O governo de Nicolás Maduro comparou nesta quinta-feira (24/10) o recente veto do Brasil à sua adesão como membro parceiro no BRICS com “o veto que Bolsonaro aplicou na Venezuela há anos”, classificando que a ação do Itamaraty representa uma “agressão imoral” ao país caribenho e estimula a “política criminosa de sanções” impostas contra seu regime.
“A representação do Ministério das Relações Exteriores Brasileiro (Itamaraty), liderado pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Bolsonaro aplicou Venezuela há anos, reproduzindo ódio, exclusão e intolerância promovida a partir dos centros de poder ocidentais para impedir, por enquanto, a entrada da Pátria dos Bolívar a esta organização, numa ação que constitui uma agressão contra a Venezuela”, afirma a nota.
A nota, que declara “indignação e vergonha” pela postura do governo brasileiro, em nenhum momento menciona o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por outro lado, afirma que o Itamaraty manteve “o pior das políticas de Jair Bolsonaro” ao rechaçar seu ingresso ao grupo econômico. Entretanto, garantiu que nenhuma “manobra” contrária ao país interromperá o “curso da história”.
Venezuela tem adesão vetada
A declaração foi publicada após a negativa à adesão da Venezuela como Estado parceiro do BRICS, durante a 16ª Cúpula do bloco realizada em Kazan, na Rússia. A nova categoria foi criada neste ano e incorporou 13 países que passam a formar parte da entidade, mesmo não sendo membros plenos.
A Venezuela era uma das candidatas a ingressar nessa nova categoria, mas seu pedido foi rechaçado devido a um veto do Brasil. Para que uma candidatura seja aceita, é preciso ter unanimidade entre as nações líderes do agrupamento.
Na nota, o governo de Maduro enfatiza que o regime bolivariano compartilha dos mesmos valores do BRICS, tendo uma perspectiva em construir “um mundo justo e multicêntrico e pluripolar”.
Apesar do rechaço, a Venezuela agradeceu o convite do presidente russo Vladimir Putin, que não deixou de mostrar apoio à entrada do país caribenho no bloco. Após a definição de 13 novos parceiros no BRICS, em coletiva, o líder do Kremlin expressou discordância da posição brasileira na questão, ao afirmar que “sabe o que está acontecendo na Venezuela”.
“A Rússia reconhece que o presidente Maduro venceu as eleições (de julho passado), e venceu de forma justa, formou um governo e desejamos sucesso a esse governo, e ao povo venezuelano”, disse Putin.
“Eu realmente espero que o Brasil e a Venezuela tenham uma reunião bilateral e resolvam suas relações. Conheço o presidente Lula e sei que é um homem muito decente e honesto. Tenho certeza de que é a partir dessa posição, de um ponto de vista objetivo, que ele abordará o tema. Espero que a situação se estabilize”, acrescentou.
Leia a nota do governo da Venezuela na íntegra:
“A República Bolivariana da Venezuela agradece ao Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, ao seu governo e ao heróico povo russo, pelo convite dirigido ao Presidente Nicolás Maduro Moros participará da Cúpula do BRICS+ em Kazan.
A Venezuela possui, não apenas a maior reserva energética do mundo, mas também um padrão de valores, princípios e visão de construir um mundo justo e multicêntrico e pluripolar, tem tido o respaldo e o apoio dos países participantes nesta cimeira para a formalização da sua entrada neste mecanismo de integração.
Mas através de uma ação que contradiz a natureza e postulado do BRICS, a representação do Ministério das Relações Exteriores Brasileiro (Itamaraty), liderado pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Bolsonaro aplicou Venezuela há anos, reproduzindo ódio, exclusão e intolerância promovida a partir dos centros de poder ocidentais para impedir, por enquanto, a entrada da Pátria dos Bolívar a esta organização, numa ação que constitui uma agressão contra a Venezuela e um gesto hostil que aumenta a política criminosa de sanções que foram impostas contra um povo corajoso e revolucionário, como o povo Venezuelano.
A Venezuela agracia o Sul e o Leste globais com sua firmeza em a defesa da autodeterminação e da igualdade soberana de os Estados. Nenhum estratagema ou manobra projetada contra a Venezuela interromperá o curso da história. Um novo mundo nasceu! A Venezuela faz parte deste mundo livre sem hegemonias.
O povo venezuelano sente indignação e vergonha por isso agressão inexplicável e imoral da chancelaria brasileira (Itamaraty), mantendo a pior das políticas de Jair Bolsonaro contra a Revolução Bolivariana fundada por ele Comandante Hugo Chávez.
Esta cimeira histórica para um novo mundo de paz, justiça e o desenvolvimento partilhado tem sido um sucesso retumbante. Parabenizamos o Presidente Putin e o seu governo pela sua extraordinária contribuições, nas palavras de El Libertador Simón Bolívar, para o equilíbrio geral.”