A Itália começou a enviar os primeiros pedidos de prisão preventiva e extradição de torturadores do Cone Sul condenados pelo tribunal de Roma à prisão perpétua pelo assassinato de uma dezena de cidadãos italianos ocorridos nos anos 70/80, no âmbito da Operação Condor.
No último sábado (21/08), a ministra da Justiça, Marta Cartabia, assinou o pedido de extradição de três militares chilenos ligados à primeira onda de terror da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990): o coronel Rafael Francisco Ahumada Valderrama, o suboficial Orlando Moreno Basquez e o brigadeiro Manuel Vasquez Chahuan.
Eles foram condenados em 2020, em segunda instância, pois não apresentaram recurso na Corte de Cassação pela morte e desaparecimento de Juan José Montiglio e Omar Venturelli.
TUDO SOBRE O PROCESSO CONDOR NA ITÁLIA
Os pedidos de extradição foram encaminhados por canais diplomáticos ao Chile somente após os militares terem sido localizados pela Interpol. Em abril passado, a Procuradoria Geral da República italiana havia emitido um pedido para que os três fossem procurados e presos preventivamente. Todavia, por causa dos períodos de lockdown ligados à pandemia do coronavírus, as buscas andaram lentamente.
A Itália não é o primeiro país a pedir a extradição de Rafael Francisco Ahumada Valderrama. Em 2010, Valderrama havia sido condenado pela justiça francesa a 20 anos de prisão pela morte de Georges Klein, assessor do presidente socialista Salvador Allende e outras 3 pessoas. A França pediu sua extradição, mas o Chile negou alegando que os réus – incluindo Valderrama – não tinham tido direito a defesa porque haviam sido processados à revelia.
Desta vez, porém, o Chile não poderá dar essa justificativa, visto que os três foram defendidos por advogados italianos.
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Justiça italiana pediu extradição de torturadores chilenos do Cone Sul
As vítimas dos três chilenos
Juan José Montiglio também era conhecido como Anibal. Tinha 24 anos quando foi morto e teve o corpo explodido pela ditadura chilena. Ele pertencia ao GAP, um grupo de voluntários que fazia a escolta de Salvador Allende.
Estava na Moneda, o palácio presidencial, ao lado de Allende quando o prédio foi bombardeado pelos golpistas, em 11 de setembro de 1973. Foi capturado, torturado e assassinado. Seu corpo foi jogado em uma vala comum, na qual foi detonada uma granada para que os restos dele e de seus companheiros não fossem localizados. Apenas dois fragmentos de ossos foram localizados.
Omar Venturelli era um padre que vivia ao lado dos mapuches no sul do país e, por conta de seu trabalho junto aos agricultores locais, acabou sendo suspenso da igreja. Desapareceu em 25 de setembro de 1973.
Outras 14 condenações no caso Condor
Em julho passado, a Corte de Cassação condenou outros 14 militares (11 do Uruguai e três do Chile). Os juízes da primeira seção criminal rejeitaram os recursos apresentados pelos defensores, acatando o pedido do Procurador-Geral da República, Pietro Gaeta.
Entre os condenados, estava Jorge Nestor Troccoli, o único atualmente residente na Itália e detido no dia seguinte à leitura da sentença. Para três réus bolivianos ligados ao processo, os juízes ordenaram o desmembramento e uma nova audiência com outro júri, pois o atestado de óbito de um deles não havia sido entregue à Corte.
A Condor foi uma rede de colaboração secreta colocada em prática pelas agências de inteligência de oito ditaduras sul-americanas em 1975 para capturar e matar dissidentes políticos que estivessem nos países da região.