Durante os quase 20 anos em que Herberts Cukurs viveu no Brasil, as autoridades produziram grande quantidade de documentos sobre o caso do letão. No Arquivo Público do Estado de São Paulo, estão disponíveis os pedidos do aviador para renovar o porte de armas, depoimentos de judeus que o acusam da morte de cerca de 30 mil pessoas, as opiniões das autoridades brasileiras sobre a situação de Cukurs, entre outros papeis.
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Opera Mundi transcreveu partes da declaração de Max Tukacier, que diz ter sido preso por Cukurs em 15 de julho de 1941.
“Em 1 de Julho de 1941, as tropas alemãs ocuparam a Letônia. Cukurs tornou-se imediatamente uma das personalidade líderes no afamado batalhão-Pirata letão (Perkonkrust) com sede em Riga (…).
Vitor Sion/Opera Mundi
Em 15 de Julho de 1941 fui eu também preso e levado à rua Waldemar, 19. Ali fui lançado ao porão, onde se encontravam um total de cerca de 200 homens e mulheres judeus. Cukurs com seus companheiros (aproximadamente 20 homens) reinavam sobre nós ali. Grupos de dez homens eram escolhidos no porão por Cukurs, e empurrados sob pancadas assassinas até o andar superior da casa. Nós que ficamos no porão ouvíamos como estes eram em cima espancados e fuzilados. Isto se repetia, de 15 ou 20 minutos buscavam-se novos dez homens para fuzilamento no andar superior. Depois de terem sido arrancados cerca de seis tais grupos dentre nós, foi a minha vez. Cukurs com seus comparsas voltou ao porão, e fui empurrado para cima com meu grupo.
Chegamos a um grande salão, em que víamos esparsas peças de roupa e sapatos. Fomos horrivelmente espancados pelos letões. Vi que Cukurs era o dirigente deste grupo. Cukurs participou ativamente destes maus tratos. Como os demais, batia a nós judeus com a coronha de sua arma, na cabeça e onde nos alcançasse. Eu mesmo fui alvo de terríveis pancadas por parte de Cukurs, que me arrancou quase todos os dentes da frente com uma coronhada. Uso agora uma dentadura. (…)
Cukurs chamou um judeu idoso, de barba, a quem ordenou despir-se. Postou este homem nu a poucos metros diante de nós. Ao mesmo tempo, escolheu Cukurs uma moça judia de aproximadamente vinte anos, a quem também ordenou despir-se. Cukurs empurrou a moça para junto do homem nu, e Cukurs obrigou o homem a violentar a moça, isto é, a ter com ela relações sexuais. Já que o judeu idoso não o queria fazer nem o pode conseguir, foi ele alvo de pontapés de Cukurs no ventre. Tendo um assecla de Cukurs lhe murmurado algo no ouvido, ordenou Cukurs ao homem beijar a moça em todo o corpo. Assim, o homem nu teve que beijar a moça nua, em presença de nós todos e sob risadas dos SS letões, no peito, no ventre, no assento, sob os braços, nos pés, e repetir isto sempre de novo durante algum tempo. Era um suplício atroz e um aspecto inumano, considerando-se como estes seres desnudos se sentiam envergonhados e tinham que sofrer estas imundices sob ordem de Cukurs. Quem de nós judeus assistentes virasse o rosto para não ver este espetáculo, ou quem levasse a mão ante os olhos, era espancado por Cukurs com sua coronha até sangrar, até mesmo até a morte. Se mulheres chorassem ou desmaiassem, eram abatidas por Cukurs pessoalmente. Deste modo Cukurs matou 10 a 15 pessoas. Eu fui testemunha deste fato.”
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