A visita do ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, ao Brasil provocou reações internas fortes, tanto contrárias como favoráveis. O roteiro do chanceler também inclui Colômbia, Peru e Argentina, onde tentará reforçar as trocas comerciais e os laços de amizade. Ele também pretende contrabalançar a influência do Irã na região, segundo comunicado da chancelaria.
O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, afirmou que o israelense é “fascista” e “racista” em entrevista ao jornal israelense Haaretz. Também disse que “a esquerda brasileira está organizando protestos” contra Lieberman “e contra a política que ele representa”.
Lieberman, chefe do partido de extrema-direita Israel Beiteinu, defende medidas duras contra a minoria árabe de Israel. Sugere redesenhar as fronteiras israelenses para excluir áreas com forte concentração de cidadãos árabes e exigir dos que permanecessem em solo israelense a assinatura de um juramento de lealdade ao país. Cerca de 20% dos sete milhões de cidadãos de Israel são árabes.
Por telefone ao Opera Mundi, Pomar reafirmou as acusações contra Lieberman, mas negou que seja contra a visita, uma vez que o Brasil tem laços com Israel. “Partido é partido e governo é governo. O Brasil recebe aqueles com quem tem relações diplomáticas. Muitos foram contra a visita do ex-presidente George W. Bush em 2007, mas ele foi recebido como qualquer outro chefe de Estado”.
Para o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a visita de Lieberman é bem-vinda, tanto pelas oportunidades comerciais entre os dois países como pela grande comunidade judaica no Brasil. “O país preserva uma posição independente e deve fazer críticas quando houver espaço para elas. Fui contra os ataques a Gaza no começo do ano, mas isso não impede que um importante representante de Israel visite o Brasil”, disse ao Opera Mundi.
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De acordo com o sociólogo e arabista Lejeune Mirhan, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabes de Lisboa, a comunidade árabe condena a visita de Lieberman ao Brasil e esperava uma postura mais firme do governo brasileiro.
“Respeitamos a atitude do governo Lula de recebê-lo, mas lamentamos, pois se trata de uma pessoa de posicionamento claramente racista e fascista, que defendeu o uso de armas químicas e nucleares durante a ofensiva em Gaza. Outros presidentes como Barack Obama e Nicolas Sarkozy não o receberam”, afirmou.
Lieberman foi recepcionado na França pelo chanceler Bernard Kouchner – em 5 de maio – e nos Estados Unidos pela secretária de Estado Hillary Clinton – em 17 de junho.
Segundo o Haaretz, o presidente da Conib (Confederação Israelita do Brasil) e do Hospital Israelita Albert Einstein, Claudio Luiz Lottenberg, celebra a vinda de Lieberman. “Não tivemos a visita de nenhum representante de Israel durante algum tempo e um ambiente ruim foi criado. Agora precisamos recomeçar as relações com uma atitude nova”. A visita de Lieberman à região será a primeira de uma autoridade diplomática de Israel em 22 anos.
Para Lejeune Mirhan, é nítido que um dos objetivos da visita de Lieberman é atrair o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele retribua a visita. “Lula já esteve em quase todos os países árabes, próximos de Israel, mas em seis anos de mandato não esteve lá. Ele [Lieberman] quer tirar o país do isolamento”.
Claudio Lottenberg, que hospedará Lieberman em São Paulo, disse que aconselhará o chanceler israelense a focar as conversas não somente em comércio.
Irã
O Irã, rival de Israel, tem ampliado a presença na região como sócio comercial e aliado político, especialmente em relação à Venezuela – que, como a Bolívia, não tem relações diplomáticas com Israel. Tanto que os presidentes Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad já se encontraram uma dezena de vezes e assinaram 150 acordos comerciais.
E no momento da visita de Lieberman, o embaixador do Irã em Brasília, Mohsen Shaterzadeh, afirmou à Folha de S. Paulo que Ahmadinejad escolheu o Brasil para a primeira visita internacional do segundo mandato, que começa em agosto. Ele disse que a escolha é consequência da crescente relação comercial entre os dois países. O presidente iraniano adiou visita ao Brasil prevista para maio último, às vésperas da eleição presidencial.
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“O curioso é que quando [o presidente iraniano Mahmoud] Ahmadinejad estava com visita marcada ao Brasil em maio, a comunidade judaica foi contra, pelas declarações do iraniano negando a existência do Holocausto. E agora, com a vinda de um fascista?”, questiona Valter Pomar.
Em maio, manifestações simultâneas contrárias a Ahmadinejad aconteceram em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo organizadores, cada uma atraiu cerca de mil pessoas, entre membros da comunidade judaica e da fé bahá'í (perseguida no Irã), evangélicos, homossexuais e grupos de defesa dos direitos humanos e das mulheres. “Não podemos permitir que Ahmadinejad, que já manifestou o desejo de varrer Israel do mapa e negou o Holocausto, seja recebido com honrarias em nosso país”, disse Claudio Lottenberg na época.
Na opinião de Eduardo Azeredo, as circunstâncias envolvendo a visita de Ahmadinejad são diferentes. “Há uma condenação da ONU [Organização das Nações Unidas] contra ele e também vimos recentemente as fortes e condenáveis imagens da repressão a manifestantes no país. Ainda assim, acho que devemos receber Ahmadinejad”.
Lieberman deve se encontrar hoje (21) com um grupo ligado à indústria, líderes da comunidade judaica local e com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Nenhuma manifestação foi agendada, devido à não divulgação da agenda do chanceler.
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