada da prisão de alta segurança para estrangeiros suspeitos de terrorismo, criada depois dos ataques de 11 de setembro às Torres Gêmeas.
Uma prisão e centro de tortura à margem da lei
O centro de alta segurança não consta nos relatórios públicos do governo, mas já foi objeto de inúmeras denúncias de tortura e condições sub-humanas. No começo de janeiro, segundo o Pentágono, 15 prisioneiros permaneciam em Guantánamo, o menor número nos 22 anos de existência da prisão.
Nas últimas semanas de seu governo, o presidente Joe Biden agilizou a transferência dos detidos para outros países.
Cuba respondeu ao anúncio através de seu ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, e de seu presidente, Miguel Díaz-Canel, que chamou o plano de “ato de brutalidade”.

Manifestação em Washington pelo fechamento da prisão de Guantánamo
”Aprisionar imigrantes em um enclave onde criou centros de tortura e detenção por tempo indeterminado demonstra desprezo pela condição humana e pelo direito internacional”, publicou Rodríguez.
Também a Anistia Internacional criticou a decisão, lembrando que Guantánamo tornou-se tristemente famosa como “local de tortura, detenção indefinida sem acusação ou julgamento e outras práticas legais”.
A organização disse que, em vez de ampliar, os Estados Unidos deveriam fechar a prisão.
Manifestantes pró-Palestina também serão deportados
O presidente norte-americano assinou na quarta-feira também outra ordem executiva “para combater o antissemitismo” e prometeu deportar estrangeiros que participem de protestos pró-Palestina. No caso de estudantes universitários, Trump prometeu que seus vistos seriam cancelados.
“A todos os estrangeiros residentes que se juntaram aos protestos pró-jihadistas, avisamos: em 2025, nós os encontraremos e os deportaremos”, disse. ”Os campi universitários foram infestados de radicalismo como nunca antes”, acrescentou.
Grupos de direitos humanos e juristas disseram que a medida violaria os direitos constitucionais de liberdade de expressão
“A primeira Emenda protege todos nos Estados Unidos, incluindo cidadãos estrangeiros estudando em universidades norte-americanas. Deportar não cidadãos com base em seu discurso político seria inconstitucional”, disse à Reuters Carrie DeCell, advogada do Instituto Knight Primeira Emenda, da Universidade da Columbia.
Congresso aprova todas as indicações de Trump
Também os democratas no Congresso, onde agora são minoria, criticaram ambas decisões – sobre a ampliação Guantánamo e deportação de manifestantes estrangeiros. Eles dizem que Trump tem violado repetidamente a lei desde que voltou ao poder.
O Senado confirmou até agora todos as indicações de Trump para o seu governo. Até o Secretário de Defesa Pete Hegseth, acusado de agressões sexuais e abuso de álcool, foi aprovado por 51 a 50.
Ele foi responsável pela proibição de soldados transgênero e todo tipo de programa voltado a promover a diversidade. Na quarta-feira, revogou as proteções de segurança de Mark Milley. Ele foi a principal autoridade militar no primeiro governo de Trump, mas depois passou a criticá-lo.
O secretário de Saúde escolhido por Trump, Robert F. Kennedy Jr, um notório anti-vacina, foi objeto de críticas no Congresso. Mas os republicanos endossaram sua indicação.