Choque e consternação definem as reações iniciais da comunidade judaica ao sucesso do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições estaduais da Turíngia e da Saxônia, no Leste Alemão. Após a vitória eleitoral da sigla de ultradireita, o presidente do Conselho Central dos Judeus, Josef Schuster, alertou para uma ameaça à sociedade livre e tolerante em seu país.
Num artigo de opinião publicado pelo tabloide alemão Bild nesta segunda-feira (02/09), Schuster comparou os resultados da sigla, classificada por autoridades como extremista de direita em ambos os estados, a um soco numa luta de boxe: “A Alemanha está cambaleando. Será que podemos nos recuperar desse golpe?”
Schuster também expressou preocupação por cada vez mais pessoas estarem votando na AfD por convicção política e não como forma de protesto.
No caso da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), que em sua primeira eleição já entrou em ambos os parlamentos estaduais, ele salientou que ainda não se sabe muito sobre a sigla. “Mas, a partir do que sabemos sobre esse novo partido e seus líderes, não dá para deduzirmos muita coisa boa.”
“Nossa sociedade livre não pode sucumbir, especialmente se levarmos em conta [a ameaça do] terrorismo islâmico”, enfatizou o presidente do Conselho Central dos Judeus. “Precisamos de verdades cruas – honestidade e sinceridade – e não pseudo-respostas populistas de partidos radicais.”
Afastamento da cultura política alemã
A presidente da Comunidade Judaica de Munique e da Alta Baviera, Charlotte Knobloch, também disse ver de forma crítica o resultado do pleito. Ela disse existir um afastamento da cultura política tradicional do país e que a Alemanha corre o risco de se tornar um outro país.
Ninguém mais pode falar sobre voto de protesto “ou procurar outras desculpas”, alertou Knobloch, ex-presidente do Conselho Central, sobre a expressiva votação da AfD. “Os numerosos eleitores tomaram sua decisão conscientemente.” Para ela, não apenas as minorias devem agora se perguntar o que esses desdobramentos significam para cada indivíduo.
Knobloch tinha 6 anos quando viu as sinagogas de Munique em chamas e assistiu, impotente, a dois oficiais nazistas levarem embora um amigo de seu pai, em 9 de novembro de 1938, na Noite dos Cristais.
Sobreviventes do Holocausto, por sua vez, descreveram os resultados da AfD nas urnas como “profundamente deprimentes”. Para o vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, Christoph Heubner, o resultado mina a confiança na Alemanha que eles haviam recuperado.
Ele acrescentou que, até agora, era inimaginável que “justamente neste país tantas pessoas confiassem num partido que é mais do que só pintado de marrom [alusão à cor adotada pelos nazistas] e é marginalizado até mesmo por outros partidos de extrema direita na Europa por sua relação com o passado”. Heubner conclamou a maioria a defender a democracia.
Na Saxônia, a AfD obteve 30,6% dos votos e ficou logo atrás da CDU (31,9%), de acordo com os resultados oficiais da eleição estadual. A BSW, por sua vez, recebeu 11,8%. Já na Turíngia, a AfD venceu claramente a eleição estadual, com 32,8%, à frente da CDU, que teve 23,6% dos votos, e da BSW, com 15,8%.