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Processo Condor

Operação Condor: Justiça italiana condena ex-presidente do Peru à prisão perpétua

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Francisco Morales Bermúdez foi condenado pelo assassinato de dois militantes ítalos-argentinos ocorrido no âmbito da Operação Condor, em 1980

Janaina Cesar

Roma (Itália)
2022-02-10T16:05:00.000Z

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A Corte de Cassação de Roma, terceira e última instância da Justiça italiana, condenou definitivamente à prisão perpétua o ex-presidente do Peru Francisco Morales Bermúdez (1975-1980) pelo assassinato de dois militantes ítalos-argentinos ocorrido no âmbito da Operação Condor. 

Além de Morales Bermúdez, a decisão condenou o coronel e ex-chefe da Polícia de Inteligência peruana Martín Felipe Martínez Garay, também pelo assassinato dos ativistas.

Na manhã desta quarta-feira (09/02), uma audiência julgava o recurso apresentado pelos réus. Morales Bermúdez, que tem 100 anos, é o único presidente ainda em vida dos países onde a Operação Condor atuou. 

A Condor foi uma rede de colaboração, financiada pelos Estados Unidos, que atuou nos anos 70 e 80 entre as agências de inteligência das ditaduras sul-americanas para trocas de informações e eliminação de dissidentes políticos através de operações conjuntas.

Morales Bermúdez e Martínez Garay foram condenados pelo assassinato e desaparecimento de Lorenzo Vinas e Horacio Domingo Campiglia, em 1980. Os militantes do movimento de esquerda argentino Montoneros foram sequestrados no Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, respectivamente, com a ajuda de agentes da repressão militar brasileira e posteriormente entregues à ditadura argentina. 

Na Argentina, passaram por sessões de tortura na prisão clandestina Campo de Mayo e, desde então, seguem desaparecidos. 

Os peruanos são os últimos condenados do processo que tramitou pelos tribunais romanos, condenando, em julho passado, 14 repressores à prisão perpétua, sendo 11 uruguaios e três chilenos, por crimes de lesa humanidade ligados à Operação Condor.

Em um desmembramento do caso, quatro repressores brasileiros - João Osvaldo Leivas Job, Carlos Alberto Ponzi, Marco Aurélio da Silva e Átila Rohrsetzer - também foram processados, mas o caso foi extinto por conta da morte dos militares durante o andamento do julgamento.

Wikimedia Commons
Ex-presidente do Peru Francisco Morales Bermúdez foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de dois militantes ítalos-argentinos

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Átila foi o último deles, morreu dois meses antes da promulgação da sentença. A Corte extinguiu o caso, mas declarou que "não existiam elementos para absolvê-lo no mérito”. 

Agora, a Justiça da Itália deve pedir a extradição dos peruanos. Em agosto passado, a diplomacia italiana começou a solicitar os primeiros pedidos. "Este é um capítulo importante em busca da verdade sobre o pacto criminoso entre os regimes da América Latina e da justiça, com respeito aos crimes cometidos contra opositores, dissidentes políticos e militantes sindicais na década de 1970 que não podem ser esquecidos. Terrorismo de Estado, nunca mais”, declarou Arturo Salerni, representante de famílias das vítimas, que está viajando pela Argentina e Uruguai com uma comitiva de advogados que participaram ao processo. 

Todas as investigações sobre a Operação Condor na Itália duraram cerca de 15 anos e tiveram início após denúncias apresentadas pelos familiares dos italianos desaparecidos na América do Sul. Opera Mundi foi o único veículo de comunicação brasileiro a acompanhar o julgamento.

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Análise

Patentes na OMC é uma derrota para os países do Sul Global

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Pandemia de covid-19 reativou a debate sobre a quebra de patentes para medicamentos e vacinas. Apesar de sua união em torno do tema, países subdesenvolvidos sofreram uma derrota

Alessandra Monterastelli

Outras Palavras Outras Palavras

2022-07-06T22:35:00.000Z

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No dia 17 de junho, saiu fumaça branca das chaminés da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade, responsável pela regulação de patentes internacionais, anunciou que chegara a uma conclusão sobre as vacinas contra o coronavírus. Tratava-se do pedido de isenção do acordo TRIPS – sigla em inglês para Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Firmado na virada do século, tal compromisso obriga os países-membros da OMC a adotar padrões mais rigorosos de proteção patentária. Consequentemente, encarece o acesso às inovações tecnológicas, inclusive no setor farmacêutico. Mas a decisão final foi amplamente criticada por ativistas da saúde e movimentos populares em todo o mundo, já que a OMC rejeitou a isenção total do TRIPS. 

Em 2020, diante da disseminação do novo coronavírus, África do Sul e Índia protocolaram a proposta de isenção do Acordo, que obteve amplo apoio dos países em desenvolvimento e de baixa renda – com exceção do Brasil. A nova decisão foi saudada pelo Secretariado da OMC e por representantes de países ricos como um resultado sem precedentes, mas ativistas condenam que, na prática, a decisão não atende as necessidades mínimas da maior fatia do mundo. “Houve um esvaziamento da proposta pelos países mais ricos. O texto perdeu totalmente sua força, não trouxe nada novo”, explica Felipe Carvalho, Coordenador Regional da Campanha de Acesso do Médicos Sem Fronteiras ao Outra Saúde.

A conclusão do órgão concedeu uma exceção temporária à restrição das quantidades de vacinas que podem ser exportadas sob licença compulsória; diagnósticos e tratamentos não estão incluídos e devem obedecer ao limite de exportação durante o tempo de licença compulsória – decretada durante emergências sanitárias, como é o caso da pandemia. Além disso, a concessão vale apenas para responder à covid-19 e não tem validade diante de outras crises de saúde. O acordo final não inclui o compartilhamento de segredos comerciais e know-how de fabricação, o que prejudicará a produção de vacinas com tecnologia avançada por países de baixa renda – como é o caso dos imunizantes de RNA.

Carvalho conta que o problema é abordado com frequência em reuniões escpecais da OMS e da ONU.  “Existe um consenso entre especialistas e órgãos multilaterais de que as patentes causam constantes crises de acesso e inovação na saúde”. Em maio, o The Guardian divulgou que a Pfizer lucrou 25,7 bilhões de dólares só no início de 2022 – mais da metade do valor está relacionado à venda de vacinas contra a covid-19. Tim Bierley, ativista do Global Justice Now, denunciou ao jornal britânico que apesar do apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações, a farmacêutica seguia se recusando a compartilhar a tecnologia de produção do imunizante. O diretor da OMS, Tedros Adhanon, afirmou em 2021 que a pandemia estava sendo prolongada por uma “escandalosa desigualdade” diante do acúmulo de doses de imunizantes por países ricos enquanto países pobres não conseguiam avançar em sua meta de vacinação em massa. 

“Desde a criação do acordo TRIPs nós temos um cenário de constantes crises de acesso a medicamentos essenciais”, conta Felipe. Ele relembra o caso emblemático da epidemia de HIV/AIDS, na década de 1990. “Em 1996 surgiu a primeira terapia para a doença. As pessoas pararam de morrer e passaram a conviver com o vírus. Mas essa terapia não chegou nos países onde o cenário era mais grave”, explica. O ano de 1996 foi também quando o acordo TRIPS entrou em vigor, após sua criação em 1994 e preparação em 1995. “A partir daí se criou uma coalizão na sociedade civil, da qual fazemos parte, chamada Movimento de Luta pelo Acesso a Medicamentos. A pergunta era: por que os preços eram tão altos e o tratamento se tornava inacessível para milhões de pessoas? Nos aprofundamos no sistema de patentes e entendemos que o monopólio era a causa”, relembra.

Apesar do TRIPS possuir cláusulas que permitem flexibilizações, elas são de difícil utilização devido a dois fatores principais: sua não-incorporação completa em leis de países-membros e a pressão que as farmacêuticas exercem sobre as decisões da OMC. Na década de 1990, diante da grave situação vivida na África do Sul – país com maior número de mortes pela AIDS na época – o governo então liderado por Nelson Mandela aprovou uma das medidas previstas no TRIPS para importar genéricos. Na ocasião, Mandela sofreu o processo de 39 farmacêuticas que se opuseram à decisão tomada para conter a crise de saúde pública. Apesar da derrota das corporações na justiça, “esse é um exemplo de como essas empresas e seus países-sede tentam barrar as normas legítimas existentes no TRIPS”, exemplifica Carvalho.

A OMC é uma instituição formada por 164 membros e opera com base na tomada de decisões por consenso. “A OMC falhou em fornecer uma isenção. O acordo coloca os lucros à frente das vidas e mostra que o atual regime de propriedade intelectual falha em proteger a saúde e promover a transferência de tecnologia. Essa não-renúncia estabelece um mau precedente para futuras pandemias e continuará a colocar vidas em risco” declarou Lauren Paremoer, médica e integrante do Peoples’ Health Movement na África do Sul. 

A Health Action International, referência no trabalho para expandir o acesso a medicamentos essenciais, argumentou em nota que a decisão da OMC impõe obstáculos ao licenciamento compulsório, uma das poucas flexibilidades existentes no TRIPS, em troca de uma abertura tímida para a facilitação da exportação de vacinas. Outras entidades representantes da sociedade civil já denunciaram a atuação dos países ricos e vêm aumentando a pressão sobre os governos. O objetivo, segundo seus porta-vozes, é que sejam tomadas medidas concretas para desafiar as regras de monopólio farmacêutico da OMC e garantir mais acesso a medicamentos e tecnologias. 

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