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Samuel

Inspirado em Tintim, quadrinho satiriza racismo na África do Sul pós-apartheid

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Em 'Papá em África', o quadrinista sul-africano Anton Kennemeyer bebe na fonte do famoso personagem de Hergé para representar racismo de brancos de origem europeia contra negros africanos de um modo exacerbado e non-sense

Redação

2014-11-20T08:00:00.000Z

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Desde 1992, o quadrinista sul-africano Anton Kennemeyer se dedica a cutucar as feridas abertas pelo apartheid, regime de segregação racial que vigorou em seu país entre os anos de 1948 e 1994. Em “Papa in Afrika”, lançado na África do Sul em 2010, Kennemeyer se inspira visual e tematicamente em "Tintim no Congo", HQ publicada em 1931. A obra do belga Hergé está há décadas no centro de debates sobre a representação de pessoas negras nos quadrinhos por apresentar o país africano e seus habitantes através do ponto de vista do colonizador europeu.

Em sua obra, Kennemeyer faz algo parecido. No entanto, ao representar o racismo de brancos de origem europeia contra negros africanos de um modo exacerbado e non-sense, o quadrinista tece uma crônica ácida da África do Sul atual, que ainda não resolveu a profunda desigualdade simbólica e concreta entre pessoas negras e brancas que nutriu 46 anos de segregação racial oficializada pelo Estado sul-africano.


Capa de "Papá em África", edição portuguesa da obra do sul-africano Anton Kennemeyer
Capa de "Papá em África", edição portuguesa da obra do sul-africano Anton Kennemeyer

O quadrinho de Kennemeyer acaba de ser lançado em Portugal com o título “Papá em África”, pela editora MMMNNNRRRG. Samuel reproduz abaixo, com autorização da editora, páginas do quadrinho e trechos do posfácio da edição portuguesa, escrito pelos editores Marcos Farrajota e Crizzze.

“‘Papá em África’ é uma crítica à dominação racial e colonial que atravessa, ainda hoje, em pleno pós-apartheid, a sociedade sul-africana, mostrando como certas estruturas sobrevivem à destruição dos quadros legais que lhes deram origem. Mas não se enganem, não vão encontrar na obra de Anton caminhos ou sonhos para uma ‘nação arco-íris’; nem é oferecida nenhuma reinvenção do lugar do negro nas histórias em quadrinhos ou alguma espécie de ‘herói’ negro da resistência que pudesse ser ‘voz’ da população negra sul-africana, de que Anton, aliás, na realidade não faz parte nem tem a pretensão de ser.”

“O objetivo central de ‘Papá em África’ é pontapear com escárnio e pontaria certeira a hipocrisia e a (má) consciência da África do Sul branca, num pós-apartheid lobotomizado. Anton sampla e critica corrosivamente o imaginário colonialista e racista, como aquele oferecido pelo autor belga Hergé em ‘Tintim no Congo’ (1931), álbum que Anton admite ser a sua Bíblia visual, onde volta sempre para sacar mais uma imagem ou uma sequência narrativa.”

“Numa entrevista o autor adverte sobre o livro de Hergé: ‘eu penso que não é um bom álbum, é mais direcionado para um público infantil. E é aí que o problema reside para mim. Porque se fosse dirigido para um público adulto, ele funcionaria melhor. Mas porque é para crianças, elas vêem os estereótipos e pensam que esses estereótipos são reais. Eu lia o álbum com a minha filha, quando ela era muito jovem, talvez com dois anos, e a certa altura ela me perguntava: ‘o que este macaco está fazendo aqui?’ e eu lhe dizia: ‘Isso não é um macaco. É uma pessoa negra.’ E ela ficava completamente confusa, não conseguia perceber: ‘estes são os macacos!’”
 

 

“Esta seleção da obra de Anton, quer como autor de histórias em quadrinhos quer como ilustrador, deveria reavivar todos os ‘traumas’ que o branco, seja ele sul-africano, europeu ou português, tem em relação ao negro, fazendo repensar como a relação com esse outro é constitutiva da própria concepção de si mesmo e de como esses espinhos históricos que são a escravatura, a colonização e a segregação racial estão cravados no convívio e interação social, nas relações político-económicas entre ‘Norte e Sul’ e no próprio capitalismo. A crítica à sociedade sul-africana do pós-apartheid cabe que nem uma luva a países ex-colonialistas como o nosso.”

“Será que a África do Sul desmemoriada do pós-apartheid, criticada por Anton, tem alguma semelhança com o Portugal ‘pós-colonial’ que teima em vangloriar-se dos ‘Descobrimentos’ (veja-se o novo museu inaugurado no Porto, ‘World of Discoveries’, mas também os manuais escolares de história) e de uma colonização ‘branda’ (o dito luso-tropicalismo), sem assumir a sua parte na chaga global que é a exploração e subjugação dos países africanos e dos afro-descendentes onde quer que estes nasçam? Não sejamos ingénuos ou hipócritas, Portugal foi o primeiro e maior traficante de escravos africanos no Atlântico, portanto, um dos maiores responsáveis do chamado ‘holocausto africano’; foi dos últimos países europeus a reconhecer a independência das suas colônias em África.”

“Se os portugueses puderam até aqui ‘fechar os olhos’ e ‘fazer ouvidos moucos’ às históricas trapaças portuguesas no Ultramar, eis que com o acelerar da globalização, com o desnorte português e europeu e com a progressiva ascensão a potências mundiais do Brasil (onde o movimento negro e afro-cultural tem peso) e de Angola (onde as chagas da colonização e da guerra são grandes), a história fará rewind e vir-se-á chapar na nossa cara.”

 

Imagens e texto publicados originalmente no site da editora MMMNNNRRRG.

 

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Direitos Humanos

Abbas chama de Holocausto ataques de Israel a palestinos

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Declaração do presidente da Autoridade Nacional Palestina foi feita durante visita a Berlim e causou indignação do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T14:15:00.000Z

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Em visita a Berlim, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, classificou nesta terça-feira (16/08) como "Holocausto" os frequentes ataques de Israel contra os palestinos, provocando indignação do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz.

"Israel cometeu 50 massacres em 50 locais palestinos desde 1947", disse Abbas, em entrevista coletiva ao lado de Scholz. "Cinquenta massacres, cinquenta Holocaustos", acrescentou Abbas.

Scholz acompanhou as declarações com uma expressão petrificada, visivelmente irritado. No entanto, não fez nenhum comentário sobre o assunto durante a coletiva.

A polêmica declaração veio após Abbas ser questionado por um jornalista se pediria desculpas a Israel no 50º aniversário do ataque à equipe olímpica israelense por terroristas palestinos em Munique.

Abbas disse haver pessoas mortas pelo exército israelense todos os dias. "Se queremos continuar cavando no passado, sim, por favor". No entanto, não se pronunciou diretamente sobre o ataque durante os Jogos Olímpicos de 1972, no qual 11 israelenses foram mortos.

Steffen Hebestreit, porta-voz de Scholz, declarou a conferência de imprensa encerrada imediatamente após a fala. A pergunta ao presidente da Autoridade Nacional Palestina já havia sido anunciada como a última da coletiva. Mais tarde, Hebestreit relatou que Scholz ficou indignado com a declaração de Abbas.

Horas depois, o próprio Scholz comentou a polêmica ao jornal alemão Bild. "Especialmente para nós, alemães, qualquer relativização do Holocausto é insuportável e inaceitável", disse. Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de seis milhões de judeus foram assassinados no programa de extermínio promovido pelo regime nazista.

Em 5 de setembro de 1972, um esquadrão terrorista palestino entrou no complexo olímpico de Munique e fez reféns membros da equipe israelense. Onze atletas israelenses e um policial alemão morreram em uma operação fracassada de resgate.

O líder do partido de oposição União Democrata-Cristã (CDU), Friedrich Merz, disse que foi "incompreensível" a forma como Scholz tratou o incidente. Pelo Twitter, Merz afirmou que o chefe de governo deveria ter "claramente contrariado" o presidente da Autoridade Nacional Palestina. O político da CDU Armin Laschet chamou a fala de Abbas de "a pior gafe já ouvida na Chancelaria Federal".

Janine Schmitz/photothek/picture alliance
Abbas fez declaração em coletiva de imprensa na Chancelaria em Berlim

Scholz critica acusações de "apartheid"

Na mesma coletiva, Abbas já havia feito outra declaração polêmica e sido repreendido por Scholz.

O presidente da Autoridade Palestina descreveu a forma como os palestinos são tratados pelo governo israelense como "apartheid", levando Scholz a se distanciar imediatamente dos comentários.

"Quero dizer explicitamente neste momento que não adoto a palavra apartheid e que não acho que seja a maneira correta de descrever a situação", disse Scholz.

Embora no passado a Alemanha tenha manifestado apoio à criação de um eventual Estado Palestino, sob o que é chamado de "solução de dois Estados", Scholz disse nesta terça-feira a repórteres que "não seria o momento de mudar a situação".

O apartheid é a doutrina de separação de grupos populacionais étnicos individuais, como o ocorrido na África do Sul até 1994. É reconhecido internacionalmente como um crime contra a humanidade.

Em 1967, Israel conquistou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã na Guerra dos Seis Dias. A ONU classifica as áreas como ocupadas. Os palestinos as querem para seu próprio estado da Palestina - com Jerusalém Oriental como capital. O processo de paz entre Israel e os palestinos está parado desde 2014.

Polêmica com precedentes

Não é a primeira declaração controversa de Abbas sobre o tema. Em 2018, ele afirmou que os judeus não haviam sofrido historicamente por causa de sua religião, mas por terem sido banqueiros e credores de dinheiro. Abbas disse que os judeus que viviam na Europa sofreram massacres "a cada dez a 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto".

"Dizem que o ódio contra os judeus não foi por causa de sua religião, foi por causa de sua função social. Então, a questão judaica que se espalhou contra os judeus em toda a Europa não foi por causa de sua religião, mas por causa de agiotagem e dos bancos", disse Abbas na época. Dias depois, ele se desculpou pelas declarações antissemitas.

Abbas obteve um doutorado em História no Instituto de Orientalismo de Moscou, em 1982, na então União Soviética. Sua dissertação, intitulada A relação secreta entre o nazismo e o movimento sionista, atraiu críticas generalizadas de grupos judaicos, que o acusaram de negação do Holocausto. Em 2014, ele se defendeu das acusações de ser antissemita ao afirmar que o Holocausto foi "o pior crime da história moderna".

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