Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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A crise no Oriente Médio, a desdolarização e a expansão do bloco foram os principais temas discutidos pela delegação brasileira durante a 16ª Cúpula dos BRICS na cidade russa de Kazan.

A pressão pela não aprovação da Venezuela no grupo de países parceiros do BRICS foi o que mais se destacou na atuação dos representantes brasileiros, que não manteviram nenhum tipo de contato ou mediação com o presidente Nicolás Maduro na Rússia.

Ao ser questionado a respeito de uma possível retomada do diálogo sobre a adesão da Venezuela no encontro do próximo ano, um alto funcionário do Itamaraty disse a Opera Mundi que não é possível prever se haverá essa ampliação anual do grupo. A 17ª Cúpula do BRICS acontecerá no Brasil, em 2025.

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“Precisamos aguardar o término desse ciclo para, eventualmente, ver quem ficou de fora e quem mantém o interesse em ingressar. E isso pode levar algum tempo, não quer dizer que acontecerá necessariamente no ano que vem”, disse a fonte.

Sobre o impacto disso no projeto de integração latino-americana, algo que é defendido tanto pelo Brasil quanto pela Venezuela, o Itamaraty acredita que não haverá constrangimentos, pois o processo de alargamento não envolve só o Brasil. “Existem outros países da região que também têm a legítima aspiração em entrar. E foi isso que a presidência russa fez ao colocar essas condições”, explicou.

Em contrapartida à postura do Brasil, o presidente anfitrião da cúpula, Vladimir Putin, convidou o chefe de Estado venezuelano para uma reunião fora do calendário oficial. Durante o encontro, o mandatário russo chegou a afirmar que Maduro é um “parceiro confiável” e que a Venezuela possui os mesmos “princípios fundamentais” dos países que formam o bloco por também recusar “abordagens neocoloniais”.

Equilíbrio regional

Outro ponto importante que o governo brasileiro diz não ter sido concretizado neste ano, nem no ano passado durante o encontro na África do Sul, foi a inclusão do equilíbrio regional da lista de critérios para a aprovação de novos membros.

“Ano passado não funcionou, por quê? Porque a Argentina, que foi convidada com o governo, mudou e declinou ao longo do processo da Cúpula de Johanesburgo”, explicou ao recordar que, naquele momento, o país sul-americano era governado pelo peronista Alberto Fernandes.

BRICS Info
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“O processo foi até o final do ano. Quando se concluiu e o convite chegou, já era outro destinatário, e Javier Milei recusou a adesão ao bloco. A respeito da pressão que Nicolás Madura pode exercer para que a Venezuela venha a se tornar parte do BRICS, o Itamaraty trata como algo normal e que também pode acontecer com outros países.

Gaza, Líbano e Ucrânia

Nos primeiros dias do evento, o Itamaraty deu prioridade às reuniões em que se discutiu temas relacionados ao genocídio cometido por Israel em Gaza e os ataques contra o Líbano. Segundo apuração feita por Opera Mundi, os representantes brasileiros consideraram que países membros e convidados “têm posições muito claras” em relação ao conflito na região.

Durante seu discurso na reunião de chefes de Estado, o presidente Lula voltou a condenar o massacre ao afirmar que Gaza se tornou o maior cemitério de mulheres e crianças no mundo. O mandatário não esteve presente em Kazan, devido ao acidente doméstico que sofreu no último sábado (19/10), mas participou do encontro por vídeo conferência.

Já a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, por sua sigla em inglês), a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, enfatizou em sua intervenção a palavra “extermínio”, ao afirmar que a escalada do conflito é um “ponto central de nossa preocupação”

Nesta quinta-feira (24/10), último dia da conferência do BRICS, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, voltou a pedir pelo reconhecimento do Estado da Palestina para efetivar a solução de dois Estados e por fim ao conflito no Oriente Médio, e pelo restabelecimento da ajuda humanitária na Faixa de Gaza para socorrer os residentes do território.

Guterres também defendeu o resgate da Resolução 1701, adotada em 2006, que prevê a cessação das hostilidades na fronteira entre o Líbano e Israel e a libertação de todos os reféns para que “as palavras tornem-se ações” efetivas. Ele também citou a Carta da ONU ao pedir pela paz na Ucrânia.

Outro tema que circulou entre os bastidores da 16ª Cúpula dos BRICS foi o acordo de paz sino-brasileiro para a guerra na Ucrânia. Segundo o Itamaraty, houve algumas referências sobre o tema.

O próprio presidente russo, anfitrião do evento, disse considerar as iniciativas desse tipo como positivas. “O que está na mesa é uma chance para conversar. Os russos estão claramente indicando disposição para fazer isso. É uma questão de avaliar as perdas e ganhos, os custos de ir ou não ir. Agora, se o outro lado, no caso a Ucrânia, não quiser, não podemos arbitrar”, avaliou Putin.