Ultradireita ganha espaço no Parlamento chileno e cria problema para o candidato da oposição
Ultradireita ganha espaço no Parlamento chileno e cria problema para o candidato da oposição
A ultradireita é o partido com mais cadeiras na Câmara dos Deputados do Chile. A neopinochetista UDI (União Democrática Independente) obteve 37 assentos na eleição de domingo (13), apesar da derrota de sua figura mais conhecida, o ex-candidato presidencial Joaquín Lavín, que tentava o Senado. Isso provocou tensões no comando de campanha do candidato presidencial conservador Sebástian Piñera, que disputa o segundo turno no próximo dia 17 contra Eduardo Frei, da governista Concertação.
Piñera é da Coligação pela Mudança, bloco de centro-direita formado pela UDI e pela Renovação Nacional (RN). Integrantes da UDI estão insatisfeitos porque consideram que o empresário não deu apoio suficiente a Lavín, que perdeu do candidato da RN, Francisco Chahuán.
“Se Piñera for eleito, ele não vai poder nem pentear o cabelo para o outro lado sem autorização da UDI”, afirma Marta Lagos, diretora do instituto de pesquisas Latinobarômetro, ao Opera Mundi. “Ele não vai conseguir impor nenhum projeto sem o acordo da UDI, já que é o primeiro partido. Isso significa que todos os que sonham com uma direita moderna e liberal estão totalmente equivocados”.
Para a analista política, a UDI é hoje o único partido “sério” da direita, com coerência nas ideias. “Eles se vestem como direita, falam como direita, atuam como direita”, sublinha Lagos, lembrando que a justiça social “nunca foi um objetivo da direita”. “Seria estranho que começasse agora”.
A Coligação pela Mudança terá 58 assentos contra 57 da Concertação, incluindo os três deputados comunistas, que constituem a principal novidade desta eleição: o advogado especialista em direitos humanos Hugo Gutiérrez, o secretário-geral do partido, Lautaro Carmona, e o presidente do partido, Guillermo Teillier.
Há 36 anos, o Partido Comunista não conseguia emplacar representantes por causa do sistema eleitoral binominal, desenhado pela ditadura para favorecer a primeira minoria e excluir forças menores. Dessa vez, os comunistas apoiaram o candidato de esquerda Jorge Arrate nas presidenciais, mas fizeram um acordo com a Concertação no âmbito parlamentar. Isso permitiu acabar com a exclusão dos comunistas, denunciada como antidemocrática por grande parte dos eleitores.
Além disso, haverá três legisladores do Partido Regionalista Independente (PRI), que costumam apoiar a direita, e dois independentes, completando as 120 cadeiras.
Socialistas
Apesar da eleição de Isabel Allende, filha do presidente Salvador Allende (1970-1973), o Partido Socialista terá apenas 11 deputados, o que levou alguns políticos a pedirem a renúncia de Camilo Escalona, o presidente do partido.
“Para triunfar em 17 de janeiro, é importante que alguns deem um passo ao lado, alguns que têm dirigido a Concertação nestes últimos anos, entre os quais o presidente de meu partido. Digo isso com todo respeito porque acredito que isso é um clamor cidadão”, declarou o deputado Fidel Espinoza após reunião dos representantes governistas com a presidente Michelle Bachelet, no palácio presidencial La Moneda.
Marcelo Díaz, o chefe da bancada socialista, reconheceu que “os presidentes dos partidos têm grande responsabilidade” no resultado da eleição, tanto presidencial quanto legislativa. “Neste 13 de dezembro, sofremos uma derrota. A estratégia do comando foi derrotada, perdemos com o pior cenário, com 15 pontos de diferença e com Piñera acima dos 40%”, acrescentou, esperando que surja uma “visão de mudança” para ganhar no segundo turno.
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Candidatos mudam comandos de campanha
Escalona rechaçou qualquer hipótese de renúncia. “Ninguém do Partido Socialista me falou disso”, disse após a reunião do comando político da campanha. Ele afirmou que a Concertação pode recuperar a maioria na Câmara, já que confia na reincorporarão dos dois deputados independentes e na colaboração pontual dos três deputados do PRI.
A chefa de campanha Carolina Tohá tentou acalmar os ânimos. Para ela, não é o momento de pensar sobre os presidentes dos partidos da Concertação. “Não vamos permitir que neste mês a energia se concentre em disputas políticas internas. O que as pessoas querem ver é nossa mensagem para a cidadania”, disse, na saída de uma reunião do comando de campanha de Frei.
Independentes
Nenhum dos candidatos de Marco Enríquez-Ominami, o candidato independente dissidente da Concertação, foi eleito no Congresso. Um dos perdedores é o ex-senador Carlos Ominami, que abandonou a coligação de centro-esquerda para apoiar seu filho adotivo. Os outros são Álvaro Escobar, Marcelo Trivelli e Esteban Valenzuela, três figuras políticas importantes. Este resultado contrastou com o bom desempenho de Ominami, de 36 anos, que obteve 20% dos votos.
Senado
O Senado renovou 18 de suas 38 cadeiras e a distribuição foi equânime: nove cargos para a Concertação e nove para a Coalizão pela Mudança. Isso assegura maioria à
Concertação, que terá 19 assentos contra 16 da direita. Os outros três senadores são independentes.
Ambos os candidatos convocaram os deputados e senadores que se elegeram domingo com o objetivo de estabelecer uma estratégia para o próximo mês, quando os chilenos vão decidir se trazem de volta a direita ao comando do país, o que não ocorre desde a queda de Pinochet, em 1990, ou mantêm a Concertação no poder.
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