O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, firmou ontem (15/11) um decreto que revoga a lei que garantia a autonomia das regiões separatistas de Donetsk e Luganski, no leste do país. A lei, aprovada em setembro, estabelecia três anos de autogoverno para as duas regiões sob controle de separatistas pró-Rússia.
De acordo com informações da BBC, o decreto retira o status especial de Donetsk e Lugansk e estabelece que todas as instituições estatais deixem de realizar trabalhos nas regiões em até uma semana. A medida também estipula o encerramento das operações do Banco Central da Ucrânia nas áreas controladas por separatistas em até um mês. Ainda segundo a BBC, o presidente ucraniano ordenou a retirada de todos os serviços estatais nas duas regiões, inclusive o financiamento para hospitais e escolas.
Agência Efe
O presidente Petro Poroshenko no Parlamento ucraniano em setembro
O governo e o Parlamento ucranianos já haviam sinalizado no início de novembro que o status especial das regiões poderia ser retirado. Na ocasião, Kiev anunciou que não mais repassaria verbas para as regiões separatistas por considerar que Lugansk e Donestsk violaram o tratado de paz firmado em Minsk em setembro. Para Kiev, os separatistas não cumpriram com o estabelecido quando resolveram realizar eleições sem autorização e reconhecimento de Kiev. Na votação ocorrida no dia 02 de novembro, os líderes do movimento separatista pró-Rússia Alexander Zakharchenko e Igor Plotnitski foram escolhidos como chefes das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, respectivamente. O governo ucraniano, bem como a União Europeia e a Alemanha, não reconheceu a votação — somente Moscou aceitou o pleito.
De acordo com a rádio Voz da Rússia, Plotnitski declarou que o decreto firmado ontem é “um ato de genocídio” e que o presidente Poroshenko pretende transformar o leste da Ucrânia em “um campo de concentração”.
Violação do cessar-fogo
Ao longo da última semana, saltaram denúncias, de ambos os lados, de rompimento da trégua assinada em setembro. “O cessar-fogo só existe no papel. No terreno, a violência aumenta a cada dia”, disse o general Philip Breedlove, comandante supremo das forças da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) na Europa. Os movimentos autonomistas de Lugansk e Donetsk também acusam o governo central ucraniano de desrespeitar o acordo.
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Desde quarta (12/11), o cenário ficou mais tenso após as acusações feitas pela Otan de que a Rússia teria enviado tropas e armamento pesado para a região da fronteira com a Ucrânia. Observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) também alegam ter visto 43 caminhões militares sem distintivo que transportavam plataformas de lançamento de mísseis e canhões. Moscou nega as declarações.
No dia seguinte (13/11), Kiev enviou tropas para o leste da Ucrânia “por medo de uma nova ofensiva militar” por parte dos manifestantes pró-Rússia de Donetsk e Lugansk. O governo afirmou que não tinha a intenção de renunciar ao cessar-fogo; no entanto, o ministro da Defesa ucraniano, Stepan Poltorak, ressaltou que a principal tarefa no momento é “nos prepararmos para uma ação militar”.
Também na quinta-feira, quatro soldados ucranianos morreram e 18 pessoas ficaram feridas após confrontos, de acordo com informações divulgadas por Kiev. Os separatistas, por sua vez, dizem que três manifestantes foram feridos durante os bombardeios noturnos em Donetsk.
Agência Efe
Transeuntes observam prédio bombardeado em Donetsk
G20
Na reunião do G20 realizada ontem (15/11) em Brisbane, na Austrália, líderes mundiais ameaçaram a Rússia com novas sanções por suas atitudes no leste ucraniano, onde os conflitos já resultaram na morte de mais de 4 mil pessoas.
Na cúpula, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, expressou “máxima preocupação” pelas investidas militares russas na região. “Vamos seguir utilizando todas as ferramentas diplomáticas, incluindo as sanções, à nossa disposição”, alertou Van Rompuy.
As críticas a Moscou foram prosseguidas pelo Reino Unido e EUA. “Nos opomos à agressão da Rússia contra a Ucrânia, que é uma ameaça para o mundo como vimos na espantosa derrubada do (voo) MH17, uma tragédia que acabou com muitas vidas inocentes, entre elas, australianas”, acusou Obama. Já David Cameron, qualificou a ação russa no leste como “inaceitável”.
O presidente russo Vladimir Putin, que chegou na sexta-feira à noite a Brisbane para participar da cúpula, partiu para Moscou ontem à noite antes do fim da reunião. Segundo informações da Agência Efe, Putin alegou ter deixado a cúpula antes do fim por questões de agenda e para poder dormir um pouco antes de voltar ao trabalho na segunda-feira.