Na abertura da reunião da 16ª Cúpula do BRICS nesta quarta-feira (23/10), realizada na cidade de Kazan, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu a formação de uma nova “ordem mundial multipolar” que seja capaz de estimular uma “influência positiva à segurança global e para a resolução dos problemas agudos mundiais”.
“O processo de formação de uma ordem mundial multipolar está em curso, é um processo dinâmico e irreversível”, declarou o líder do Kremlin, acrescentando que o BRICS está “fortalecendo sua autoridade nas questões internacionais”.
A autoridade russa apontou que todos os Estados que compõem o BRICS compartilham dos mesmos valores, ao defender a igualdade, a boa vizinhança e o respeito mútuo, o estabelecimento de altos ideais de amizade e harmonia, a prosperidade e o bem-estar universais.
“Seria justo dizer que o BRICS inclui países soberanos e com ideias semelhantes, representando diferentes continentes, modelos de desenvolvimento, religiões, civilizações e culturas distintas”, disse.
Durante seu pronunciamento, Putin indicou que a estratégia do BRICS, de atender às necessidades da maior parte da comunidade mundial, é importante no momento atual em que “o mundo está passando por mudanças realmente dramáticas”. Portanto, segundo ele, a vantagem do grupo é o enorme potencial político, econômico, científico e demográfico dos participantes.
“Temos nos esforçado para fortalecer o prestígio do BRICS, para aumentar seu papel nos assuntos mundiais e para tratar de questões globais e regionais urgentes”, afirmou.
Por fim, o líder do Kremlin assegurou que o bloco está concentrando seus esforços para garantir a integração “tranquila e mais completa possível” dos novos países participantes na associação.
“Não há dúvida de que seria errado ignorar o interesse sem precedentes dos países do Sul e do Leste Global em fortalecer os contatos com o BRICS. Mais de 30 países já expressaram esse desejo de uma forma ou de outra. Ao mesmo tempo, é necessário encontrar um equilíbrio e evitar que o BRICS reduza sua eficácia”, ressaltou.
Irã pede ajuda para cessar guerras em Gaza e no Líbano
Um dos discursos na cúpula que chamou atenção foi do presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, que pediu aos membros do BRICS que “usem todas as suas capacidades coletivas e individuais” para pôr fim à guerra promovida por Israel em Gaza e no Líbano.
“Peço a todos os membros do influente grupo BRICS que usem todas as suas capacidades coletivas e individuais para acabar com a guerra em Gaza e no Líbano”, disse o mandatário iraniano, durante sua exposição na 16ª Cúpula do BRICS, realizada na cidade de Kazan, na Rússia.
Em sua exposição, Pezeshkian descreveu os conflitos alimentados pelo regime sionista contra palestinos e libaneses como “os mais cruéis e dolorosos”.
Os comentários foram feitos no âmbito em que o Irã intensifica seus esforços diplomáticos para pressionar por um cessar-fogo no Líbano e em Gaza, bem como formas de conter a escalada regional. O próprio país tem se preparado para um ataque retaliatório prometido por Israel depois que Teerã lançou uma barragem de cerca de 200 mísseis balísticos contra bases militares de Tel Aviv, em 1º de outubro.
A ofensiva que deu impulsionou as operações de ocupação israelenses como um todo no Oriente Médio tratou-se de uma resposta ao assassinato de várias lideranças apoiadas pelo Irã, além de um comandante da Guarda Revolucionária.
Vale lembrar que Teerã aderiu formalmente este ano ao BRICS, grupo que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Ainda durante o seu pronunciamento, Pezeshkian destacou a necessidade de esforços coletivos no enfrentamento de sanções ilegais, ao apontar que “milhões de pessoas em dezenas de países de todo o mundo” estão sujeitas a essas medidas que “ferem os direitos humanos”. Nesse sentido, sustentou que o combate às sanções requer a criação de mecanismos conjuntos dentro do BRICS.
O presidente iraniano também defendeu o uso de moedas nacionais nas transações comerciais e econômicas entre os membros do BRICS, vendo como uma possibilidade eficaz de combater o dólar americano e evitar medidas restritivas unilaterais impostas pelos Estados Unidos.
Segundo Pezeshkian, os Estados-membros são os maiores produtores e consumidores de energia, alimentos e outros bens. Por isso, expressou que interpreta o lançamento e o uso de moedas digitais, além da criação de uma base para novas tecnologias financeiras, contemplados nos principais objetivos do BRICS.
O mandatário iraniano também reiterou a prontidão de seu país para uma estreita cooperação com o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), uma instituição-chave nascida do grupo, liderada pela ex-presidente brasileira Dilma Rousseff. Para isso, destacou a posição geograficamente estratégica do Irã, afirmando que o país serve como um centro de trânsito para vários corredores de transporte internacional, incluindo os corredores Norte-Sul e Leste-Oeste.
China defende um BRICS ‘para a paz’
Assim como o Irã, o presidente da China, Xi Jinping, dedicou parte de seu discurso para tratar dos conflitos no Oriente Médio. O mandatário chinês voltou a defender o “fim da matança” por parte de Israel no Líbano e em Gaza. Ao mesmo tempo, também enfatizou a necessidade de frear a guerra na Ucrânia, ao pedir, segundo o Xinhua, que os países-membros construam o BRICS “para a paz” e atuem como “guardiões da segurança comum”.
“A crise na Ucrânia se arrasta. Devemos aderir aos três princípios de ‘não transbordar do campo de batalha, não escalar os combates e não adicionar óleo ao fogo pelas partes relevantes’, de modo a aliviar a situação o mais rápido possível”, disse Xi, na cúpula.
Enquanto isso, o mandatário chinês reiterou a posição de Pequim de “pressionar por um cessar-fogo” contra territórios palestinos e libaneses “o quanto antes”.
“O conflito entre as partes envolvidas está aumentando ainda mais”, disse Xi. “Precisamos que parem com a matança e trabalhem incansavelmente por uma solução abrangente, justa e duradoura da questão palestina”, declarou.
Em relação aos assuntos econômicos, o líder do país asiático pediu que os países do BRICS aprofundem a cooperação financeira e econômica, destacando ser “urgente” uma reforma da arquitetura financeira internacional.
(*) Com Sputnik.