Raramente uma decisão de asilo político terá sido tomada tão rapidamente no Peru como foi no caso de venezuelano Manuel Rosales. A análise do caso, que em geral demora até três meses na Chancelaria peruana, foi realizada em menos de três dias úteis, no caso do opositor venezuelano.
Rosales que é prefeito de Maracaibo, capital do estado de Zulia, fugiu para Lima há duas semanas para não ter que comparecer a uma audiência marcada para o último dia 20 por um tribunal venezuelano.
A justiça o acusa de enriquecimento ilícito e corrupção na época em que era governador do estado de Zulia, rico em petróleo, entre 2002 e 2004.
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Logo depois de ter descoberto que Rosales estava no Peru, o governo venezuelano pediu à Interpol, policia internacional, que lançasse uma ordem de prisão contra ele.
O chanceler venezuelano Nicolas Maduro anunciou que seu governo esperava um gesto de Lima “em reciprocidade”. Ele fez referência à decisão feita em 2001, de Caracas de extraditar para o Peru Vladimiro Montesinos, antigo chefe de inteligência de Alberto Fujimori.
Protesto
A razão da rapidez da decisão peruana era evitar a incerteza nas relações bilaterais, explicou um diplomata peruano ao Opera Mundi, sob condição de anonimato.
Ele lembrou que um boliviano que pediu asilo em janeiro teve o caso decidido ontem. “Esse é o prazo normal”. Ele avaliou que com Rosales, “o Peru não tinha como rejeitar o pedido. De qualquer maneira, a decisão seria positiva, melhor anunciar rápido”.
Na segunda-feira (27), às onze da noite, um comunicado do Ministério de Relações Exteriores da Venezuela anunciou “em sinal de protesto, o imediato retorno à Caracas, do embaixador em Lima e a suspensão dos tramites para o traslado do embaixador recentemente designado pelo governo do Peru” , além da avaliação integral das relações bilaterais.
O diplomata peruano lembrou que há poucos dias o governo venezuelano tinha aceito o novo representante do Peru. “A Chancelaria decidiu designar um embaixador de carreira e fez voltar o embaixador político que tinha em Caracas, mas agora vamos aguardar o esfriamento do caso para o enviar”.
Ligação com Apra
“O Peru respeita a tradição do asilo, muito importante na América Latina”, acrescentou a fonte. “Além disso, Alan García, o presidente peruano, recebeu asilo territorial na Colômbia em 1992 e o líder histórico do Apra, Haya de la Torre, teve asilo domiciliar no mesmo país”, disse.
O diplomata lembrou que o partido político de Rosales estava ligado a formação política de García, a Apra (Alianza Popular Revolucionaria Americana, fundada no México em 1924), que ganhou as eleições em 2006 no Peru.
Classe trabalhadora
Farid Kahatt, um dos principais analistas internacionais peruanos e professor da Universidade Católica, considera que o asilo não vai ter conseqüências graves na relação bilateral, “mas não ajuda, sabendo que os presidentes voltaram a se falar há pouco”, tempera.
Apesar de controversa, a decisão de atribuir o asilo foi pouco comentada pelos adversários políticos de Alan García. O congressista Isaac Mekler, do Partido Nacionalista do líder da oposição Ollanta Humala reagiu com cautela.
Ele disse que confiava “que o governo do presidente Chávez ia adotar uma posição inteligente e diplomata dando prioridade à estabilidade da classe trabalhadora”.
Mekler, que faz parte da Comissão de Relações Exteriores do Congresso, espera que os atores econômicos “não sejam afetados por um tema político no qual não tiveram intervenção”. Ele enfatizou que Peru exporta cerca de 200 milhões de dólares anuais à Venezuela.
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