O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, comparou nesta
terça-feira (21/08) o fim dos programas de assistência financeira da União
Europeia (UE) que socorreram o país desde 2010 ao término de uma “Odisseia moderna”.
Os pacotes de ajuda impuseram duras medidas de austeridade contra Atenas.
O mandatário gravou um vídeo na ilha de Ítaca, a terra natal
de Ulisses, personagem principal da obra do escritor grego Homero, ‘Odisseia’.
No livro, o protagonista consegue voltar à terra natal após uma jornada de
vinte anos.
O programa de ajuda financeira foi encerrado na segunda (20/08).
Entre 2010 e 2018, a Grécia recebeu 288,7 bilhões de euros com o intuito de
sanar uma das piores crises financeiras de sua história, que, segundo Atenas,
acabou.
Dessa quantia, 256,6 bilhões vieram da UE e 32,1 bilhões, do
Fundo Monetário Internacional (FMI), que, em conjunto com a Comissão Europeia e
o Banco Central Europeu, formaram a troika, que impôs uma série de políticas de
austeridade implantadas pelo governo de Tsipras.
Discurso
Tsipras afirmou que a “Odisseia moderna” teria
começado em 2010 e que o fim das ajudas internacionais marcou “um novo
dia, de redenção, mas também o amanhecer de uma nova era”.
Em pouco mais de sete minutos, o presidente evocou imagens
como a de “viagens em mares tempestuosos’ e explicou que os “resgates
pela recessão, a austeridade e a desertificação social finalmente
terminaram”. “Nosso país reconquista seu direito de planejar seu
próprio futuro”, disse.
“Deixamos para trás as Simplégades atrás de nós”,
afirmou, referindo-se à passagem de Ulisses pela região do estreito de Bósforo,
no sudeste europeu, famosa por ter rochedos que afundavam navios. O
primeiro-ministro grego considerou que o Poder Executivo cumpriu a missão que
assumiu em 2015, que era tirar o país das restrições impostas por memorandos da
Comissão Europeia e da austeridade sem fim”.
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Para Tsipras, fim do pacote da UE é término de ‘Odisseia moderna’ (Foto: Governo da Grécia)
Ele ainda recordou os dramas econômicos e sociais destes anos. “Uma viagem que nunca foi fácil, mas que sempre teve um destino, mesmo nos dias mais escuros, nas tempestades mais fortes, afirmou.
Tsipras também disse ter escutado muitas vezes “as sirenes do ‘tudo é inútil’, de que as coisas na Grécia não mudariam, de que os memorandos ficariam para sempre, de que não fazia sentido resistir contra Lestrigões e Ciclopes [gigantes da obra de Homero] e que pequena e débil Grécia não poderia jamais vencer esses desafios”.
“Hoje, neste ponto de partida, não cometeremos mais a Hybris [o conceito clássico de desequilíbrio] de ignorar as lições dos memorandos. Não nos deixaremos levar pelo esquecimento, não nos tornaremos em lotófagos [povo citado na Oddiseia que se alimentava de plantas narcóticas]. Não nos esqueceremos jamais das causas e das pessoas que levaram o país aos memorandos”, acrescentou.
Em seguida, Tsipras atacou “a proteção das grandes fortunas dos impostos, o entrelaçamento de interesses, a corrupção generalizada, a impunidade de uma série de grupos de negócios e grupos editoriais que durante anos acreditaram que o país pertencia a eles, o cinismo e o desprezo de uma elite política que acreditava que a Grécia era um feudo e os gregos, seus dóceis súditos”, afirmou.
O primeiro-ministro também disse que os gregos não se esquecerão dos países que os desprezaram e aqueles que os apoiaram durante a crise. “Agora, temos novas batalhas pela frente. Os ‘pretendentes’ [homens que tentaram se casar com a mulher de Ulisses, Penélope, quando acreditavam que o herói estava morto] contemporâneos estão aqui diante de nós. São aqueles que construíram, à sua imagem e semelhança a Grécia da corrupção, dos interesses e do poder para poucos. Aqueles que queriam o poder sem ser incomodados, sonegar impostos, tornarem-se parasitas ignorando o interesse público. aqueles que se consideram acima da lei ou de qualquer norma. E que tremem ante a ideia de uma justiça independente”, prosseguiu.
“Não deixaremos Ítaca nas mãos deles. Agora que atingimos nossa meta, temos a força de dar à nossa terra o que ela merece. Porque Ítaca é só o começo”, finalizou.
(*) Com Ansa