Trump toma posse hoje prometendo expansionismo, deportações e mais tarifas, diz El País
Periódicos europeus mostram União Europeia preocupada com nova gestão republicana, enquanto líderes de extrema direita comemoram
A posse de Donald Trump para o seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos acontece nesta segunda-feira (20/01) em Washington, capital do país. Para o jornal espanhol El País, a volta do republicano ao poder traz certo temor aos países da Europa, já que as promessas do magnata apontam para escalada de tarifas aduaneiras, ameaça de anexar a Groenlândia ou de abandonar a Organização para o Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
E o medo de uma guerra comercial, adverte o periódico, é bem justificado, uma vez que União Europeia demorou quase três anos para implementar as medidas que visam melhorar sua “dilacerante perda de competitividade face a Washington e Pequim”.
Mas, enquanto alguns prendem a respiração, outros festejam o regresso triunfante de Trump à Casa Branca. El País lembra que, na Europa, ele tem “aliados poderosos numa extrema direita que partilha suas ideias e posições radicais sobre a migração, meio ambiente, questões sociais e uma visão mais reducionista do conselho geopolítico global, com menos aliados com ideias e políticas semelhantes e mais parceiros comerciais e interesses transnacionais.”
O trumpismo estimula a divisão dentro do bloco europeu, o que se alinha com o nacionalismo anti-UE da ultradireita do velho continente, apontou o jornal.
Esses radicais crescem a cada eleição na Alemanha, França, Áustria, Itália, Espanha e Romênia. Também conquistam setores da direita liberal tradicional e, nas eleições de 2024, produziram o Parlamento Europeu mais direitista em décadas. Com o apoio de Trump, o setor tende a crescer, temem os setores liberais.
Vitória de Trump normaliza extrema direita europeia
“Não é só que Trump tenha aliados na extrema direita ou que toda essa corrente, muito diversa, apoie ou seja semelhante à norte-americana, mas seu regresso os normaliza e pode levar a um ‘efeito imitação’”, disse ao El País. “Os republicanos e seus aliados vão tentar definir agendas europeias e promover a divisão, a fim de alinhar melhor suas políticas comerciais e tecnológicas”.
É o que ocorre com o trabalho de agitação que está fazendo o oligarca tecnológico Elon Musk, o maior apoiador da campanha de Trump e que ocupará papel de destaque na sua administração. Além de apoiar abertamente partidos de ultradireita europeus, como a Alternativa para a Alemanha (AfD), o bilionário critica a regulamentação excessiva da União Europeia.
O jornal espanhol afirmou que a volta de Trump terá um forte impacto no bloco e que não serão poucos os desafios que os países europeus terão de enfrentar.
Para o diário espanhol, os Estados Unidos contribuirão menos para a segurança da Europa, o que significa que os países da região terão que gastar mais não só em defesa, como na reconstrução da Ucrânia, por exemplo.

RS/Fotos Públicas
Trump discursa para milhares de pessoas na véspera da sua posse
Deportação, ideologias e mais
O jornal britânico The Guardian, assim como o francês Le Monde, destacaram o comício que Trump fez domingo (19/01), véspera de sua posse, em Washington.
Falando para milhares de apoiadores, ele prometeu que no primeiro dia de seu mandato haveria uma enxurrada de ordens executivas para atacar temas como a imigração ilegal, direitos transgêneros e outras prioridades da direita.
Ele repetiu a promessa de campanha de lançar o maior esforço de deportação da história dos EUA, expulsando milhões de imigrantes.
O diário britânico disse que o comício de pré-posse foi fato inédito, diferente de tudo o que já foi feito por outros presidentes e destacou as promessas trumpistas de combater as ideologias “woke” (de defesa de direitos das minorias).
Já o Le Monde afimrou que, “numa mistura clássica de improvisações, piadas e interações com os fãs e somando-se ao esqueleto de discursos preparados, Donald Trump multiplicou as promessas de ruptura”.
Por outro lado, o jornal lembrou que o discurso quase não abordou suas promessas de rápida redução do custo de vida e que mencionou rapidamente o aumento das tarifas alfandegárias, que causam verdadeiro pânico nos europeus.
‘Devemos rejeitar a agenda globalista’
Uma das reportagens do Le Monde ouviu alguns dos que participaram do comício, em outra destacou as convergências ideológicas de Trump com sua “nova amiga” europeia, a ultradireitista presidente da Itália, Giorgia Meloni.
A reportagem especulou sobre o papel que ela poderia desempenhar na relação entre os Estados Unidos e a Europa, lembrando que Meloni já se encontrou com Trump duas vezes após sua eleição.
O jornal português O Público apontou basicamente os mesmos pontos, mas acrescenta a quase certeza de que os Estados Unidos sairão do Acordo de Paris, que estabelece compromissos com medidas de combate ao aquecimento global.
A expectativa é de que Trump reverta o legado da administração democrata e cumpra algumas de suas mais controversas promessas de campanha.