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Cena de“Breaking with Old Ideas”, de 1975: uma das poucas obras realizadas na China durante a Revolução Cultural
Quando Diao Yinan venceu o Urso de Ouro e Lou Ye o prêmio de melhor fotografia no Festival de Berlim de 2014, Zhou Tiedong – presidente do órgão oficial China Film Promotion International – anunciou com um tuíte que o cinema tinha entrado na “década chinesa”. Em 2013, as bilheterias da República Popular faturaram mais de 2,6 bilhões de euros, 28% a mais do que o ano anterior. E há quem preveja que o mercado chinês supere o americano até 2020
Segundo Wang Jianlin – fundador e presidente do poderoso grupo Wanda, que investirá mais de seis bilhões de euros na China, na construção dos maiores estúdios de cinema do mundo – esse domínio vai chegar ainda mais cedo. O magnata está convencido de que as bilheterias chinesas superarão as dos Estados Unidos em 2018, e que em 2023 elas já serão o dobro do faturamento no país de Hollywood. Wang diz se guiar por duas ideias fundamentais em seu projeto: o “soft power” e o mercado. Se o primeiro agrada o governo, é principalmente para o mercado que todos olham com interesse.
“São um bilhão e trezentos milhões de pessoas chinesas, e elas são cada vez mais ricas. Quatro mil novos cinemas são inaugurados a cada ano na China”, declarou Wang durante o anúncio de seu projeto. Uma visão compartilhada pelos franceses, que em 2013 promoveram seu cinema na China e chegaram ao ótimo resultado de 5,2 milhões de ingressos vendidos. Até a Itália começou a se mover nesse sentido através da ANICA – Associação Nacional de Indústrias Cinematográficas Audiovisuais e Multimídias – que em junho de 2013 abriu um escritório em Pequim também para facilitar a distribuição de filmes italianos no mercado chinês.
Os Estados Unidos tentam há tempos. Mas o ponto é que somente 34 blockbusters e pouquíssimos filmes independentes foram admitidos no mercado chinês até hoje. E os produtores têm como retorno uma cota muitas vezes inferior a 25% do faturamento das bilheterias. Apesar disso, o investimento deve valer a pena. Frequentemente as versões dos filmes norte-americanos destinadas ao mercado chinês têm cenas a mais ou a menos com relação às versões originais. Uma maneira de agradar o público chinês ou de evitar a censura.
Jonathan Kos-Read
Bastidores do filme “Twins Code”, produção rodada em Guangdong, em 2012: China narrada nas telas
Santo de casa
Mas o verdadeiro ponto de interrogação são os filmes chineses. É como se o governo quisesse manter duas estradas destinadas a não se cruzarem. Os filmes direcionados ao mercado interno não funcionam no exterior. Ano passado, “Lost in Thailand”, uma comédia chinesa que segue a fórmula do sucesso hollywoodiano “Se beber não case”, faturou quase 140 milhões de euros dentro da China. Não teve o mesmo sucesso nos Estados Unidos, onde embolsou somente US$ 43 mil.
Dos 640 filmes produzidos na China em 2013, somente 45 receberam autorização para serem exibidos no exterior. O resultado é um lucro magro, se comparado ao que se fatura dentro de casa: parcos 125 milhões de euros. O governo quer que os produtos chineses sejam universalmente reconhecidos como dignos de valor, mas ao mesmo tempo permanece atento à maneira como a China é narrada nas telas. Mesmo um reconhecimento como um prêmio internacional não é garantia de boa acolhida do lado de cá da grande muralha. Um exemplo? “A Touch of Sin”, a última empreitada do multipremiado diretor Jia Zhangke, que levou o prêmio de melhor roteiro no festival de Cannes em 2013, ainda não recebeu a autorização para ser exibido nas salas chinesas.
Felizmente, o filme “Black Coal, Thin Ice” parece não estar seguindo o mesmo caminho. O diretor Diao Yinan disse à revista “The Economist” que passou oito anos inserindo elementos mais comerciais em sua trama. Esforço que talvez seja recompensado dentro de casa. “Eu inclusive já vi o certificado de aprovação”, declarou, confiante de que seu filme será exibido nas salas chinesas nos próximos meses. Se a história lhe der razão, poderemos de fato concordar com Zhou Tiedong. Também no cinema, estamos entrando na década chinesa.
Tradução Carolina de Assis
Texto originalmente publicado pela China Files, agência editorial que produz serviços jornalísticos cobrindo a cena asiática, principalmente China e Índia.
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