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Israel cria obstáculos para ensino de gramática árabe nas escolas

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Autoridades propõem ensino de "princípios funcionais" do idioma; árabes israelenses veem "tentativa disfarçada de separar os estudantes de sua língua e de sua causa"

Jamal Sweid | Al Akhbar

2014-09-09T09:00:00.000Z

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James Emery

Estudantes do ensino médio da escola Mar Elias, em I'billin, vila árabe no norte de Israel; a gramática árabe é considerada "a cova das notas" pelos alunos  

"A terra, assim como a língua, é herdada”, disse certa vez Mahmoud Darwish, poeta e escritor palestino. Nos territórios ocupados, contudo, a língua é pilhada, tomada, violada e cercada por arame farpado, da mesma maneira que a terra.

O ministério da Educação de Israel recentemente deu mais um golpe nos palestinos vivendo na Palestina ocupada. O ministério anunciou a decisão de suspender o ensino de gramática árabe no ginásio e no ensino médio. A alternativa oferecida pelo ministério são os chamados “princípios funcionais no ensino de gramática”, que, segundo o órgão, vão permitir que os estudantes entendam as funções da gramática com base na interpretação de textos.

A decisão causou preocupação generalizada e apelos para que seja rejeitada. No entanto, o ministério manteve sua posição e emitiu um comunicado explicando a medida e argumentando que o objetivo é “aproximar a língua e seus falantes na era da tecnologia e da explosão da informação”.

Palestinos de vários segmentos, incluindo professores e pais, expressaram sua insatisfação com a decisão, definindo-a como “uma tentativa disfarçada de separar os estudantes de sua língua e, portanto, de seu pertencimento à comunidade e de sua causa”. Eles pediram a realização dos maiores protestos possíveis para forçar o ministério a repelir a medida, que já foi aprovada pelas autoridades.

A decisão foi tomada justamente quando estudantes e universitários da Palestina ocupada enfrentam uma clara dificuldade em gramática e conjugação de verbos. De acordo com especialistas, a deficiência é maior nessa região do que na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Enfrentá-la requer o reforço da gramática no currículo para ajudar os estudantes, em lugar da remoção e substituição sob o pretexto de “avanço e lacuna tecnológica”. Vários especialistas disseram ao Al-Akhbar que a “lacuna tecnológica” alegada por Israel não será resolvida com o cancelamento do currículo, mas com sua modernização.

"Nesse contexto, precisamos procurar meios de fortalecer os laços dos estudantes com a língua e suas regras”, explicou Murad Ali, professor de árabe em Acre. “Os estudantes já enfrentam dificuldades em gramática, embora seja parte do ensino curricular. O que acontecerá quando for suprimida?” Dentro de poucos anos, alunos do ensino médio nos territórios de 1948 serão incapazes de formular adequadamente uma sentença.

zeevveez

Pichação em hebraico e árabe: "Somente quem entende hebraico/árabe pode me entender"

 

Essa previsão, porém, tem sido uma realidade há anos. Sua evidência se baseia no fato de que muitos universitários não têm o domínio mais básico do árabe e cometem vários erros, o que é inadequado em seu nível educacional.

Ibrahim Shehade, um diretor de escola aposentado em Acre, disse que os estudantes receberam bem a decisão do ministério. “Para eles, a gramática árabe é uma das matérias mais difíceis do currículo do idioma. Mas eles não compreendem os riscos futuros”, explicou. “As notas nas matérias de literatura e expressão são comparativamente altas, se comparadas com as de gramática. Alguns alunos acreditam que com a retirada da gramática eles vão melhorar sua média na grade curricular.”

Samer Khoury, de Shefa ‘Amr, concordou, dizendo que “a gramática é a cova das notas” e explicando que tirou nota baixa em árabe por causa da gramática.

Ainda assim, os estudantes não estão completamente confortáveis com a decisão. Alguns acreditam que o alvo é a língua e os laços comuns. Apesar da dificuldade de aprender gramática e conjugação, eles estão interessados em encontrar alternativas para melhorar sua proficiência, “sem que toquem em nosso idioma”.

No Knesset (parlamento israelense) políticos árabes e parlamentares ainda não levantaram a questão por causa do peso de outros temas. No entanto, o parlamentar Mohammed Baraka, membro da Frente Democrática e Partido Comunista, no Knesset, falou à imprensa sobre a decisão. Depois de mencionar as questões da terra, habitação e saúde, ele disse que enfocará mais a questão da gramática.

Uma posição mais direta foi adotada por Masoud Ghanayem, membro do Knesset pela Lista Árabe Unida, que pediu uma audiência sobre o tema. Ele recebeu uma resposta do ministro da Educação afirmando que “a decisão não significa o abandono do ensino da gramática árabe, mas sua valorização”.

"O novo currículo foi criado por supervisores e acadêmicos árabes, em cooperação com a Academia da Língua Árabe em Haifa”, acrescentou o ministro. Seu comunicado jogou luz em uma questão sensível. A maioria dos professores que falou com o Al-Akhbar garantiu que isso é falso. A maioria se recusou a dar seu nome, “por medo de supervisores e altas autoridades”.

A objeção acadêmica mais ousada foi apresentada por Mohammed Khalil, conhecido acadêmico palestino e um dos primeiros a alertar sobre a decisão do ministério. “A questão tem o objetivo claro de fazer com que as escolas dispensem por completo livros de gramática árabe, impondo um currículo em que a gramática seja ensinada espontaneamente”, exclamou.

Khalil não ficou surpreso com a “injusta decisão das autoridades (israelenses)”. No entanto, ele ficou desanimado com “a presença de palestinos árabes no comitê, que concordaram com o novo currículo”. Vários professores que falaram ao Al-Akhbar também mencionaram a questão.

No final, a decisão não se limitará às escolas, já que surge em meio a uma campanha israelense para substituir nomes históricos palestinos por outros em hebraico. Em oposição, palestinos estão se manifestando ativamente para promover os nomes árabes e preservá-los.

“Qual será o impacto dessa medida, se nossos filhos e filhas ignorarem os princípios de sua língua e sua estrutura?”, perguntou Mawan Barieh, universitário que estuda a língua árabe. “Minar um pilar fundamental de qualquer língua conduzirá a seu total colapso. Isso se aplica à gramática e a sua relação com a língua árabe em geral.” Apesar das reações iradas à decisão, a língua está sendo pilhada do mesmo modo que a terra palestina.

 

N.E.: Os palestinos aos quais o autor se refere no texto são os árabes israelenses, palestinos que vivem no território de Israel e têm cidadania israelense.

Tradução: Maria Teresa de Souza

Matéria original publicada no site Al Akhbar, publicação libanesa com foco em notícias e análises sobre países do Oriente Médio.

 

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Política e Economia

Em 1º discurso após posse, Petro promete reforma na política contra as drogas na Colômbia

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Ao lado da espada de Simón Bolívar, novo presidente colombiano disse que a política antidrogas 'fracassou profundamente', afirmando que a 'paz é possível' no país

Redação Opera Mundi

São Paulo (Brasil)
2022-08-07T22:35:00.000Z

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Ao som ovacionado das milhares de pessoas reunidas na Praça Bolívar, em Bogotá, Gustavo Petro realizou seu primeiro discurso neste domingo (07/08) como novo presidente da Colômbia. Petro reafirmou o compromisso de uma reforma na política contra as drogas no país.

"A política contra as drogas fracassou profundamente. A guerra fortaleceu a máfia e debilitou Estados, levando-os a cometerem crimes e evaporou o horizonte da democracia. Chegou o momento de mudar a política antidrogas no mundo para que seja a vida ajudada e não a morte", disse.

Durante seu discurso, Petro pediu que a espada de Simón Bolívar fosse deixada no palco, ao seu lado. Para ele, o objeto significa "toda uma vida, uma existência" que o auxiliou no processo que culminou em sua eleição à Presidência.

Petro disse não querer que a espada esteja "enterrada", que ela seja a "espada do povo". "Chegar aqui implica recorrer uma vida, uma vida imensa que nunca é sozinha. Aqui estão todas a mulheres colombianas que lutam para superar o machismo e construir uma política do amor. As mãos humildes dos operários, dos campesinos, o coração dos trabalhadores que me apoiam sempre quando me sinto débil", declarou.

Segundo o novo mandatário, os colombianos, "muitas vezes", foram "condenados ao impossível e a falta de oportunidades". No entanto, Petro declarou a "todos que estão me escutando" que, agora, "começa nossa segunda oportunidade". 

"Nós ganhamos, vocês ganharam. O esforço de vocês valeu a pena. Agora é hora de mudança, nosso futuro não está escrito e podemos escrever juntos e em paz. Hoje começa a Colômbia do impossível", disse durante a posse, declarando que sua eleição é uma história contra aqueles que não acreditavam, "daqueles que nunca queriam soltar o poder. Porém o fizemos".

Redistribuição de riqueza

Petro afirmou que a "igualdade será possível" na Colômbia, para que a desigualdade e a pobreza não "sejam naturalizadas", já que, segundo o novo presidente, o país é uma das "sociedades mais desiguais em todo o mundo", afirmando ser necessário mudar este paradigma "se queremos ser uma nação e viver em paz". 

Reprodução/ @FranciaMarquezM
Petro e Márquez tomaram posse neste domingo como o primeiro governo de esquerda na Colômbia

"Vamos ser uma Colômbia mais igualitária e com mais oportunidades a todos. A igualdade é possível se formos capazes de gerar riqueza e capazes de distribuí-la. Para isso, é necessário uma reforma tributaria que gere justiça", afirmou durante o discurso.

O presidente reafirmou que seguirá os Acordos de Paz, assinados em 2016, e também as resoluções da Comissão da Verdade em relação à violência no país. Ele declarou que é preciso terminar "para sempre" com os conflitos armados, convocando "todos as pessoas armadas para buscar um caminho que permita a convivência, não importando os conflitos que existam".

"Encontrar soluções através da busca por mais democracia para terminar a violência. Convocamos todos os armados a deixarem as armas, aceitar jurisdições pela paz, a não repetição definitiva da violência, para que a paz seja possível. Precisamos dialogar, nos entender e buscar os caminhos comuns e produzir mudanças. A paz é possível", afirmou.

Posse de Petro

Petro tomou posse neste domingo em uma cerimônia na Praça Bolívar, em Bogotá. Aos 62 anos, ele é o primeiro mandatário de esquerda a assumir o poder na história do país.

O presidente do Senado colombiano, Roy Barreras, foi o encarregado de ler o juramento a Petro, que fala em "cumprir fielmente a Constituição e as leis" do país. Na sequência, a senadora María José Pizarro, filha de Carlos Pizarro assassinado em 1990 e que foi companheiro do agora presidente na guerrilha Movimento 19 de Abril (M-19), entregou a faixa presidencial ao novo chefe de Estado.

Também na posse, a vice-presidente eleita Francia Márquez realizou juramento, que foi lido pelo agora mandatário da Colômbia.

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