A vice-presidente da Argentina, Victoria Villarruel, afirmou nesta terça-feira (27/08) que buscará reabrir processos contra ex-integrantes da guerrilha Montoneros, que atuou no país nos Anos 70, cujos membros foram perseguidos e assassinados durante a última ditadura militar do país (1976-1983).
“Reabriremos todos os casos de vítimas do terrorismo para que a Justiça possa fazer o que deveria ter feito há mais de 20 anos”, anunciou a vice, durante um ato no Senado para homenagear ex-militares que morreram em confrontos com a guerrilha.
O anúncio causou polêmica e agravou a crise interna no partido A Liberdade Avança, sigla fundada por Milei mas que, desde julho, se encontra dividida entre o setor mais leal ao presidente e outro que defende a agenda da vice Villarruel, cujo principal objetivo é a libertação de ex-militares condenados pela Justiça por cometerem violações aos direitos humanos.
A própria Villarruel chegou à política após uma longa carreira como advogada de ex-militares, sendo ela mesma filha de um ex-repressor ditadura, que anos depois foi combatente na Guerra das Malvinas.
Patricia Bullrich
Outro ponto conflitivo na iniciativa anunciada por Villarruel é que uma possível investigação aos Montoneros poderia afetar diretamente uma das ministras mais leais a Milei: Patricia Bullrich, titular da pasta de Segurança Pública.
Os Montoneros foram uma organização guerrilheira peronista que surgiu nos Anos 70 e que se manteve ativa até o fim da última ditadura argentina, em 1983.
Bulrrich foi militantes da Juventude Peronista entre 1974 e 1976. Muitos integrantes dessa organização passaram a formar parte dos Montoneros quando se iniciou a perseguição de opositores ao regime ditatorial, e alguns ex-colegas asseguram que ela esteve presente em reuniões da guerrilha.
A própria Bullrich nega ter feito parte dos Montonero, e afirma que deixou a Argentina no final de 1976 para se exilar, primeiro no Brasil, depois na Espanha e no México.
Contudo, caso seja aberto um processo para investigar ex-integrantes da organização, é provável que o nome da atual ministra da Segurança seja apresentado como uma das possíveis investigadas, o que poderia gerar um constrangimento para o atual governo.
Visita a repressores
O setor do partido governista que apoia sua causa de Villarruel esteve envolvido na polêmica visita realizada em julho passado aos ex-militares Alfredo Astiz, Raúl Guglielminetti, Carlos Suárez Mason e Adolfo Donda, todos eles considerados culpados por sequestros, torturas, assassinatos, desaparecimentos forçados, estupros e roubos de bebês cometidos durante a última ditadura argentina.
A iniciativa foi organizada através de um grupo de whatsapp pelo padre Javier Olivera Ravasi, sacerdote ligado a Villarruel e que, como ela, também é filho de um ex-repressor da ditadura.
O caso voltou à tona dias atrás, após a deputada Lourdes Arrieta revelar conversas do grupo de whatsapp do padre Olivera Ravasi, que mostraram uma articulação entre os parlamentares para escrever um projeto de lei que defenderia a libertação de condenados por delitos contra os direitos humanos.
O projeto teria como objetivo libertar os militares presos com mais de 70 anos, alegando supostas “razões humanitárias”, devido à idade avançada dos mesmos. No entanto, a iniciativa teria sido descartada após a repercussão negativa que a visita dos parlamentares governistas aos repressores teve na imprensa, o que teria afetado a popularidade do presidente Milei.
A revelação das conversas aconteceu após uma reunião da bancada do A Liberdade Avança, no Congresso, na última quinta-feira (22/08), a qual foi pautada pela polêmica relacionada à visita aos repressores, e também pelas derrotas que os governistas vinham acumulando recentemente – como a aprovação de um projeto que reajusta as aposentadorias.
A reunião, segundo o diário Página/12, foi marcada por “gritos que se escutavam do lado de fora da sala fechada”, e após a qual Arrieta denunciou formalmente à Justiça um dos seus colegas de bancada, Nicolás Mayoraz.
De acordo com alguns meios, o vazamento das conversas teria sido uma represália de Arrieta contra seu próprio partido, que teria ficado ao lado de Mayoraz e teria cogitado sua expulsão da legenda após a mencionada reunião – a deputada anunciou, nesta mesma terça-feira, seu desligamento do partido, se antecipando à expulsão.