Quando você vai ao supermercado comprar frutas e se depara com o fato de que todas estão podres, o que é melhor: escolher a menos podre ou exigir que o gerente da loja coloque à disposição frutas de boa qualidade?
É este o debate que polariza boa parte da sociedade mexicana em todo o país às vésperas das eleições deste domingo, que renovarão totalmente o Congresso Nacional.
Motivo: o cansaço e a desilusão da população com a classe política mexicana. As razões pelas quais os cidadãos perderam totalmente a esperança nos políticos são várias: o abuso das prerrogativas dos partidos, que em muitos casos se assemelham a empresas familiares que buscam apenas o benefício próprio, e não o de quem os elegeu; escândalos de corrupção em Estados governados pelos três partidos majoritários (PRI, PAN e PRD); e uma profunda e contínua decomposição das instituições.
Somam-se a isso dois fatores muito importantes, que são a enorme onda de violência, que há três anos sacode o país, como parte da guerra lançada pelo presidente Felipe Calderón contra o narcotráfico, com um balanço de mais de 12 mil mortos, e a crise econômica, que deixou quase dois milhões de mexicanos sem emprego.
Forma de protesto
Formadores de opinião de todo o país reconheceram este sentimento de milhares de mexicanos – por que votar em alguém que não os representa, que só busca seu voto e depois se esquece deles e, além disso, traiu sua confiança. Muitos deles lançaram a proposta do voto nulo como forma de protesto.
Denise Dresser, reconhecida cientista política mexicana, explica desta forma a proposta: “Votar no menos pior seria como dizer aos mexicanos que eles não têm direito de almejar algo melhor. Não se trata de desonrar as instituições, e sim de garantir que elas realmente se tornem representativas. Atualmente, temos um sistema eleitoral mal configurado que carece de um ingrediente fundamental para assegurar a representação efetiva: não sabemos quem é o deputado no qual votamos há três anos, e não sabemos porque, depois que ele chega ao poder, nunca mais voltamos a vê-lo”.
Os detratores da ideia argumentam que anular o voto significa deixar que os outros escolham por você e que, abrindo mão deste direito e obrigação constitucional, perde-se a moral para exigir dos governantes uma mudança verdadeira.
Cada vez mais indecisos
O certo é que as últimas pesquisas mostram uma população indecisa que, longe de reafirmar sua intenção de voto, sabe cada vez menos o que fará. Uma sondagem publicada pelo jornal Reforma indica que 15% dos eleitores – cerca de quatro milhões – podem anular o voto. Ao mesmo tempo, o jornal El Universal divulgou uma pesquisa segundo a qual, a apenas quatro dias das eleições, o índice de indecisos aumentou de 21% para 28%. Trata-se de uma mudança atípica, observa o diário, já que, normalmente, à medida que se aproxima o dia da votação, mais eleitores declaram sua preferência.
E embora o pleito de domingo não vá definir o novo presidente do México, estão em jogo espaços muito valiosos: 500 cadeiras da Câmara dos Deputados, seis governadores, 606 prefeitos, 11 assembléias locais e, na capital, Cidade do México, os 16 chefes de delegação (divisão do Distrito Federal) e o Congresso local.
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