O presidente deposto Manuel Zelaya voltou a pisar em território hondurenho no mesmo dia em que o líder revolucionário Simon Bolívar, libertador de vários países da região, completaria 226 anos. Nascido em 24 de julho de 1783, Bolívar tem seu nome e história sempre usados como norteadores do governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado de Zelaya e seu defensor mais enfático na disputa com os golpistas para retomar o poder.
A campanha de Chávez em sua primeira eleição à presidência da Venezuela, em 1998, teve como principal marca a necessidade de se convocar uma Assembléia Constituinte com o intuito de refundar a República. No ano seguinte, os constituintes eleitos – chavistas em sua maioria – elaboraram a nova Constituição, aprovada em referendo popular.
Já em seu preâmbulo, a carta magna fala do “exemplo histórico de nosso Libertador Simón Bolívar” como uma de suas fontes inspiradoras, para no primeiro artigo, gravar a nova denominação do país: República Bolivariana da Venezuela.
Quem vem a ser Simón Bolívar e porque Chávez em seus discursos, que não são poucos nem curtos, o cita com tanta freqüência?
Nascido numa família aristocrata de origem basca, em 1783, em Caracas, Bolívar morou durante sua juventude em países da Europa, onde teve sólida formação científica e cultural, fortemente influenciada pelos ideais do Iluminismo.
Impressionado com os feitos de Napoleão Bonaparte, jurou libertar a América do Sul do jugo espanhol [Juramento do Monte Sacro, em Roma]. Foi o principal líder das lutas e das campanhas militares pela independência das colônias espanholas.
Era um romântico e um idealista com grandes ambições políticas, que por vezes assumia postura de ditador. No entanto, manteve-se sempre mais preocupado em preservar a democracia e assegurar o bem-estar do povo.
Libertador de cinco países do domínio espanhol – Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia – morreu pobre, na Colômbia, odiado pelos inimigos, traído por antigos companheiros e exilado de seu próprio país.
EUA
O maior dos sonhos de Bolívar foi criar a Confederação dos Países Latino-Americanos, para defender a região da exploração espanhola, francesa, inglesa e norte-americana.
Os Estados Unidos tinham servido de modelo, mas ao perceber que o país não parava de intervir com o fim de sabotar a confederação, que acabou não saindo do papel, escreveu em carta de agosto de 1829 que “os Estados Unidos parecem destinados a contaminar a América de misérias em nome da liberdade”. Convém lembrar que a Doutrina Monroe da “a América para os americanos” tinha acabado de ser formalizada, em dezembro de 1823.
O conceito de confederação almejado por Bolívar consistia em que “o Novo Mundo deve estar constituído por nações livres e independentes, unidas entre si por um corpo de leis em comum que regulem seus relacionamentos externos”.
Segunda independência
Guardada a distância de dois séculos, fica evidente que Chávez pretende reproduzir a saga de Bolívar. A Alba – nascida Alternativa e hoje Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – surgiu por inspiração de Chávez e, por que não?, em memória da sonhada Confederação de Bolívar.
Chávez imagina que, para os Estados Unidos, seu principal inimigo, a Doutrina Monroe prossegue com outras roupagens, mas com a mesma ingerência. Não é à toa que repete à exaustão a frase da carta de 1829. O presidente da Venezuela vive apregoando que os países da região devem conquistar agora a sua segunda independência, desta vez definitiva.
Para Chávez trata-se de libertar do imperialismo os mesmos países que Bolívar libertou do colonialismo. Já reuniu para sua confederação bolivariana a própria Venezuela, o Equador e a Bolívia. Faltam a Colômbia de Álvaro Uribe e o Peru de Alan Garcia, com os quais vive às turras.
Chávez como protagonista
É evidente que Chávez quer mais. Pretende conquistar o posto de sucessor da aura de Fidel Castro como o comandante dos movimentos populares de esquerda e das lutas revolucionárias no continente.
Outros foram os heróis libertadores dos países da América Central e do Caribe. No caso particular de Honduras – a bola da vez – cujo herói libertador é Francisco Morazán, Chávez conseguiu atrair para sua aliança bolivariana Manuel Zelaya.
Exatamente hoje, 24 de julho, quando se comemora mais um aniversário do nascimento de Bolívar, Chávez dá mais uma vez mostras de seus desígnios.
Envia o chanceler, Nicolas Maduro, para acompanhar pessoalmente Zelaya na carreata que o levou de volta a Honduras. Não recua diante mesmo da possibilidade de um conflito. Se houver, espera dele sair vitorioso e consolidar sua grande ambição: herdeiro de Simon Bolívar, o Libertador.
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