O partido republicano conseguiu virar parte do jogo nas eleições desta terça-feira (2/11), com a maior mudança na Câmara dos Representantes desde 1948. Eles mantiveram as suas 178 vagas e conquistaram novas 64 cadeiras, totalizando a maioria com 242 representantes. Os democratas, que atualmente ocupam 255 vagas, passarão a ocupar 193 a partir do dia primeiro de janeiro. No Senado, porém, os democratas mantiveram a maioria, com 49 candidatos eleitos, contra 46 republicanos e 2 independentes.
Analistas entrevistados pelo Opera Mundi apontam que, apesar de terem provocado a eleição de Obama em 2008, uma parte da população o pune pela continuidade da crise. Além disso, apontam que o voto é cada vez menos fiel ao partido e orientado pelas propostas ou pela vontade de punir o atual governo.
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A importante perda em dois estados, Delaware e Connecticut, onde candidatos do movimento radical de extrema direita do Tea Party competiram contra democratas, fez com que os republicanos não retomassem o controle do Senado. Ainda assim, as eleições demonstram um forte retorno do partido da oposição e possíveis problemas para o governo de Barack Obama.
Em uma entrevista coletiva na quarta-feira (3/11), o presidente disse que entende os resultados como uma mensagem pessoal a ele. “Algumas eleições são excitantes, outras nos fazem mais humildes. Para mim, essas eleições significam que eu tenho que fazer um trabalho melhor, assim como todo mundo aqui em Washington. As pessoas estão frustradas com a economia e com a falta de empregos”, afirmou Obama.
De acordo com Steven Brams, analista político da New York University, é normal o partido do governo perder cadeiras nas eleições legislativas na metade do mandato presidencial. “O que é menos usual é ver a Câmara ou o Senado mudando de mãos. Porém os eleitores americanos estão se acostumando com isso. Eles fizeram essa mudança em 1994, durante o governo de Bill Clinton, e também em 2006, durante o governo de George W. Bush”.
O que poderia explicar essa mudança de comportamento na hora de votar é o aumento do número de eleitores independentes, ou seja, que não se sentem ligados a nenhum dos partidos. “Antigamente, as pessoas eram Democratas ou Republicanas. Agora, cada vez mais, vemos que as pessoas votam nas propostas dos candidatos, não no partido”, explica Paul Frymer, PhD em ciências políticas na Universidade de Princeton. “Os eleitores independentes foram os responsáveis pela eleição de Obama em 2008. E são eles que estão dando esta vitória aos Republicanos”, afirma.
O jornal The New York Times diz que Washington agora será uma cidade de dois partidos e dois homens, referindo-se ao futuro líder da Câmara, o Republicano John Boehner. O presidente Obama telefonou a Boehner na terça-feira a noite para parabenizá-lo e dizer que estava pronto para trabalhar com os Republicanos pelo futuro do país. O líder da oposição, porém, no seu primeiro discurso, chamou a reforma sanitária dos Democratas uma “monstruosidade” que precisa ser cancelada.
“Os republicanos que ganharam em 1994 aprenderam muito rapidamente que é mais fácil ser furioso na oposição do que no governo. Eles vão ter que governar agora, então veremos como eles fazem para balancear o orçamento sem aumentar impostos e sem diminuir fundos para programas que eles gostam”, questiona Frymer. O analista Brams, porém, acredita que serão feitas mudanças na reforma sanitária e financeira. “Claramente os democratas e Obama terão que negociar com os Republicanos, e eu não vejo como eles poderão manter a reforma sanitária e a reforma da regulamentação dos bancos intocadas. Eles vão ter que usá-las como moeda para atingir outros objetivos”, explica.
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Brams também acha que, com o tempo, o Tea Party pode acabar dividindo o partido republicano. Ele diz que, como oposição, os radicais ajudaram o partido a conquistar votos, mas agora, como governo, a situação pode ficar mais complexa. “As pessoas acham que somente os Democratas são divididos e fracionados. Mas o partido republicano também é, e essa união que vimos até agora vai acabar quando os radicais fizerem discursos exagerados na Câmara. Caso contrário, eles vão acabar respingando nos outros representantes menos radicais, que temem perder votos nas próximas eleições”.
Os analistas parecem estar de acordo quanto ao efeito que essas eleições terão em uma possível re-eleição de Barack Obama: ela não facilitará as eleições de 2012 para o presidente, mas é muito cedo para determinar que tipo de problemas ele enfrentará. Eles explicam que Bill Clinton esteve na mesma situação em 1994 e conseguiu vencer em 1996. “Dois anos em política é uma eternidade”, diz Frymer.
“A consequência mais grave é que, com uma maioria no Congresso, os republicanos tem a autoridade para investigar mais o presidente. Foi por isso que eles quase conseguiram o Impeachment do presidente Clinton depois do escândalo com a estagiária Mônica Lewinsky. “Obama parece mais ficha limpa, porém eu não me surpreenderia se os Republicanos ficassem muito mais agressivos com investigações a partir de agora”, concorda Brams.
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