Eleito a partir de uma plataforma conservadora, baseada na lei e na ordem, Manuel Zelaya, o presidente de Honduras deposto neste domingo (28), provocou o descontentamento de setores-chave como o empresariado e o Exército, ao alinhar as políticas de seu governo a ideias típicas da esquerda.
Na campanha eleitoral de 2005, o então candidato do Partido Liberal se apresentava como um homem de negócios de centro-direita, seguindo a filosofia do partido. No entanto, de acordo com analistas entrevistados pelo Opera Mundi, há cerca de dois anos o político começou a se aproximar de lideranças esquerdistas no continente, como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro.
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“Honduras sempre foi um país muito alinhado com os Estados Unidos e essa relação se aprofundou durante a Guerra Fria. A invasão da Baía dos Porcos, em 1962, foi feita desde Honduras”, lembra Luiz Fernando Ayerbe, historiador e professor do Programa San Tiago Dantas de Relações Internacionais.
“Zelaya é da elite, vem de uma família abastada, só que uma vez que assumiu o poder, passou a ter vínculos mais próximos com a Venezuela e Honduras ingressou na Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) em agosto de 2008, saindo do que era a trajetória histórica do país”, analisa.
O presidente assinou o documento que oficializou o ingresso na Alba na presença de sindicalistas, estudantes, camponeses, indígenas e simpatizantes do Partido Liberal. Foi criticado por vários setores empresariais e políticos.
Políticas sociais
“Há um grande medo em Honduras de que as classes mais pobres tomem o poder e foi por isso que os oposicionistas se voltaram tão energicamente contra Zelaya”, diz Manuel Rojas, cientista político da Flacso (Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais) na Costa Rica, para onde o presidente foi levado após o golpe. Cerca de 60% da população hondurenha vive na pobreza, de acordo com o professor.
“Zelaya quis melhorar a vida daqueles que vivem no interior do país, que precisam de um governo mais voltado ao social, mas o pouco que fez – como o aumento do salário mínimo – provocou grandes estragos em sua reputação entre a elite”.
Outras medidas impopulares consumiram seu capital político. Em maio de 2007, Zelaya ordenou às televisões e rádios do país que transmitissem propaganda governamental durante duas horas por dia, após acusá-los de dar informações injustas sobre seu governo.
Em fevereiro de 2008, Zelaya se mostrou favorável à legalização de algumas drogas como forma de prevenir a onda de violência que o narcotráfico gerara em Honduras, ação repudiada pelos setores mais conservadores.
Apoio
Para Ayerbe, a pressão da comunidade internacional pela volta de Zelaya ao poder, principalmente vinda de países latino-americanos e dos Estados Unidos, é importante, mas dependerá, para ter efeito, da mobilização dos hondurenhos.
“Mecanismos de integração como a OEA (Organização dos Estados Americanos) sempre têm uma participação no âmbito político importante quando os membros passam por uma situação difícil, pois buscam orientar os governos a seguirem os preceitos democráticos. Todavia, a solução para a crise em Honduras, ao que tudo indica, dependerá principalmente das movimentações dos atores internos”, afirma.
Em ocasiões anteriores, como a tentativa de golpe de Estado na Venezuela em abril de 2002, explica Ayerbe, a população e outros setores, como o Exército, repudiaram a ação e o presidente Hugo Chávez voltou ao seu lugar. “Não sei se Zelaya terá um apoio tão maciço. Os setores que o expulsaram devem procurar uma solução permanente, que acalme a população. À medida em que ele não pede a radicalização dos protestos, basicamente desestimula o povo, que pode aos poucos deixar de apóia-lo”.
Trajetória
Zelaya, de 56 anos, se filiou ao Partido Liberal em 1970 como conselheiro departamental do estado de Olancho, mas começou a se concentrar com mais intensidade na atividade política apenas uma década mais tarde.
Três vezes deputado nacional, entre 1985 e 1998, primeiro pelo Movimento Azconista, comandado pelo engenheiro José Azcona Hoyo (presidente de 1986 a 1990), Zelaya foi ministro de Investimento Social durante o governo de Carlos Roberto Reina (1994-1998).
Em 2005, foi eleito presidente vencendo Porfirio Lobo, candidato do então governista Partido Nacional, com 49,9% dos votos contra 46,17%.
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