Conforme indica a contagem dos votos na África do Sul – prevista para ser concluída amanhã (25) –, Jacob Zuma, o líder do CNA (Congresso Nacional Africano), foi eleito com 67% dos votos. Ele é o terceiro presidente negro sul-africano, eleito democraticamente, a assumir desde o fim do “apartheid”, regime de segregação racial que vigorou no país por 42 anos.
Nascido na vila de Nkandla, na província de KwaZulu-Natal, leste da África do Sul, Zuma teve uma criação pobre. O pai, policial por formação, morreu quando ele tinha cinco anos e a mãe trabalhava como empregada doméstica. O menino passava os dias cuidando das cabras do avô. Amigos o ensinaram a ler, uma vez que ele não podia freqüentar a escola.
Zuma se uniu ao CNA na adolescência, quando o partido ainda era um movimento de oposição ao apartheid, e passou uma década na prisão na ilha de Robben, onde o líder sul-africano Nelson Mandela permaneceu detido por 27 anos. Quando o CNA virou partido, Zuma se tornou o responsável pela inteligência do partido.
Agora presidente eleito da África do Sul, caem sobre Zuma dúvidas e questionamentos quanto ao futuro do país, motivados pela incerteza de qual rumo o político dará à economia, bastante fragilizada pela crise econômica mundial.
Zuma é próximo do principal sindicato do país, o Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (Cosatu) e do Partido Comunista e por isso, existe o temor de que o novo presidente se afaste das políticas pró-mercado estabelecidas ao longo dos 15 anos de governo do CNA, exercido primeiro na figura do célebre líder sul-africano Nelson Mandela e depois, com Thabo Mbeki. Atualmente Kgalema Motlanthe dirige o país, após a renúncia de Mbeki em 2008.
Economia
A maioria dos analistas, porém, não espera uma mudança radical na política econômica, especialmente agora que a África do Sul deve entrar pela primeira vez em recessão. Zuma provavelmente focará os esforços em ajudar os mais pobres, como repetiu ao longo da campanha.
“As prioridades de Zuma serão restritas ao país, a África do Sul será menos ativa internacionalmente, exceto para casos com o Zimbábue. A lua de mel de Zuma durará cerca de um ano, mas com a produção industrial caindo, ele terá de lidar com desafios enormes, para promover alívios sociais”, afirma Alex Vines, especialista em África da Chatham House (Instituto Britânico de Relações Internacionais) ao Opera Mundi.
O CNA estabeleceu o único estado de bem-estar do continente, dando benefícios monetários a mais de 12,5 milhões de pessoas. Construiu 2,1 milhões de residências de baixo custo e providenciou energia elétrica e água potável a 80% das moradias no país; em 1996 era um terço do total. No entanto, mais de 30% da população vive com menos de 2 dólares por dia, a criminalidade cresce, o desemprego atinge 21,9% dos sul-africanos, 5 milhões de adultos, em uma população de 49 milhões, são analfabetos e a África do Sul permanece como um dos países mais desiguais no mundo.
“Muito do sucesso de Zuma dependerá de uma rápida recuperação da economia global e os efeitos dela, especialmente no preço do ouro e da platina, já que a África do Sul é extremamente dependente da exportações de commodities. A realização da Copa do Mundo no país, ano que vem, e o dinheiro que entrará por causa do turismo, será uma boa ajuda”, completa.
Os resultados finais só serão conhecidos amanhã, mas tudo indica que o CNA conquistará dois terços da maioria no Parlamento.
O principal partido da oposição, a Aliança Democrática, está em segundo lugar na apuração, com 16% dos votos e provavelmente controlará a província (estado) do Cabo Ocidental, enquanto o Cope (Congresso do Povo), criado apenas quatro meses atrás por dissidentes do CNA, desapontou e conseguiu menos de um décimo dos votos, depois de eleger como líder um bispo metodista não-carismático, com pouca experiência em política nacional.
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