O Itamaraty declarou nesta sexta-feira (01/11) que foi surpreendido pelo “tom ofensivo” usado pela Venezuela em suas recentes declarações e medidas de represália contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo”, afirma o comunicado.
A nota acrescenta que o Brasil “sempre” apreciou o “princípio da não-intervenção”, respeitando a soberania de cada nação. Destaca, nesse sentido, que o interesse do país no processo eleitoral venezuelano decorre especialmente pelo fato de estar em condição de testemunha no Acordo de Barbados.
“O governo brasileiro segue convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo“, conclui o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
O comunicado não adotou um tom “provocativo”, conforme antecipado por Opera Mundi sobre a posição do governo Lula de não querer “escalar” a crise diplomática entre os países. Até quarta-feira (30/10), fontes do governo haviam informado à reportagem que o Itamaraty não geraria nenhuma resposta oficial às medidas tomadas por Caracas.
Na quinta-feira (31/10), a Polícia Nacional da Venezuela publicou, em rede social, uma imagem contendo a silhueta de um homem com traços físicos semelhantes aos do presidente Lula e, ao fundo, a bandeira brasileira. Na foto, escrito: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. A publicação foi deletada após a emissão da nota brasileira.
Recentemente, a Venezuela convocou o embaixador do país em Brasília, Manuel Vadell, para expressar seu descontentamento com as recentes “grosserias” do Brasil, mencionando especificamente Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais. Além disso, também anunciou a convocação do encarregado de negócios brasileiro em Caracas, Flávio Macieira, para prestar esclarecimentos.
De acordo com Caracas, tais medidas decorrem pelo fato do Brasil não ter reconhecido os resultados do pleito de 28 de julho que reelegeram Nicolás Maduro. Além disso, são uma resposta ao veto brasileiro que impediu a adesão da Venezuela como país parceiro do BRICS, no âmbito da 16ª Cúpula do bloco realizada na cidade russa de Kazan.
Leita a nota na íntegra:
“O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais.
A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo.
O Brasil sempre teve muito apreço ao princípio da não-intervenção e respeita plenamente a soberania de cada país e em especial a de seus vizinhos.
O interesse do governo brasileiro sobre o processo eleitoral venezuelano decorre, entre outros fatores, da condição de testemunha dos Acordos de Barbados, para o qual foi convidado, assim como para o acompanhamento do pleito de 28 de julho.
O governo brasileiro segue convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo.”