O que Brasil, um país com 188 milhões de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 3,675 trilhões, tem de semelhante à China, segunda maior economia do mundo com um PIB de US$ 6,05 trilhões e a maior população de 1,34 bilhão de habitantes?
Este é o desafio que o fotógrafo alemão Michael Ende, de 52 anos, se lançou ao buscar retratar sem medo o que aproxima e o que afasta o gigante da América do Sul do dragão do Oriente. Na exposição fotográfica “Vizinhos Distantes” no Rio de Janeiro, Ende aborda o que ambos países têm em comum, suas mazelas sociais, aspectos culturais e o espírito de suas populações.
Até o próximo dia 17 de novembro, a Galeria Plano B, em Laranjeiras, no Rio, exibe a exposição de fotografias em que Ende compara imagens tiradas por ele do Brasil e da China. Há 10 anos fotografando o país oriental, Ende também mantém um forte link com o Brasil. Desde 2008, o alemão vive entre o Rio de Janeiro e Beijing desenvolvendo projetos de intercâmbio entre os dois países e organizando ensaios, séries fotográficas e documentários.
Leia abaixo entrevista concedida pelo artista ao Opera Mundi:
O senhor se lançou à aventura de entender o Brasil e a China. O que o motivou para mergulhar nestas duas realidades complexas e completamente diferentes uma da outra?
Ouvi o presidente Lula dizer que Brasil e China são similares. Na ocasião, eu tinha acabado de voltar da China e fiquei muito impressionado! Na verdade, não estava muito interessando em conhecer a Ásia. Eu compartilhava preconceitos comuns: que o povo é servil, que sua aparência amistosa é uma máscara, ou que era melhor não confiar em nenhum deles.
A visita mudou completamente minha concepção sobre a China. A cidade de Kunming tinha cinco milhões de habitantes, era um espaço urbano com prédios arranha-céus, shopping centers que cresceram da noite para o dia. Eu esperava uma pequena e pacata cidade provinciana e me deparei com uma cidade agitada e moderna.
Vi que a afirmação de Lula tinha algo de verdade.
Por que realizar esta exposição fotográfica? Quais olhares, perspectivas e abordagens você pretende passar ao registrar estas duas vivências, especialmente a chinesa?
Em janeiro de 2008, após fazer algumas aulas de mandarim, parti com outros 12 estudantes para uma viagem de quatro semanas em Beijing e acabei ficando por dois anos e meio, entre idas e vindas ao Brasil. Foi aí que comecei meu projeto pessoal de fotografia questionando estes dois vizinhos distantes, tentando descobrir semelhanças e diferenças entre a China e o Brasil.
Michael Ende/Divulgação
O primeiro resultado dessa pesquisa foi a exposição “Vizinhos Distantes” com 10 retratos no Festival de Foto Pingyao (Pingyao Photo Festival) que foi muito bem recebido o que me encorajou para continuar meu trabalho. Fiz sobre e reciclagem e paisagens de lixo.
Brasil e China são vizinhos distantes? De que modo os dois se distanciam?
Os dois são considerados países de rápido crescimento e devem se tornar gigantes neste século. Após dois anos e meio na China, cheguei a algumas conclusões ao observar ambos os países. Os dois são enormes com grandes populações e com potenciais ainda maiores para crescer. Na verdade, os dois países estão crescendo a um ritmo acima da média mundial.
Na China, esta rápida mudança está acontecendo há muitas décadas e não há sinais de que deve reduzir. No Brasil, há muitas altas e baixas ao longo das décadas, período de alta da inflação, escândalos de corrupção em todos os níveis, violência urbana e rural, fases de rápido crescimento econômico e estabilidade social. O governo Lula consolidou este período de estabilidade.
A perspectiva de sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos também ajudaram e muito as mudanças em Beijing e a percepção do mundo em relação aos chineses. Espero que isto também ocorra com o Rio de Janeiro e com o Brasil. Há sinais claros de desenvolvimento positivo neste sentido.
O povo brasileiro é conhecido pela sua amizade e hospitalidade. Os chineses tem uma história completamente diferente nos seus cinco mil anos e especialmente nas últimas seis décadas da “nova China”. São educados para agir em grupos, na família, na escola, nas empresas e na nação, uma pequena peça parte de uma grande engrenagem. Há uma ênfase maior na comunidade do que na individualidade. Isto está mudando com a maior abertura da sociedade chinesa que valoriza muito a educação, a disciplina e a ordem, muito mais que o seu vizinho distante que é o Brasil.
E, por outro lado, em quais aspectos Brasil e China de aproximam?
A China muda muito rapidamente num ritmo muito mais acelerado é um assunto inesgotável pelos próximos 20 a 30 anos. A semelhança mais surpreendente era descobrir que os chineses são um povo alegre, cordial, aberto, hospitaleiro, honesto e confiável, o que me surpreendeu muito. Eu também tinha o preconceito de um povo fechado, indecifrável, onde você nunca sabe o que se passa na cabeça deles. Muito pelo contrário, hoje tenho um profundo respeito e uma grande simpatia pelos chineses. O que ajuda muito, é falar um pouco o chinês, o básico avançado para abrir um sorriso…
Divulgação
Michael Ende com um índio xavante em 1986
A maior diferença é a dedicação ao trabalho, em busca de um bem estar econômico da família, da empresa, da nação. Eles tem esse espírito de um “exército de formigas”. Mas o egoísmo também está avançando por lá, infelizmente. É raro ver um chinês tentando “passar perna” num estrangeiro, não querem gorjeta, fazem questão de ajudar o estrangeiro sem interesses financeiros na maioria das vezes.
SERVIÇO:
Local: Galeria Plano B – Rua das Laranjeiras, 36 A – Laranjeiras
Horário de visitação: De segunda a sexta, das 10h às 20h. Sábados das 10h às 16h
Preço mínimo: R$ 200,00 (foto com moldura confeccionada por adolescentes do CRIAAD (Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente) de Duque de Caxias.
Preço Máximo: R$ 4.000, 00
Curador: Mário Margutti
Marchand: Petruza Portilho
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